sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

rapto

O dia tinha estado esplêndido. Durante toda a manhã o céu tinha-se coberto todo ele de nuvens e frio, com um pequeno decote brilhante; com esse sol, misterioso e que não havia meio de aquecer, lembrava-me a imagem de uma jovem senhora, num robe branco, rendilhado e transparente, que deixa passar uma névoa elegante e sensual da riqueza natural e imediata.
Era agora final da tarde e o céu preferia recolher aquele toque suave de bom tempo de Inverno. Agora escurecia, restando apenas a neblina e a causa do robe da senhora. Estava eu ora em profunda meditação, no relvado do parque, quando um zum-zum longínquo começou a tentar-me. Estranho murmurar esse, que nem era humano, nem tecnológico. Não vendo do que se tratava, tal era a minha impotência do sensível, nada mais fiz. Retomei a contemplar o chão macio e húmido, vagueando na reflexão da psíquis. O "zum-zum" intensificava-se, mas era agora cada vez menos digno e (por isso mais longínquo) da minha atenção. Queria concentrar-me, chegar a uma conclusão. Ora! Era, afinal, para isso a que estava destinada; a interrogar a minha consciência e a fazê-la responder a todas as perguntas, até mesmo - e principalmente essas - àquelas que são tão fora da prática que as pessoas, ignorando a sua utilidade, costumam ridicularizar ou abandonar. Mas e esse barulho, cada vez mais perturbador, que não findava? Irra! Fez-me voltar os olhos aos céus e neles focar o interesse. O vento era cada vez mais forte, como que provocado, dando uma sensação de helicóptero a sobrevoar-me; por outro lado, nunca tinha ouvido um único transporte aéreo soar daquela forma, a menos que agora também os frigoríficos voassem! Dadas todas estas inovações tecnológicas e a rapidez a que eram substituídas por novas... não me admirava de todo.
Um vulto escuro e oval, cada vez menos indistinto, aproximava-se. Arregalei bem os olhos. Não podia ser!... Depressa, tenho de me esconder! Não é possível!... Como?! Não pode..., pensei. Felizmente, tinha rochedos por perto. Abrigado nos pedregulhos, esperava impaciente e nervosamente que aquilo saísse dali. Não era verdade... não podia! E que barulho ensurdecedor!
Uma porta abriu-se e um foco abateu-se sobre mim. Tal era o meu pânico que gritei com todas as forças que tinha, entre lágrimas; de tal modo que eu própria acordei.

É o que dá ouvir este tipo de músicas antes de adormecer... ._.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Marcelo Marrone: Beber, Cair e Levantar

O vídeo mais engraçado que já alguma vez vi, sem qualquer exagero. Eu chorei de tanto rir. É o cúmulo.


Lembra-me alguém...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

At-Tambur: Chotiça Swingada

Eu juro que me tenho andado a controlar no que toca a publicar exclusivamente músicas, mas esta é demasiado linda para não partilhar.


Permitem-me que chore de emoção?

domingo, 14 de novembro de 2010

afinal, ainda se comem uns aos outros...

É lícito afirmar que os homens continuam a aproveitar-se uns dos outros hoje em dia.De facto, as pessoas só chegam (em sociedade) longe quando têm por intermédio o detrimento de outras pessoas. Desta forma, para que alguém obtenha um cargo de sucesso não lhe basta apenas que trabalhe e estude para lá chegar (e isto muitas vezes tem um peso muito pequeno), mas tem também de ter contactos que lhe permitam fornecer uma cunha, o que, para além de inválido, é injusto, pois desvaloriza quem trabalha e o seu mérito. Assim, os grandes (os ricos, poderosos e bem-sucedidos) enriquecem à custa dos pequenos, que trabalham desenfreadamente para terem o que querem, enquanto que os que têm realmente o que querem nada fazem para o ter, acentuando a desigualdade e injustiça social e fazendo os pequenos depender dos grandes. Ora, uma vez que este cenário está montado, nota-se em que medida se agrava, pois, dependendo os pequenos dos grandes, os segundos têm a oportunidade (a qual não deixam de aproveitar) de controlar, manipular e esmagar (até onde for possível e desejado) os primeiros, acabando estes sempre por ser comidos. O pior é que tudo isto é mais do que possível: tudo isto, na verdade, é o que se vê acontecer, em todos os casos, para infelicidade dos pequenos, que não concretizam as suas ambições, e dos grandes, que não sabem o valor de tudo o que os rodeia.


 Os Peixes Grandes Comem Os Peixes Pequenos, por Pieter van der Bruegel


Ilustre-se esta ideia com um dos inúmeros exemplos reais disponíveis. Como é sabido, existem escolas nas redondezas que foram criadas pelo investimento de certos indivíduos e a criação de escolas gera empregos: é por isto que não só o fundador da escola, mas também a sua esposa, os seus três filhos, a sua nora, assim como amigos da família com qualificações duvidosas não estão no desemprego.
Contudo, é verdade que a utilização de cunhas constitui a única forma de realizar os sonhos de alguém, que tanto os deseja realizar e, não os realizando, cai na frustração pessoal e no espezinhamento social.
Saliente-se, porém, que uma política de "salve-se quem puder" é incapaz e insuficiente para cumprir a sua função: organizar os indivíduos duma nação de modo a satisfazer as suas necessidades. Para validar a corrupção, a fraude, o favoritismo e a desigualdade, a política não existe, pois assim não passa de uma anarquia ou (pior!) oligarquia.
Assim, conclui-se que os homens, apesar das críticas que na História lhes foram dedicadas, continuam a enriquecer através da injustiça e do abuso social, pessoal e moral.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

mais maturidade, mais desconfiança


A palavra de uma criança, embora honesta e verdadeira, tem pouco valor para aqueles que já não sabem ouvir. (Dumbledore)

Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

apenas memórias

Por entre os corredores profissionais, há jovens que vivem - de forma natural ou propositada - histórias, por si próprios construídas - lenta ou rapidamente. Mas isso é no presente. No futuro, apenas restarão as memórias das pegadas esquecidas e dos caminhos lembrados, daqueles que os traçaram.
Tal como eles, nós também preenchemos as nossas vidas de forma mais ou menos natural. Também nós conversámos no topo das escadas, enquanto a autoridade não vinha, e marcámos o chão com as oscilações dos nossos corpos e escondemos nas paredes a construção ingénua do carinho. E quando o espaço está menos habitado, ainda vejo o teu corpo desenvolvido, de homem, com camisola branca e calças de ganga azuis, erguer os cabelos castanhos e desalinhados com um sorriso ligeiro, sentado no chão, encostado à parede. Por algum motivo, por mais que não sorrisses, as feições do teu rosto transmitiam-me alegria, pureza e tranquilidade. Era reconfortante olhar-te.
No jardim, ainda vejo o teu casaco cinzento a revestir um braço que pousa firmemente nos meus ombros. E por mais que o nosso amigo nos entretesse com entusiasmo, a calma reinava em mim, e por mais que ele falasse, apenas os teus pensamentos inexpressados importavam para mim. O vento rangia nas nossas faces e tu seguravas-me firmemente, e isso bastava-me para ser feliz.
Ainda te vejo rodeado de amigos a tomar o pequeno-almoço e a partilhar maluqueiras (coisas de rapazes...) e isso amendrontar-me, apesar de também eles gostarem de mim. Ainda sinto o nervosismo de te falar, o desejo de fingir que não te vi. Ainda me lembro de te ver observar-me, divertido, com os meus amigos. Também me lembro de almoçar contigo, assim como me lembro de te acompanhar até à sala, através da chuva, e como me lembro, também, dos inúmeros abraços que insistias em dar-me. Contudo, a lembrança que mais prazer e dor me provoca, em simultâneo, é a de te ter no meu colo, sentado, no jardim, pois isso lembra-me também de nunca mais te poder ver, falar ou tocar.
Tal como nós, eles reviverão a sua juventude louca e intensa como parte do passado. Alguns manterão o contacto, outros separar-se-ão, mas as memórias colectivas, essas não podem ser apagadas. Felizmente, já me mentalizei de serem apenas memórias e, por isso, não me quero prender a elas ou alongá-las. Apesar disso me custar, sei que não devo nem vale a pena voltar atrás. Os bancos, as paredes, as escadas, o chão ou o jardim? Esses continuarão no mesmo sítio, a preservar lembranças e a criar novas histórias.

a ilusão da indução

Penso que não nos devemos habituar a adivinhar-nos mutuamente o pensamento, antecipando as palavras que ainda estão por proferir; importa que tu desenvolvas livremente os teus raciocínios segundo os princípios que tu próprio estabeleceste. (Sócrates)

Platão; Górgias

sábado, 30 de outubro de 2010

à descoberta da verdade

Não sei o que pensar de ti.
Conhecer-te foi fantástico. Não me lembro de ter gostado tanto de uma pessoa num primeiro dia. Contudo, sabia dentro de mim que isso não era uma amizade. Podia vir a sê-lo, mas ainda não o era.
Receava-te e ansiava-te, em simultâneo. Sentimento estranho. Abrias-te comigo, consideravas-me muito importante para ti e eu não negava gostar de ti, mas também não conseguia dizer-to. Talvez porque não estivesse certa disso.
E todos te gozavam. E contra todos lutava.
E tu mentias. E tu trapaceavas. E tu tinhas ciúmes. E tu não suportavas ver-me aproximar dele. Não suportavas saber que por ele tudo fazias e ele começava a adorar-me, a ter brincadeiras comigo que contigo não tinha - não porque lhe incomodasse brincar contigo, mas porque não tinha esse desejo natural, espontâneo -, sem que alguma vez um de nós tivesse segundas intenções.
E todos te gozavam. E eu não conseguia (ou não queria) acreditar. E contra todos lutava. E tu continuavas a mentir.
Lembro-me ainda de quando caí em mim e ganhei-te nojo. Era repugnante eu partilhar contigo o que era puro e bom, e tu virares-me as costas como se alguém te tivesse atraiçoado profundamente. Era mais repugnante ainda saber que isso fazia-te odiar-me, estares realmente furiosa, mas quando eu me dirigia a ti, inocentemente preocupada e surpreendida, fingires-me a maior naturalidade, uma alegria inexplicável. Falsa.
Lembro-me, também, de ter prometido que não te falava mais. Metias-me nojo, inspiravas-me raiva, traição. Não quis, também, incomodar-me e por isso deixei simplesmente de me ralar. E tu suplicaste-me a verdade. E eu gritei-ta. E tu choraste. E eu virei-te costas.
Não sei, porém, como voltei a confiar tanto em ti. Com o tempo, comecei a entrar melhor em ti, a compreender-te, por mais que não concordasse contigo. Tu estavas tão fraca...
Eu chorei por ti, sim. Duas vezes. Numa, porque não suportava ver-te partir, derrotada, rasgada por completo... Noutra, porque tu domaste a besta, inspirada em mim, na minha força e na minha coragem, quando esta te tentou esventrar.
Agora tenho vontade de voltar a deixar-te, de parar de me importar contigo. Estou cansada de ver-te exibir a tua própria vida em porcarias de internet e redes sociais. Estou farta de ver-te ir ao encontro do que os outros diziam. Serás assim tão ingénua ou, de facto, querer atrair atenção? Já és crescida o suficiente para parar de exagerar, de criar dramas. Estou farta de, um dia para o outro, ver-te publicar que és louca por ele, que o amas muito, com as palavras mais doces (eu diria mesmo as mais fantasiosas e irreais, pouco espontâneas), pouco antes de me confessares que descobres que afinal não o amavas e que te sentias fortemente atraída por outros homens, que também não dista muito de quando voltaste a dizer que o amavas eternamente, sem me dar explicações, fingindo-te despercebida, que, por sua vez, foi pouco antes de publicares que não querias nada com ninguém, de ser injusta para quem te é sincero e de assumires que preferias que te tivesse comentado com toda a gente nas costas do que ter-to dito a ti. O que é mais incrível? Um dia após tanta raiva, tanta estupidez, tanto exagero, publicas algo oposto: hoje afirmas para todos verem que há quase dois meses, a partir de uma data fixa, te apaixonaste à primeira vista.
Terei eu razão para duvidar de ti de novo ou não?

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

singularidade

Não me digas o que fazer: diz-me que eu posso fazer algo.
Não me dês definições: dá-me o desejo de as fazer. Não me faças ser alguém na vida: faz-me entender que posso ser alguém na vida. Não me dês aquilo que nunca te deram: dá-me aquilo que só tu me podes dar. Do mesmo modo, não me dês aquilo que eu posso encontrar sozinho. Não me dês o que desejo, nem me proíbas de o ter: faz-me tê-lo depois de o merecer. Faz-me lutar, mas não me dês a vitória, mas não permitas que eu vá de encontro a esta. Mostra-me que sou capaz. Mostra-me que posso ser grande e inteligente e verdadeiro e que não devo deixar que me espezinhem ou seduzam. Faz-me ser individual e colectivo, em simultâneo. Não me faças, contudo, ser egoísta e massivo. Faz-me antes ter pensamento próprio e saber que, em união, podemos fazer a diferença, para melhor. Faz-me entender que as manifestações são importantes e que não tenho de acarretar ordens que vão contra quem julgo ser, nem deixes que aceite sequer o que é bom sem que reflicta acerca disso. Faz-me entender que não sou inútil e que todos podemos ser muito bons e importantes, que o bom não tem que ser atribuído por sorte. Deixa que seja eu a descobrir-me e ao mundo, deixa que explore a vida.
Não me dês conteúdos, faz-me criar formas. Já tive de aceitar ficar aqui dentro tanto tempo... permite-me que seja eu quem agora me governe!

Isto é o que o grito de um filósofo recém-nascido representa.

sábado, 23 de outubro de 2010

obediência cega

POETA: Você não tem medo de si?
2.º AMIGO (Prontamente): Não.
POETA (Para o 1.º AMIGO): E você?
1.º AMIGO: (Reflecte um momento, de olhos erguidos, diz calmo): Não. Creio que não.
POETA (Pausa): São felizes. Se estão convencidos disso, são felizes. Talvez não queiram saber se estão convencidos. E são felizes também. Pelo menos estão salvos. (...)
1.º AMIGO: Quando estudava no liceu, só discutia uma vez as fórmulas matemáticas. Depois, era assunto arrumado. Servia-me delas, não hesitava. Se as demonstrávamos outra vez, era só para sabermos todos que não havia razão para hesitar. Mas você gosta de hesitar. (...) Ter um pé no céu e outro no inferno.
POETA (Recostando-se de novo): É isso. São homens de acção. Não entendem. (...) A acção endureceu-os. Cada acto é um bloco de cimento. Está ali, presente, definitivo, como uma punhalada. Ninguém pode remediá-lo. (Para o 1.º AMIGO): Eu penso, hem? Penso. Discuto comigo. Vejo prós e contras, verdades inteiras e meias-verdades. Eu. Tenho medo de agir, sim. Mas sou herói por isso. E humano. Toda a ideia é discutível. Mais ou menos discutível. (...) Penso em você. (...) Porque você há-de ter dúvidas, há-de sofrer. (...)
1.º AMIGO (Para o POETA): Entendo-o. A gente entende-o. Todos duvidámos para compreender bem. Simplesmente, porque se espera depois? Não há um problema de razão. Há é um problema de renúncia. De coragem.
POETA: De renúncia, hem? De coragem? Coragem é confessar a limitação na praça pública. Cobarde é você: esmaga-se e obedece.
1.º AMIGO: E obedeço. Exacto.
POETA: Em nome de quê?
1.º AMIGO: Não sei bem, poeta amigo. (...)
POETA: (Pausa) Você obedece. É isso. Custa-lhe assumir pessoalmente a responsabilidade do que faz e pensa. Tem os princípios. São cómodos os princípios. O custoso, em todo o acto estúpido, é arranjar princípios que o justifiquem. Primeiro, inventar o Deus e dar-lhe pulso livre. O resto é fácil. Não quero. O meu Deus sou eu.

Vergílio Ferreira; Redenção

domingo, 17 de outubro de 2010

Fergie vs. Axl


Análise:
  1. A Fergie nunca se veste daquela forma. Possivelmente, nunca voltará a vestir-se. Utilizou aquela roupa porque se sentia excluída. Ou seja, vestiu-se daquela forma porque se sentia inferior aos outros. Demonstra falta de originalidade e confiança.
  2. A Fergie não costuma andar em marcha à volta do microfone. Quem costumava fazer isso era o vocalista original da banda, o Axl. Ela também não segura o microfone nem se expressa gestualmente daquela forma. Ou seja, está a tentar aquilo que é muito próprio do Axl.
  3. Quando ela não está a fazer as coisas que só o Axl fazia, está a abanar o rabo de forma sensual, ou a esfregar-se no Slash. Demonstra que é uma puta e que só quer é pila.
  4. A voz dela é bastante bonita, mas nesta música tenta imitar a do Axl. Estraga tudo, pois se ela cantasse de acordo com aquilo que é dela, soaria muito melhor e eu até era capaz de achar uma interpretação interessante. O pior é que não consegue imitá-lo e soa terrivelmente mal.
Prova real:
A versão de cima tem a Fergie a cantar, em 2008. Aqui fica a versão original, com o Axl a cantá-la, vinte anos antes.


Conclusão:
Ridículo, ridículo e, uma vez mais, ridículo.
Se o Slash queria provar ao Axl que está muito bem sem ele, ao menos que arranjasse alguém mais original.

sábado, 16 de outubro de 2010

I cannot stop myself

Não está perfeito, mas encantou-me, ao tentar acompanhar os movimentos do arco e do corpo da rapariga com os olhos.


I need your discipline... I need your help! I need your discipline, because once I start I cannot help myself!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

intelectualmente livre

O mais importante de tudo: ser intelectualmente livre. Há alguma coisa melhor?
Emília Infante. 

E agora pergunto-me eu: conseguirão, alguma vez, os argumentos mais fortes ser capazes de instruir as pessoas disto, a ponto de aceitar quem é diferente e intelectualmente livre, deixando estes de ser uma minoria?

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

o sexo do cérebro

Há muito tempo que me venho a debater sobre uma questão que me confundia imenso:

Por que são as raparigas, de forma maioritariamente esmagadora, muito sensíveis e delicadas, "femininas"?

Sempre tinha achado que era uma questão de influência social. Para mim, as raparigas em geral tendem a ganhar os hábitos das mães, os hábitos "cor-de-rosa", o mundo das princesas, das Barbies, da fantasia, do sentimento.
Enquanto eu já tenha também sido um pouco assim, não me considerava uma rapariga típica. Eu sempre fui - e tenho vindo a sê-lo cada vez mais - menos emocional do que o normal, sempre fui mais lógica, mais racional, mais universal, sempre desejei separar o "coração" - como se o coração sentisse ou pensasse!... - do cérebro. Isto tornou-me numa pessoa inteligente, reconheço-o, e mais forte. Enquanto que as outras raparigas choravam com muita facilidade, ver-me chorar a mim era uma raridade tremenda. Eram acontecimentos que se contavam, em anos, pelos anos. Entenda-se que isto não tem a ver com uma vida facilitada - muito pelo contrário! -, pois sempre cri - e continuo a crer, mas agora apenas em parte - que isso se devia (totalmente) à forma como fui educada. Fui educada dentro de um "regime" muito disciplinar, exigente, rigoroso, frio. Não nego a existência de amor, mas, enquanto que o meu avô não era de expressar emoções carinhosas, a minha avó dava-me muito amor, apesar de ela ter sido sempre, também, bastante severa.
No entanto, ultimamente, tenho vindo a ficar mais sensível. Agora, entende-se que seja devido a um acréscimo exagerado de dificuldades, que me têm obrigado a crescer ainda mais depressa do que tenho crescido (não será difícil entender que, desde cedo, comecei a mostrar bastante mais maturidade do que o normal à minha idade), mas não se pode dar essa justificação para o facto de me sentir mais confortável ao expressar-me, de estar mais emotiva, mais delicada. Mais mulher.
Comecei, então, a interrogar-me se estaria absolutamente correcta. Afinal, os meus conhecimentos científicos não são por aí além... Interroguei-me, durante meses e meses, de forma consistente, se a sensibilidade teria alguma coisa a ver com a genética. Perguntei a diversas pessoas, nenhuma me soube responder adequadamente. Limitavam-se a admirar como poderia eu chegar a um problema daqueles, como poderia ter interesse por algo assim. Salientaram como era, de facto, mais madura, mas ninguém me deu uma resposta: todos aparentavam estar talvez ainda mais interrogados e confusos sobre a questão, apesar de terem em cima mais trinta, quarenta anos do que eu.

Agora, ao acaso, encontrei um artigo científico que me dá a resposta à minha questão.
O nosso cérebro, independentemente do nosso sexo biológico, pode ser feminino ou masculino, tendo em conta a qualidade e quantidade hormonal que estava presente no ventre das nossas progenitoras, quando estávamos dentro do mesmo, podendo esta diferença sexual ser explicada pela evolução histórica do Homem. Os valores sexuais variam entre 1 e 20, sendo mais masculino quanto mais reduzido for e mais feminino quanto mais elevado for.

Segue abaixo uma hiperligação que explica, de forma mais detalhada, este assunto, tendo, no final, um teste simples e rápido, que nos indica qual o sexo do nosso cérebro. Quanto à minha "diferença", relativamente à maioria das raparigas, explica-se pelo facto de ter tido nível 11 no teste: sou bastante equilibrada, neutra, apesar de ser ligeiramente mais feminina do que masculina.

Ciência e Tecnologia (Notícias): O sexo do cérebro

domingo, 3 de outubro de 2010

de humano a máquina

Desço, fecho o carro à chave, vou-me à aventura do meu código bancário. Estão três pessoas aguardando vez, dois homens e uma mulher. Embora muito mais enroupados do que eu, tiritam como ovelhas tosquiadas. E ainda querem eles ser europeus! (...) Tenho, sobre mim, os céus da Europa unida, os sinos das suas catedrais góticas, a profunda nomenclatura da outra pátria que aos poucos se sobrepõe às razões históricas do meu país. Estamos todos a partir, a deixar de ser, a despatriar-nos. (...)
Quando chega a minha vez, aproximo-me da máquina, introduzo nela um dos cartões, e é como se a estivesse saudando. O olho luminoso que de dentro me espia hesita durante os breves segundos de uma ponderação automática, electrónica. Logo a seguir, surge no ecrã luminoso a indicação do levantamento indisponível. Não adianta alvoroçar-me nas razões da minha geração perdida entre o estudo e o progresso dos mecanismos vindos de fora, do outro lado do nosso tempo do vazio. Afinal esta máquina é um ser vivo como eu, mas bem mais complacente e educado. E honesto e bondoso e solícito. Pede-me as suas desculpas, aconselha-me a que me dirija à dependência bancária mais próxima. Se eu fosse um indivíduo colérico preconceituoso e intolerante para com a máquina e agora desatasse para aqui a insultá-la, ainda assim ela se manteria silenciosa impassível e honrada perante a insolência dos meus impropérios. Na Inglaterra, os soldados da monarquia comportam-se exactamente como estes mecanismos electrónicos. Há quem os belisque, quem lhes faça caretas, quem aos seus ouvidos conte anedotas obscenas - mas os soldados da rainha de Inglaterra são também máquinas amestradas, crocodilos hipnotizados, cidadãos europeus que se deixaram adormecer nos turnos de sentinela das suas vigias, sob os longos céus vizinhos da confederação.
Regresso ao carro sem nenhuma indignação. Como os outros, vou-me pouco a pouco resignando aos ventos da minha condição europeia, continental.

João de Melo; O Homem Suspenso

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

acordar para a morte


Some decades ago, human kind had the brilliant idea of using some natural energy sources to feed machines in order to use them to produce more in less time and for lower price. It was called the Industrial Revolution and, for some reason, there are not records of anyone who thought of it as a bad idea. For some reason, there was a lot of good things attached to it. I think it's because Men hadn't yet been able to learn from their mistakes.

E será que agora o conseguem fazer?

You see, when you plan on doing something that big, you're supposed to test it from every angle, possible and imaginary. I guess they didn't have that kind of possibility.

Ou será que tiveram?

As so, when machines moved by coal started being produced and used, the consequences were like a ups! in the minds of those who thought that it was such a magnificent idea. The very first polluted air was born! But, of course, stubborn as mankind is, they couldn't possibly just give up on that idea. They had to replace the coal by oil. It hurts the environment a bit less and we can still make lots of money, they thought. How stupid. They were the first Earth killers. The punishment? None. All of them are now very much died. Their sons, grandsons and others didn't do better. They found natural gas, atomic energy and some more. They developed cars, airplanes, boats and found even greater ways of making money by killing the planet. Much of them are also dead by now. And Earth has got sicker and sicker. By now, if I was Earth, I would give up on trying to heal myself. Because as society grows, the air we breath, the food we eat and the ecosystems we live in are rapidly dying. And the big ones, those whose pockets benefit from those energy sources, don't give a damn about which the world dies or not. Know why? Because some of them will not be here to see it. The only thing they care about is having a nice car and a nice house to show off. As they drive to richness, the forests are dying, the animals are disappearing, the ice is melting, and the oceans' level is increasing, as well as the temperature. Not to speak of the illnesses that the huge gap on the ozone laid can cause. As the media and the green institutions try to wake up the human kind for their own mistakes, the great nations and those who sell them the resources above referred are still asleep. As well as a good part of the world's population. Among them are those who believe but don't care and those who don't believe because they don't want to. It's pretty common to see someone who doesn't want to believe in an inconvenient truth.

Alguém já viu o filme? :D

Well, all this pollution and the devastation of forests and animals, as well as other habitats, will eventually lead to the end of the world. And it won’t be like the movies where the hero always survives. The planet will die, and our only hope is to slow down that ending a little bit, by helping the planet anyway we can. At least, long enough to someone to come up with of putting the world’s population in the space, or something. So, if you want to live in a world where you can actually breath natural air, or if you want your kids and your kids’ kids to have a decent world to live in, I suggest you to start waking up and trying to wake up the ones around you. Maybe we’re still in time to save our only home… Or maybe not.

Adriana Pereira

Estarão os grandes e os poderosos, os fat cats, preparados para acordar para a morte?


Era mesmo a este ponto que queriam chegar?

domingo, 26 de setembro de 2010

união

Pega a minha mão. Vamos fazer isto juntos.

o fim da solidão

Dizem que não devemos ser agressivos para com os nossos, que não devemos discutir, que devemos manter a paz. Porém, quebrar esta cordialidade por vezes pode revelar-se a atitude não só mais útil, mas também a mais sincera e fortalecedora.

A acrescentar à incompreensão e à rejeição, os maus-tratos e descargos injustos de má-disposição.
Depois de algum tempo, aprendemos que, quando estamos com raiva, temos o direito de estar com raiva, mas isso não nos dá o direito de ser cruel. (William Shakespeare)
Chegou a mandar-me para o caralho. Depois de estar com os amigos, ficou mais bem-disposto e começou a meter-se comigo, mas eu não lhe dei atenção:
- Ah, agora já estás mais bem-disposto?
- Não - Havia uma nota de divertimento na sua voz, enquanto que uma expressão alegre e brincalhona fluía no seu rosto.
- Então, quando estiveres bem-disposto e disposto a falar sobre o trabalho de Português, avisa-me, sim?
Não tive paciência para ser compreensiva. Eu, que andava cada vez mais triste, sem ter a atenção de ninguém, tinha sido mal-tratada só porque ele tinha acordado mal-disposto. Esperava o quê, que esquecesse o assunto, como de tantas outras vezes? Orgulho-me de não ser de ferro!
Durante a aula seguinte, uma amiga nossa, que a meu lado estava sentada desde o princípio do dia, perguntou-me diversas vezes o que se passava comigo. É claro, eu não ia perturbar a aula com os meus problemas de adolescente estúpida, até porque ela não pode dar-se ao luxo de não prestar atenção a uma disciplina à qual tem muitas dificuldades.
Claro está, depois de muito pressionar, decidi dar-lhe as minhas palavras vagas, como é habitual. Não era minha intenção contar tudo o que se passava comigo, até porque não queria admitir-lhe que até ela me estava a magoar, iria parecer egoísta da minha parte.
Quando dei por mim, estava já irritada e tinha dito tudo o que sentia, até aquilo de que tinha vergonha e não queria contar a ninguém.
Ele estava sentado à nossa frente, mas aparentemente não estava a prestar atenção, pois mantinha o olhar ligeiramente acima da minha cabeça e os auriculares nos ouvidos. Julguei que não tivesse ouvido nada e, em parte, fiquei satisfeita.
Finalmente, autorização de saída. Não me demoro a levantar, quero sair dali. É então que ele, em vez de se dirigir para a saída, se volta para trás e estende os seus braços para mim. Os meus olhos já estão envidraçados de mais para disfarçar e eu estou demasiado fragilizada para lhe negar o apoio, para além de que seria rude e ingrato da minha parte.
As suas poderosas asas envolvem-me a cintura e as costas. Eu pouso os meus braços nos seus ombros e rodeio-lhe o pescoço. É inevitável chorar.
Repete-me inúmeras vezes que não me abandonará e que não estou sozinha, fazendo-me lembrar de eu ter escrito que não precisava de palavras reconfortantes, apenas de um abraço.
- Eu sei que aquilo pelo que estás a passar é difícil - Ele tem razão no que diz. Não está a falar só para me reconfortar, está a ser sincero. Ele realmente sabe que é difícil perder a pessoa que mais amamos. Eu estou a perder a minha com dezasseis anos, ele perdeu a dele com catorze. As minhas mãos apertam o seu casaco com força e solto um soluço. -, mas a vida é mesmo assim: umas pessoas vêm, vão outras, e tu tens de ser forte. Tu vais ultrapassar isto, mas não o vais fazer sozinha, tu tens-me a teu lado. Eu não te deixarei, tu não estás sozinha. Às vezes pode parecer, mas não o estás!
Acho que já estou mais calma. Vou parar de ocupar o seu tempo. Largo os seus braços e afasto-me suavemente, mas ele insiste em voltar abraçar-me. Choro compulsivamente, enquanto ele me pede desculpa por ter sido rude comigo de manhã, mais do que uma vez. Beija-me no ombro e eu seguro o seu rosto entre as minhas mãos. Prometo-lhe já não ter importância, mas ainda assim ele insiste em desculpar-se. Apenas com um olhar directo e um beijo na face ele fica convencido.
Escusado será dizer que a professora reparou na situação. Também ela me abraçou e se preocupou comigo. Aparece, então, na sala, o Gonçalo, com um sorriso brincalhão:

- Ouvi dizer que alguém estava a chorar...
Não posso criticar o Rosso de forma negativa, pois sei que entre eles os dois há uma grande confiança. Cresceram juntos, passaram toda a sua vida lado a lado, para além de que é óbvia a minha confiança com ambos.
- Pois, mas já perdeste a parte das lágrimas. - diz a Rebeca.
Parecem agora determinados a animar-me.
- Ohh!
- Agora só apanhas a parte do vermelhidão na cara.
Uma risada geral terminou um episódio de solidão e carência afectiva.

Foi bom. Foi muito bom.
Não quero voltar a chorar por tudo e por nada.
Não quero voltar a abrir os livros e ficar horas a olhar para eles, sem vontade de os ler.
Maus tempos aguardam-me... mas agora sinto-me preparada para enfrentá-los. Vou passar por uma época difícil, mas agora sinto-me pronta para o que der e vier.
Agora, estou preparada para enfrentar o que aí vem. E porquê?
Porque, acima de tudo, não estou sozinha.

sábado, 25 de setembro de 2010

a coragem de ser cobarde

Cada passo em frente custa-me muito a ser dado. Ninguém me tem ouvido. Ninguém me tem olhado nos olhos e percebido que não estou bem. Tenho-me sentido tão sozinha e desmotivada que a janela parece-me tentadora.

Costumavas ser a única razão que me mantinha forte, que me fazia ter esperança de ser feliz no futuro, só que eu sei que não te vou ter por muito mais tempo. Eu estou a perder-te progressivamente. Vais ter alta em breve. Vens para casa e quem vai cuidar de ti? Duas das tuas filhas comprometeram-se com a Assistência Social a vir todos os dias cá a casa tratar de ti, mas depois elas vão-se embora e como é? Quem vai alimentar-te? Lavar-te? Mudar-te a fralda? Sendo que eu passo quase todo o dia fora de casa, terá de ser ele, ou vais ficar suja até o dia seguinte, esperando que elas cheguem? Achas que ele consegue assistir a isto e deixar tudo como está? Sabes, contrariamente, o que acontece se ele faz um esforço maior? As vértebras dele estão muito fininhas e separadas; com um esforço, parte as costas. É ele quem vai carregar com o teu peso? Não és propriamente leve... Além disso, trata-lo mal e não queres ver mais ninguém se não a mim. Estás sempre carente e apenas o meu amor te consola. Terei eu tempo para a escola? Vou eu conseguir fazer os trabalhos? Estudar? Não vou! Eu estou por minha conta, com apenas dezasseis anos.

E o que me acontece na escola? Os meus amigos afastam-se de mim. Ninguém percebe que não estou bem. Uns brincam comigo, como se eu tivesse paciência para isso, enquanto que outros parecem fugir de mim.

E o que acontece, quando chego a casa? Ele trata-me como se eu fosse um tapete velho e sujo.

Quando, há quatro anos atrás, eu era uma suicida, deixei de o ser porque comecei a ganhar a esperança de ser feliz um dia.
Quatro anos depois, aqui eu, com o desejo de saltar da janela, com a determinação de acabar com tudo. Tudo porque, quatro anos depois, as coisas apenas ficaram piores e piores.

No meio de tantas lágrimas, contudo, penso o que será dos outros sem mim. Quantas vezes me tinham dito que não conseguiriam ser felizes sem mim? Como será suportar a dor de me perder?
Não, eles irão ultrapassar. Ao fim de algum tempo, irão conseguir seguir em frente a sua vida. Além disso, acaba tudo aqui. Eu não assisto a mais dor, a mais nada. Tenho aqui o fim de tudo. Os outros acabarão por superar e poderão um dia ter uma família, brincar com ela, concretizar objectivos profissionais, serão felizes.
Mas... e a minha avó? Ela está a viver os seus últimos momentos da sua vida. Ela não tem vontade de viver, ela está numa depressão enorme. A única coisa que a faz aguentar mais ou menos a dor é saber que eu preciso dela para aguentar a minha. Ela apenas vive em minha função. Se eu termino a minha vida, a dela termina também. Como vai ela superar os seus problemas de saúde? Como vai ela aguentar viver? Ela não vai conseguir ultrapassar! Ela não o merece!

Perco as forças. Vou de encontro à parede. As minhas costas chocam contra a porta. As pernas fraquejam e deixam-me cair no chão, desmanchada em lágrimas. As minhas mãos puxam os meus cabelos com força e, impotentes, pressionam a sua frustração contra a minha cabeça.
Ainda agora tive um desejo nunca antes tão grande de saltar aquela janela... Estive prestes a suicidar-me!

Agora, neste preciso instante, sinto-me um nojo. Agora desejo morrer, mas não por cobardia, mas sim por ter sido cobarde. Tenho ódio de mim mesma. Frustração.
Tinha sido uma cobarde.
Tinha estado a um ponto de cometer algo contra o qual eu era.

medo da segurança

Custa-me estar a crescer e estar cada vez mais presa.
A minha escola organizou um clube de política para o 12.º ano. Vão ser criadas listas de ideias e alunos e um presidente será eleito para cada lista. Os presidentes das listas juntam-se com os outros presidentes das outras escolas e vão à Assembleia da República apresentar as suas ideias e teses. Vão dialogar com os deputados portugueses no Parlamento.
O corpo docente acha que, apesar de eu não ter Ciência Política nem estar no 12.º, tenho capacidade e estou à altura do desafio, por isso convidou-me a juntar-me ao clube.
Inicialmente, ao telefone, pareceste-me radiante.
Quando cheguei a casa, os meus receios concretizaram-se: não queres, claro está, que eu fique mais forte do ponto de vista argumentativo. Tens medo que eu fique ainda mais segura de mim mesma e consiga ser mais distinta do que o que queres. Não queres que eu seja influenciada por partidos políticos que não são os meus, os ideais para mim. Ou seja, sabes perfeitamente que eu sou politicamente bastante diferente de ti, mas como apenas tu estás certo - porque tu és o chefe de família e julgas-te papa e rei absoluto, porque todos os outros são cretinos e tu (seu bruto) és detentor da verdade suprema, porque tu és Salazar, és Hitler, és Mussolini e és Franco - eu não tenho liberdade de ser individual e de ser eu própria!


A única coisa que veio alegrar-me e me excitou, me orgulhou de mim mesma, me deixou realmente feliz, foi-ma dada e retirada de imediato. Deves achar que me convences a obedecer-te e que vais longe, assim.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

através de um olhar

Não sou capaz de admitir que estou triste.
Tento desenganar-me, mas eu própria acabo por subestimar os meus próprios sentimentos. Acabo sempre por concluir que estou a exagerar e que as coisas não são tão más assim, aparentemente invalidando a minha própria pessoa de estar triste. Afinal, os heróis nunca fraquejam... Os corajosos não têm direito à tristeza: têm de se ocupar com a força e a destreza.
Só gostava que reparassem com mais frequência que não sou uma heroína. Talvez a dor fosse mais fácil de suportar. Eu não gosto de dar nas vistas, mas gostava que, às vezes, as pessoas que amo conseguissem interpretar os meus olhares, desvendar o meu estado de espírito sem que para isso esteja a chorar. Eu não peço, com isto, que me dêem palavras reconfortantes, não peço que me façam felizes, não peço que me dêem toda a sua atenção... apenas que percebam quando estou ferida, através de um olhar, e me abracem.
Tudo isto está a ser tão difícil de aguentar que já não sei quem sou. Perco, lentamente, aquilo que mais segura me fazia... Dou por mim com pensamentos que sempre reprovei, com desejos de fazer coisas que vão de encontro aos meus princípios...

E, no entanto, tudo o que preciso é dum abraço.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

imperdoável

Conteúdo para Adultos


 

Não me vão mais prender. Não me vão mais trapacear ou impedir de fazer o que quiser.

O  Pai Natal este ano não descerá a minha chaminé. Esse badocha não vai tocar as minhas cinzas, farei questão de que isso aconteça!

Perdi o controlo total sobre mim própria. Agora desconheço a inocência por completo.
A leoa ficou demasiado tempo enjaulada. Cuidado! O animal está à solta.


Este ano não obterei perdão.

sábado, 18 de setembro de 2010

desafio musical

Não gosto muito de mensagens correntes, mas achei este desafio interessante. Consiste em pôr o leitor de música a reproduzir aleatoriamente e utilizar as músicas que vão sendo reproduzidas como resposta. Roubado de Just Like A Puzzle.

1) Como te sentes hoje?
Set Up, por Linkin Park. 
Bem, eu não "sou" hip-hop, mas, de facto, eu sinto-me, tanto hoje como em quase todos os outros dias, como que indestrutível, por saber que sou verdadeira e singular, não uma cópia qualquer, como é hoje frequente nos jovens.

2) Vais ser alguém na vida?
 The Little Things Give You Away, por Linkin Park.
All you've ever wanted was someone to truly look up to you and, six feet under water, I do.
Talvez venha a ser um anjo guardião... ou então mãe! :D

3) Como os teus amigos te vêem?
I Love Rock and Roll, por Arrows.
Uau... Bem, realmente os meus amigos estão sempre a assediar-me! :))

4) Vais casar?
 Dry Ice, por Green Day.
I'll send a letter to that girl asking her to be by my own.
Bem... pelo menos um pedido vai haver.

5) Qual é a música do teu melhor amigo?
Fillip, por Muse.
This feeling is strange, but it's not going to change for anybody.
Bem, ele tem Filipe no nome... e também é determinado.

6) Qual é a história da tua vida?
Alles ist Neu, por LaFee.
Claro, sempre aquele desejo da procura pelo desconhecido e o medo de falhar! :)

7) Como é que foi a escola secundária?
She's A Rebel, por Green Day.
She's a symbol of resistance.
Ahh, gostei! Tomas! É verdade ou não?

8) Como é que podes ir adiante na vida?
Society, por Pennywise.
A protestar-me contra a sociedade? A corrigi-la?

9) Qual é a melhor coisa nos teus amigos?
Numb / Encore, por Linkin Park e Jay-Z.
Acho que ser-se numb ou ser convencido e pedir que lhe peçam encore não é tão bom assim...

10) O que é que está in esta semana?
Coming Clean, por Green Day.
Pelos vistos, assumir e aceitar a sua própria bissexualidade aos dezassete anos; mas é só modas, claro.

11) Como é a tua vida?
I Wanna Be Sedated, por Ramones.
Por acaso, por vezes sinto que apenas químicos conseguem acalmar-me... :p

12) Que música vai tocar no teu funeral?
Assassin, por Muse.
Isto explica todos os sonhos em que sou uma criminosa e acabo atrás das grades.

13) Como é que o mundo te vê?
Heiss, por LaFee.
Uau, sou uma brasa. Olhem, por acaso também sou uma menina de Odivelas! ._.

14) Vais ter uma vida feliz?
Can't Take My Eyes Off You, por Muse.
Pelos vistos, apenas se o meu amado me deixar amá-lo. ._.

15) O que é que os teus amigos realmente pensam de ti? 
Uprising, por Muse.
Rebelião! :D

16) As pessoas têm inveja de ti?
Shut Up, por LaFee.
Why don't you kiss my behind?
Aí está.

17) Como te podes fazer feliz?
Outsider, por Ramones.
É verdade. Gosto de ficar do lado de fora, a observar e a reflectir. :)

18) Com que música farias um striptease?
Are We The Waiting, por Green Day.
Este desafio está a irritar-me.

19) Se um homem numa carrinha te oferecesse um doce, o que farias?
Taste The Day, por After Forever.
Mandaria o homem embora, saborearia o dia e esquecia o doce? ._.

20) O que é que a tua mãe pensa de ti?
Dear Agony, por Breaking Benjamin.
ATÉ A MINHA MÃE?!

21) Qual é o teu segredo mais escuro e profundo?
Wer Bin Ich? (Versão de Orquestra), por LaFee.
Pelos vistos, ter amnésia... ou problemas de identidade.

22) Qual é a música do teu inimigo mortal?
Uptight, por Green Day.
Uptight, I'm a nag with a gun, yeah. All night, suicide's last call. I've been uptight all night.
Quem não ficaria nervoso e atormentado toda a noite a pensar em suicidar-se, quando me tem como inimiga mortal? ;)

23) Como é a tua personalidade?
A Modern Myth, por 30 Seconds To Mars.
Sou demasiado maravilhosa para ser real, daí ser um mito. :p

24) Que música vai tocar no teu dia de casamento?
Viva La Vida, por Coldplay.
Claro, há que festejar!

25) Que música vai tocar na tua lua-de-mel?
Blitzkrieg Bop, por Ramones.
Claro está! Let's make some fucking magic! (Shane Dawson)

26) O que os desconhecidos acham de ti?
At The Library, por Green Day.
Sim, eu leio muito.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

uma consciência contraditória

- Anda, Cármen, não penses.
Uma gota de suor diverte-se com a minha face, como se ela fosse um escorrega de suor. Bem, de certo modo, até o é, se tivermos em conta a forma como este escorre naquele preciso momento da minha cara. Não são poros abertos e molhados, mostrando uma face brilhante, uma testa molhada: são pequenos fios de suor que vão deslizando a uma velocidade relativamente rápida, comparando com a velocidade normal a que as gotas de suor se formam durante actividade física ou momentos de calor.
- Ahh, não me perturbes! Deixa-me acabar isto.
- Oh, mas isto é difícil... e eu não serei capaz de o fazer. Não consigo. Tenho perfeita consciência da minha capacidade física.
- Pára de pensar! Sabes perfeitamente que, quando pensas, vem este idiota, o Pessimismo, e faz-te ver apenas os teus pontos fracos, persuadindo-te de que não és capaz, por questões lógicas. Tu consegues tudo, sabes bem disso.

Agora, é uma gota mais irritante ainda que me provoca. A minha pálpebra direita sente água a escorrer lentamente por ela abaixo e não posso limpá-la, por mais cócegas que faça, pois isso irá alterar o meu movimento e tornar a tarefa mais difícil.
- Deixa-a estar, tu és forte, consegues sempre suportar a dor.
- Se não aguentares, sempre podes parar...
- De nada terá servido o esforço até agora percorrido.
- Tu não aguentas, pára! Não te podem forçar a que algo que não és capaz de fazer.
Fecho os olhos. A minha respiração não poderia ser mais ofegante. Sinto-me exausta. Não tenho forças nas pernas, não consigo elevá-las ainda mais. Não estou a desempenhar o exercício correctamente. A minha garganta implora água. Estou prestes a desistir e a cair a qualquer momento...

Se fosse uma questão de vida ou de morte ou se do teu esforço físico dependesse a vida de alguém que amas, tenho a certeza de que irias descobrir mais força do que imaginas e fá-lo-ias certamente. (Gonçalo Costa)
- Ele tem razão.

Não vou parar, eu não posso parar! Observo um ponto na parede e fixo-o, insultando-o como se fosse o meu alvo. Vá, cabrão, tenta parar-me. Vamos ver se consegues.
- Já só faltam quatro vezes...
Anda, caralho! Tenta! Experimenta só! Eu vou conseguir. Eu consigo. Eu sou capaz e sê-lo-ei sempre!

Já está.
- Muito bem, viste como conseguiste? Eu disse-te que conseguirias!
- Sim, mas foi por um triz...
- Não foi nada. Ela conseguiu por vontade própria.

Fim do diálogo entre o demónio e o anjo dentro de mim. Agora, calem-se, desapareçam, porque vou tomar banho.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

aqui, a nosso lado

Ainda não consigo acreditar que voltei ao normal. O normal, isto é, aquilo que me foi prometido nunca mais se concretizar.
Se por um lado, tive medo de uma reacção, por outro, tive a confirmação exacta - não só conselhos e palavras dos outros - de estar errada.
Um pontapé iria despertar-te. Deverias começar a brincar comigo, como é de esperar, isso consolar-me-ia. É então que, mais do que uma diversão, deixas que entre em ti, talvez não aches perigo em mostrar-me aquilo a que apenas tu tens direito. Mais do que um beijo de cumprimento, um forte abraço, envolto em saudade, é entre nós trocado. Quem diria, o senhor-super-reservado a demonstrar tanto carinho?

- Vá, anda lá, conta... Fala comigo!
Eu sei que vais compreender. Sei que também compreendes que não sou superficial e por isso - não no sentido da cusquice, nem sequer no da obrigação: tu fá-lo porque me estimas e sabes que não te negarei a confiança - simplesmente não me peças para publicar a minha intimidade; eu conto-ta, partilho-a contigo, mas não de forma a que todos ouçam. A confiança não vem bem de mim, está entre nós dois. Sei que entendes isso, és o melhor amigo que algum dia pude ter. Sei que te preocupas, daí a persistência:
- Vamos ali para cima, onde não nos ouvem e não reparam em nós. Anda, senta-te aqui ao pé de mim.

Hoje sento-me, aqui, a teu lado. O calor amolece-nos e o professor discursa para todos: os que o ouvem, os que querem ouvir e não conseguem e os que não conseguem ouvir porque não o querem realmente. Nada disso existe, nada disso importa. O sol entra pela janela e destaca os teus olhos cor de mel. O teu cabelo preto brilha, enquanto mantens uma postura que representa um belo e vigoroso homem, dotado de sentimentos menos afectivos, mais fechados e reservados; mas quem está aqui, a teu lado, sou eu, a decifrar-te a consciência, e eu, a teu lado, vejo o sol entrar na janela e iluminar os teus profundos olhos de mel, que mostram, no mais precioso campo, o interno, o amor que resplandeces e a sensibilidade dentro de ti. Quem está aqui, a teu lado, sou eu e eu sei mais do que quase todos - não quero insultar os teus pais nem fingir que sou a mais sábia, porque há grandes pedaços de sabedoria que não posso absorver - os que te rodeiam, tenho mais do que os outros têm: eu tenho-te aqui, a meu lado. Sempre tive, agora vejo-o. Sempre que me foi possível ter-te aqui, a meu lado, tive-te. Os outros estão apenas a rodear-te. Raros são os que realmente te têm ali, a seu lado. Sinto-me orgulhosa por isso, confesso-o. E nada mais existe, nada mais importa.

Ah, o prazer da proximidade física! Parece um dos meus melhores sonhos. Parece impossível que naquele exacto momento, estou ali, convosco a meu lado, de volta à escola.

Desta vez, tive demasiado medo de te perder e isso acordou-me. Desta vez, vou aproveitar cada minuto e nunca mais hesitarei sentir!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Querida Agonia


Às vezes a dor pode ser linda e trazer beleza, tendo um grande impacto em mim.
Um dia tirei o álbum Dear Agony e meti-o todo no meu leitor de música. Estava na escola, bem da vida, a fazer exercícios, de manhã, sozinha, em paz, com o leitor a dar música de fundo.
Por alguma razão, essa música impediu-me de continuar. Pus o volume no máximo, empurrei os auriculares para dentro dos ouvidos, fechei as pernas e enrosquei-me nelas, com os braços à volta dos joelhos. Encostei a cabeça e a beleza da música fez-me chorar.
De todas as outras vezes, sempre que chorei a ouvir música foi porque me recordava de algo triste. Ao fim de quinze anos, confrontei-me com uma única música que me comoveu a ponto de impedir a minha coragem e disciplina interna de agirem, não conseguindo reter as lágrimas.
Cada frase dessa música é sincera e profunda; cada nota da guitarra é angelical: soa como uma harpa nos meus ouvidos - e quando se torna mais pesado, em vez de me assustar, faz com que páre de voar alto e voe em pique, afundando-me num oceano de emoções, como um pára-quedista que se achou sem o seu pára-quedas a funcionar correctamente apenas no momento de o abrir; como se as minhas mãos adquirissem um poder emocional incontrolável e um peso excessivo, rasgassem o chão, permitindo a outras mãos exteriores puxarem-me para baixo a uma velocidade ofensiva, que me magoa de tal forma que não consigo nem quero fazê-la parar. Qualquer grito é incontrolável, pois se eu conseguisse controlar conscientemente o meu comportamento naquele momento, não iria certamente gritar quando não sou audível. Grito, então, em silêncio, mas grito. Quando finalmente o Ben começa a cantar, sinto que aterrei no fundo da Terra e não há forma de me enterrar mais ainda. Quando o refrão chega, desmaio e deixo-me enlouquecer. Isto tudo, claro, interiormente, porque exteriormente apenas uma lágrima a percorrer a minha face é visível.
Acordo de uma tempestade, então, e reparo na simultaneidade emocional que acabo de atravessar. Aí, recupero os sentidos e apercebo-me de ter vivido os quatro minutos mais intensos de toda a minha vida, sem sequer sair do mesmo lugar. Os meus olhos abrem-se e fico aliviada por saber que continuo sozinha, ali, pois não creio no gosto pela partilha de um momento tão privado. Não lhe chamaria egoísmo ou vergonha, mas sim culto próprio.
As coisas mais belas e importantes só podem ser encontradas pela Visão Interior, que Vê cegamente: de olhos cobertos, cerrados ou claramente abertos, mas inactivos.


I have nothing left to give. I have found the perfect end. You were made to make it hurt, disappear into the dirt, carry me on to Heaven's arms, light the way and let me go. Take the time to take my breath, I will end where I began and I will find the enemy within, because I can feel it crawl beneath my skin.
Dear agony, just let go of me, suffer slowly... Is this the way it has got to be, dear agony?
Suddenly, the lights go out. Let forever drag me down. I will fight for one last breath: I will fight until the end.
Do not bury me, faceless enemy, I am so sorry! Is this the way it is going to be?
Leave me alone... God, let me go!
I am blue and cold. Black sky will burn.
Love, pull me down! Hate, lift me up!
Just turn around: there is nothing left...

Somewhere far beyond this world, I feel nothing anymore.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

retornar à rotina

Este Verão vou ler carradas de livros, vou fazer exercício físico, vou limpar a casa com frequência, vou rever música, vou aprender guitarra, vou escrever no blogue, vou ler todos os blogues pendentes que tenho nos marcadores e vou ficar orgulhosa por isto. Vou, ainda, dar muito amor à minha avó, a pessoa que mais o merece. Talvez desta vez possa dizer que tive umas férias à maneira!

Falta uma semana para voltar à rotina e o que fiz? Dediquei-me a ser estranha de novo, a escrever ocasionalmente, a sonhar com música, a mergulhar nuns oito livros, à vontade, e a aborrecer-me comigo mesma. Aprendi a guitarra, sim, e debrucei-me em lágrimas pela perda da minha base, através de um internamento de meses da minha avó.
Rico Verão. O que vale é que ainda fui à praia ver o mar algumas vezes e a literatura não me abandonou por completo...

Ao menos livrei-me de bocas e insultos durante três meses e tive tempo para reflectir e pensar, algo que anseio por fazer constantemente. Esperemos que este ano ouça menos Olha ali aquela miúda, que horror! e Já viste a forma como se veste?, acompanhados de olhares que me tentam intimidar, só porque sou individual em tudo o que faço, até na forma como me visto, e tenho orgulho em ser quem sou. Quando irão perceber que os verdadeiros ridículos, a meus olhos, são vocês?


cair de cu

Escorregar no Katchup


Mais uma vez, a Sílvia distingue o meu blogue dos demais. Desta vez, diz-se que é um blogue de cair de cu. Ainda hei-de entender o significado desta expressão.

Julgo que isso signifique que tenha de marcar outros blogues bons com este selo. Aqui está a lista dos condenados:

Divirtam-se a descubri-los. Não vos asseguro de gostarem, pois em geral os meus gostos são sempre estranhos, mas asseguro-vos de realmente adorar estes blogues.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

o homem dos bolos II

Conteúdo para Adultos


Em seguimento d'O Homem dos Bolos I


- Só mais um não me fará mal, creio...
Tinha acabado de trincar o biscoito, quando a sua metade  desapareceu da mão. De olhos esbugalhados, Elle não conseguia conter o espanto. Apalpando o sofá em sua volta, nada encontrou, por isso resolveu levantar-se, como se fosse possível para um bolo fugir das mãos e esconder-se debaixo de duas rechonchudas nádegas. Foi então que viu gotas de mel aparecerem em trilho no chão, como se dois pés invisíveis besuntados caminhassem. Olhou para onde se dirigiam. Agachou-se para espreitar debaixo do sofá e, ainda incrédula, comentou:
- Isto é cientificamente inválido. Parece impossível... - sentiu um arrepio, como se a espiassem, mas, não vendo alguém, voltou a espreitar - Devo estar a sonhar...
- Não estás, Williams. - uma voz fria e sarcástica cortou-lhe a respiração - Isto é muito mais real do que parece e, como é do teu conhecimento, as aparências iludem...
Um homem branco como cal pousava atrás de si, com um sorriso vago e um olhar intimidador. Muitas vezes antes, em muitos sonhos anteriores, este homem a tinha assustado, com imagens da própria Elle, ensopada em sangue, tentando desesperadamente acordar outras jovens mulheres, mas em vão: não é conhecido nenhum caso de vítima de estripamento que tenha sobrevivido; esse homem pouco atraente surgia e prometia-lhe ser a próxima. Agora aquele homem estava ali, ou pelo menos aparentava estar: Elle queria certamente destruí-lo, esmagá-lo por absoluto, cuspir-lhe vómito na garganta, pisar a sua cara, arranhar-lhe as bochechas, arrancar-lhe os olhos... mas sentia-o aproximar-se, pelo olfacto, e permanecia estátil, enquanto os seus olhos faziam aumentar o volume daquele homem, assegurando-a de estar próxima do seu fim. Queria fugir... mas como?

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Green Day: Paper Lanterns


Now I rest my head from such an endless dreary time,
A time of hopes and happiness, that had you on my mind.
Those days are gone and now it seems as if I'll get some rest,
But now and then I'll see you again and it puts my heart to the test.



So when are all my problems going to end?
I'm understanding now that we are only friends.
To this day I'm asking why I still think about you.



As the days go on I wonder: will this ever end?
I find it hard to keep control when you're with your boyfriend.
I do not mind if all I am is just a friend to you,
But all I want to know right now is if you think about me too.

o virar de uma página

Ontem decidi fazer algo que já há muito planeava: desprender-me de redes sociais.
Tinha contas em MySpace, Hi5, iLike, YouTube, letras.mus.br... e, é claro, no blogger; mas, afinal, de que me servia isso?
Para partilhar fotografias e receber comentários? Isso não é algo que me entretenha.
Para partilhar música? Há formas mais naturais de o fazer.
Para manter o contacto com pessoas que me estão fisicamente distantes? Bem... essa seria uma boa razão, isto se as pessoas que me estão distantes o estivessem apenas fisicamente. Além disso, no final todos nós partimos e nos separamos, fazendo parte apenas de boas ou más memórias, ou caímos no esquecimento.

Assim sendo, resolvi eliminar todas, à excepção do YouTube, pois tenho lá contactos com os quais mantenho conversas bastante interessantes para mim, e do blogue, sendo este o único que realmente preciso; mas entre quase 1800 eliminações apáticas de contactos, um reteu-me. Não queria eliminar a única forma de comunicação que ainda tínhamos, iria perder-te para sempre...
Basta!, pensei. Já te tinha perdido antes, embora nunca nisso tenha acreditado realmente. Tu não irias dar pela minha falta, pois durante todo este tempo não te incomodaste em perguntar por mim.

Estarias apenas a adiar o momento em que matarias as saudades? Não sei. Talvez quando decidires fazê-lo, isto se alguma vez o quiseres fazer, seja tarde de mais. Cansei-me de esperar. Agora espero, muito sinceramente, que sejas muito feliz... embora eu não esteja mais por perto para me certificar disso. Fartei-me de parar a minha vida para esperar pela tua, embora sem ela a minha não faça sentido.

desespero irracional


Estou sinceramente farta, cansada de tudo isto!
Farta de andar com o pensamento às voltas, para em nada resultar. Não me adianta de nada pensar, de menos me adianta falar, pois nunca mais poderei agir! Então, para quê pensar? Engano-me a mim mesma, engano os que me rodeiam, fazendo-os enganar a si próprios e os que os rodeiam... Mas que merda é esta?!

Estou farta do meu ser moribundo, que por esse mundo fora vagueia, sem crer realmente na ambição de um destino. De outras vezes, me perguntaram se não tinha sonhos. Realmente, não. Não sei sonhar, nem gosto! Quando digo que sonho desempenhar uma certa profissão, limito-me a revelar aquilo que decidi fazer, já que cá estou; no entanto, estou certa de isso não ser algo que me realize e me faça encontrar a felicidade máxima, o por mim tão cobiçado estado de nirvana. Em suma, não considero que seja isso que me complete. Há um espaço vazio em mim que me incomoda: não é que isso me atormente, mas não gosto de assumir que não tenho sonhos nem esperanças mais fortes do que o meu próprio ser, o meu próprio senso de disciplina.
Não te peço para me amares, sequer! Também não peço para seres meu guardião! Mas, sinceramente, custa-te muito manteres-te a mim conectado? Custa-te muito deixares-me ser feliz, quando, para isso, apenas preciso de te ver feliz? Eu só te peço para não me deixares! Achas justo deixar-me? Não, porque tu és egoísta e nem sequer nisso pensas! Tu não te importas. Tu não queres saber. Talvez nem noção tenhas disso e porquê? Porque nem sequer te dás ao trabalho de pensar nisto.
 
Embora eu costume armar-me em racional e fria e dizer que pessoas vão, pessoas vêm, ninguém realmente fica... custa-me dizer o mesmo desta vez... porque, mais do que uma pessoa vulgar ou um amigo querido, és tu.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

o homem dos bolos I

Agora que o seu dia de trabalho tinha acabado, Elle acendera a lareira e puxara um dos cadeirões vermelho-escarlate para perto da mesma, sentando-se com conforto. Em cima da mesa baixa, estava uma caneca cheia de leite que, a julgar pelas bolhas de ar na superfície e pela falta de memória de o ter aquecido, deveria ter acabado de ser forçado a sair do pacote mal aberto tirado do frigorífico. Na caixa de palmiers, havia um espaço vazio,  o que indicava que aquilo deveria ter sido o lanche inacabado de Fred.
- Ele não se deve importar que eu o termine.
O leite estava, de facto, frio, o que não era agradável no Inverno; mas aqueles biscoitos estavam especialmente cuidados. Estavam rígidos e apetecivelmente quebráveis.
- Crocantes!
Eram bastante melhores do que quaisquer outros que tivesse anteriormente provado. Estavam duros o suficiente para não se desfazerem ao toque e não mostravam muita resistência ao trincar.
- Curioso...
Nem com a mão pareciam ceder.
- Talvez sejam feitos especialmente para os meus lábios - um riso sarcástico escapou-lhe, como se ela própria achasse a ideia ridícula. A verdade é que eram diferentes noutros pontos: o mel não se pegava aos dedos, mas havia abundância ao saboreá-lo. O açúcar, porém, parecia estar em bolas ou aos bocados, tais como suspiros, aqueles pequenos bolos brancos que parecem de chantilli, mas ao trincar são autênticas pedras que se desmancham em grãos de areia... No entanto, este açúcar tinha a particularidade de não se desfazer ou esmigalhar - Grande cozinheiro esse. Tem os meus parabéns.
Resolveu dar um golo. Embora achasse que lhe iriam doer as gengivas, o leite não a incomodou minimamente.

tira os olhos da cara

Algumas vezes, algumas frases provocam em mim gargalhadas estridentes.


O que é que o caixote está a fazer no meio do lixo? - Gonçalo Costa

Tenho dentes desdentados. - Cármen Veloso

Mom... C'mon, I'm five years old, okay? I know what I'm doing! - Shane Dawson


Se eu te fiz vir com um dedo, imagina com dois. - Miguel Martins

A Dama é o Rei vestido de mulher. - Bruno Simões

O Zacarias é um galão! - Gonçalo Cordeiro


I'm gonna babar-me boé and drown everybody with my own baba! - Alexandre Pacheco

Gosto tanto de falar comigo mesma... temos tanto em comum! - Daniela Ventura


O gajo vira-se de frente, tira os olhos da cara e fico mesmo tipo... oh! - Diana Arquissandás

moribunda

Conteúdo para Adultos


Na rua há um túnel e nesse túnel há um sofá. O meu tronco sente-se recostado nesse sofá sem fundo. O meu braço esquerdo descansa sobre a minha perna esquerda, pendurada no braço do sofá, enquanto que o meu braço direito, mole, prepara-se para se deslocar do ombro e cair no chão, assim como a minha perna direita, que pousa sobre cimento. Dois olhos escuros absorvem todas as cores e transformam-nas em dor, enquanto que o meu nariz se entope com o meu próprio mau cheiro. Os meus lábios cansaram-se de tentar fechar e a minha garganta espera secar.
- O que aconteceu?
As pessoas são estúpidas, ignorantes, idiotas. Óbvio que o meu cérebro sofreu de sobrecarga e explodiu, deixando-me nesta apatia. Não se preocupem, simplesmente fartei-me da dor e da coragem, do problema e da procura da solução. O meu coração bate lentamente... e eu pergunto-me: para quê continuar?
Vai-te embora, sentimento! Não te quero, felicidade, não suporto ilusões e traições! Simplesmente deixem-me morrer para num canto.
Deixem-me em paz!


 

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

linguagem criminosa

Conteúdo para Adultos



O que é isto, afinal?!

Engano.

- O que estás aqui a fazer?!
- Vim buscar o meu leitor de música.
- Vai mas é deitar-te...


Bola de neve.

- Que fazes acordada a estas horas?
Vou destruir tudo isto ao auto-destruir-me, mas isso não me importa.
O coração tenta libertar-se da caixa torácica, esse monte de ossos conservadores e repugnantes como um ditador europeu do século XX. Sê livre, rapaz, sê feliz. Não deixes que alguém te pare, que te impeça.
BUM! Acabou-se a inocência com uma explosão do músculo sentimental.

My voice just echoes off these walls...

- Ah! Ah! Ah! Ah! É realmente engraçado.


Mentira.

- Vou só à casa-de-banho.
Pum, pum. Pum, pum. Pum, pum.
- O que é que isto está a fazer aqui ligado a esta hora?!
Oh, por favor, só espero que ele não ligue o monitor. Nervos. Espero que não me chames de amor agora, nem que... Proximidade. Medo.
I'm suffering... abuse... violence... stand it... Formalidade de texto desconhecida:
- É vírus, de certeza. Devo ter desligado isto mal.
Eu tento enganá-lo, mas estou a enganar-me a mim própria. Sei perfeitamente que não o desliguei, mas também perdi o intervalo de tempo entre a minha fuga e o aparecimento daquela sinistra mensagem.
- Não, isto não é um assédio, avô. - semicerro os olhos e sei que isso dar-lhe-ia a entender que estou quase tão perplexa e confusa como ele, se fosse inteligente e observador; mas, no fundo, tenho a certeza de ter de pagar por tudo, por ter começado a enrolá-lo. Já não há o que perder. - E este abuse parece referir-se a maus tratos. Estranho...

Para uma mente bem organizada, a morte é apenas a próxima aventura.

Sombras. Não sei o que se passou a seguir. Morta, pesada, fria. Os olhos esbugalham-se e revoltam-se, abandonando o seu lugar, mantendo-se feios e salientes, deixando o meu rosto em tons de lilás. Psicadélica. Sinto-me suja e isso dá-me prazer. Sou um monstro devorador de sentimentos. Trapaceio a minha sombra e faço malabarismo com corações. Não é algo divertido e agradável?

Death in its most hideous form.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

protecção de animais

Há não muito tempo, contactaram-me para visitar e, se possível, divulgar um blogue intitulado Apoio e defesa dos animais. A administradora do blogue pediu, no entanto, desculpas por enviar mensagem hi5, pois, tal como eu, detestava fazer publicidade e passar mensagens corrente. As intenções deste blogue cativaram a minha atenção: é um blogue que se dedica a salvar animais, recolhendo-os tal como um centro de adopção virtual.
Aproveito, assim, a oportunidade de ter um blogue para contribuir para uma causa que hoje em dia é esquecida e rejeitada pela maioria, mas que, no entanto, ainda tem algumas sombras de esperança por uma caridade e consciência mais solidária.

Aqui está o link para o blogue mencionado: Apoio e defesa dos animais. Agora ignorem-no e contribuam para um mundo em decadência.


segunda-feira, 2 de agosto de 2010

sonho real

Hoje sonhei e impressionei-me. Nesse mesmo sonho, mostrei-me mais perspicaz e perigosa do que julgava realmente ser. Porém, apesar de desenrascada, senti uma vez mais o sabor do medo... e descobri o quão parecida sou a quem me criou: quando o medo e o pânico me sufocam, apenas uma onda de raiva transparece e flutua à superfície. Talvez seja por isso que apenas eu realmente o compreenda e acredite que mais ninguém me compreenda, pois ninguém parece ser observador e perspicaz o suficiente para entender-me: recuso a dar definições de mim mesma, não sou algo fixo e material a esse ponto!

Afinal, um sonho tem a capacidade de nos despertar para a realidade.






Engraçada a forma como escolhi esta imagem e só no fim me apercebi da sua semelhança com aquela que dirige o título do blogue.