sábado, 25 de setembro de 2010

a coragem de ser cobarde

Cada passo em frente custa-me muito a ser dado. Ninguém me tem ouvido. Ninguém me tem olhado nos olhos e percebido que não estou bem. Tenho-me sentido tão sozinha e desmotivada que a janela parece-me tentadora.

Costumavas ser a única razão que me mantinha forte, que me fazia ter esperança de ser feliz no futuro, só que eu sei que não te vou ter por muito mais tempo. Eu estou a perder-te progressivamente. Vais ter alta em breve. Vens para casa e quem vai cuidar de ti? Duas das tuas filhas comprometeram-se com a Assistência Social a vir todos os dias cá a casa tratar de ti, mas depois elas vão-se embora e como é? Quem vai alimentar-te? Lavar-te? Mudar-te a fralda? Sendo que eu passo quase todo o dia fora de casa, terá de ser ele, ou vais ficar suja até o dia seguinte, esperando que elas cheguem? Achas que ele consegue assistir a isto e deixar tudo como está? Sabes, contrariamente, o que acontece se ele faz um esforço maior? As vértebras dele estão muito fininhas e separadas; com um esforço, parte as costas. É ele quem vai carregar com o teu peso? Não és propriamente leve... Além disso, trata-lo mal e não queres ver mais ninguém se não a mim. Estás sempre carente e apenas o meu amor te consola. Terei eu tempo para a escola? Vou eu conseguir fazer os trabalhos? Estudar? Não vou! Eu estou por minha conta, com apenas dezasseis anos.

E o que me acontece na escola? Os meus amigos afastam-se de mim. Ninguém percebe que não estou bem. Uns brincam comigo, como se eu tivesse paciência para isso, enquanto que outros parecem fugir de mim.

E o que acontece, quando chego a casa? Ele trata-me como se eu fosse um tapete velho e sujo.

Quando, há quatro anos atrás, eu era uma suicida, deixei de o ser porque comecei a ganhar a esperança de ser feliz um dia.
Quatro anos depois, aqui eu, com o desejo de saltar da janela, com a determinação de acabar com tudo. Tudo porque, quatro anos depois, as coisas apenas ficaram piores e piores.

No meio de tantas lágrimas, contudo, penso o que será dos outros sem mim. Quantas vezes me tinham dito que não conseguiriam ser felizes sem mim? Como será suportar a dor de me perder?
Não, eles irão ultrapassar. Ao fim de algum tempo, irão conseguir seguir em frente a sua vida. Além disso, acaba tudo aqui. Eu não assisto a mais dor, a mais nada. Tenho aqui o fim de tudo. Os outros acabarão por superar e poderão um dia ter uma família, brincar com ela, concretizar objectivos profissionais, serão felizes.
Mas... e a minha avó? Ela está a viver os seus últimos momentos da sua vida. Ela não tem vontade de viver, ela está numa depressão enorme. A única coisa que a faz aguentar mais ou menos a dor é saber que eu preciso dela para aguentar a minha. Ela apenas vive em minha função. Se eu termino a minha vida, a dela termina também. Como vai ela superar os seus problemas de saúde? Como vai ela aguentar viver? Ela não vai conseguir ultrapassar! Ela não o merece!

Perco as forças. Vou de encontro à parede. As minhas costas chocam contra a porta. As pernas fraquejam e deixam-me cair no chão, desmanchada em lágrimas. As minhas mãos puxam os meus cabelos com força e, impotentes, pressionam a sua frustração contra a minha cabeça.
Ainda agora tive um desejo nunca antes tão grande de saltar aquela janela... Estive prestes a suicidar-me!

Agora, neste preciso instante, sinto-me um nojo. Agora desejo morrer, mas não por cobardia, mas sim por ter sido cobarde. Tenho ódio de mim mesma. Frustração.
Tinha sido uma cobarde.
Tinha estado a um ponto de cometer algo contra o qual eu era.

2 comentários:

Adriana disse...

Não, minha querida, se tu morresses... É simplesmente insuportável. Perder e única pessoa que continua a sarar as minhas feridas e a espantar as minhas mágoas apesar de toda a distância, apesar dos meses sem nos vermos... É simplesmente insuportável. Se a mera separação física me provoca tamanha saudade, a tua ausência definitiva matar-me-ia. Leva-me contigo, twin, onde quer que vás. Porque eu trago-te comigo, sempre guardada num quartinho muito especial do meu coração.
Tudo se supera. E tu, por muitas vezes, conseguiste superar-te a ti mesma. Agora, é-te pedido mais um esforço, é-te imposta mais uma meta. Eu sei que vais conseguir. Eu sei, por experiência própria, que se alguém em que se pode contar és tu. E sei que "ela" como referiste no teu texto, tem em ti o apoio de que precisa para superar a meta dela. Sei que se podem apoiar uma à outra.
Ah, e mantém essa janela fechada ;) A única janela que se pode saltar é a dos sonhos, para deixar a imaginação voar.
Adoro-te muito =)

Anónimo disse...

Adriana: Oh, não é bem assim. Mais cedo ou mais tarde, poderás ser feliz, irás encontrar alguém que desempenhe funções parecidas com a minha. Tens uma vida pela frente...
Porém, já fechei a minha janela. Não vá eu voltar a adoecer com correntes de ar...