sábado, 26 de novembro de 2011

Para ver. E sentir.

Abram o link abaixo, escolham a língua em que são mais confortáveis e sigam as instruções à risca.
Não é uma partida. A sério. Façam-no.
the quiet place

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Os amantes de Valdaro

Observem bem a imagem.


Conseguem distinguir a raça? Não.
Conseguem distinguir o sexo? Não.
Conseguem distinguir o dinheiro? Não.

Mas sabem que é amor.

Acho que não preciso de dizer mais nada.

domingo, 13 de novembro de 2011

26. Carta a alguém que te inspira

Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.

Olá, professor.
Talvez ache estranhas as palavras que escrevo, ou melhor: o facto de as escrever. Ou talvez mesmo até não, devido à sua capacidade para compreender as pessoas, por mais reservadas que sejam.
Não é meu intuito mostrar aqui os meus "dotes" literários, apenas considerei importante que tenha (re)conhecimento de algumas coisas. Algumas pessoas merecem-no e o professor é, de facto, uma delas.
É-o porque conseguiu ser mais do que um professor: conseguiu ser um bom amigo. Bom, porque conseguiu fazer-nos "acordar" para fatores importantes que muitos de nós ignorava inconscientemente, e amigo porque se preocupou connosco e insistiu em fazê-lo, não tendo sido obrigado a tal.
Hoje, quase dois anos depois de ter sido lecionada por si, vejo várias diferenças - não só em mim própria como também nos restantes membros da turma. Parece-me quase incrível que pessoas outrora tão fúteis, despreocupadas com os problemas que os envolvem, sentimentais, muito influenciáveis e interesseiras (no sentido egoísta da palavra) se mostrem hoje indignadas com a futilidade e a despreocupação dos outros e, recusando-se a aceitar o que não acham correto e reivindicando os direitos que têm, lutem contra o desrespeito. Se, por um lado, é verdade que os adolescentes estão em constante mutação e por isso não é tão surpreendente quanto isso que evoluam, por outro lado, não é muito comum que um adolescente evolua tanto em tão pouco tempo. Mais verdade do que isto é que, apesar de terem sido condicionados por vários fatores, quer internos quer externos, eles foram imensamente condicionados por si. Por isso, se hoje são tão conscientes (sendo isso algo extremamente importante), devem-no imensamente a si, estando-lhe muito gratos, como já o declararam (não tanto com o seu conhecimento, tanto quanto sei) várias vezes.
Bem, parece que falo deles como se eu já estivesse muito bem e eles é que estavam mal e ficaram bem... Não. Mas isso talvez também o professor já saiba... embora me tenha espantado como é que um professor de Filosofia me dá aulas durante mais dum ano e fica surpreendido por saber que a minha ambição... digamos, mais material é ser professora da mesma disciplina, um dia. Aliás! O que me espanta mesmo mais é que fique surpreendido por eu sequer gostar de filosofia! Eu sempre achei que isso era algo um pouco óbvio e... creio que qualquer outro professor meu não duvidasse disso. Até o meu professor de LP do 9.º me dizia já que eu iria ser professora de LP ou de Filosofia, nunca me tendo ouvido nem lido propriamente a filosofar... Mas estou a desviar-me imenso do assunto. O que eu queria dizer é que me sinto na obrigação de lhe agradecer pelo impacto que teve em mim. Por mais que o professor diga que não tenho de agradecer por coisa alguma, eu acredito que tenho. Não é de menosprezar o ato de alguém insistir tanto em querer ajudar-me (não só academicamente, como também com os problemas familiares e enquanto pessoa) ao ponto de exigir, pelo menos aparentemente, que eu tome atitudes, ainda por cima quando isso são problemáticas que não lhe dizem respeito. Tudo em troca de quê? Bem, a mim parece-me que apenas o facto de saber que contribuiu para o progresso positivo de algo o satisfaz, o que é mais louvável ainda, por agir sem esperar ser recompensado de outra forma. Nem eu imaginei vez alguma que conviver com alguém pudesse ser tão benéfico nem que conseguisse eu evoluir tanto num espaço de tempo tão curto, de tal modo a que até que pessoas que me estimam mas que não o conhecem queiram agradecer-lhe e simpatizem consigo, pelo bem que me fez, como é o caso duma íntima minha, a Diana, que frequentemente me pede para lhe mandar cumprimentos e que agora lhe deseja o melhor.
Um homem com um impacto tão profundo e tão positivo é mesmo muito louvável, a meu ver. E é por isto que o admiro tanto. Admiro-o, aliás, não apenas por estas particularidades, mas por estas se conjugarem com outras tantas que mostrou ser, como é o caso da coragem, da sinceridade, da justiça e da autonomia. Não é qualquer um que toma as decisões que o professor já tomou anteriormente e da forma como as tomou - e mesmo que fosse! Não deixaria de ser louvável por isso. E, quando falo da forma como as tomou, falo de deliberação. As ações justas são mais belas quando são deliberadas, a meu ver, devido à liberdade a que o sujeito se submete durante a deliberação e pela certeza que isso confere à decisão final. Mas não me adiante talvez por aí, não é esse o meu intuito principal.
Pela pessoa que é, pelas ações que fez e pela forma como as fez, o professor merece mesmo muito que o futuro lhe corra pelo melhor, na minha opinião, que tem vindo a exprimir, ao longo desta carta, o que penso sinceramente. Desejo-lhe, para já, que consiga concluir a tão trabalhosa tese e que ter-nos deixado tenha valido, de facto, a pena (é um pouco contraditório que eu deseje tanto que consiga fazer isso e depois lhe envie um e-mail tão extenso, mas... enfim), porque se há alguém que mereça reconhecimento pelo seu empenho e pela sua dedicação não só às pessoas como também ao trabalho, essa pessoa é certamente o professor.
Assim, despeço-me, desejando-lhe, uma vez mais, que tudo que lhe corra pelo melhor e que consiga realizar todos os seus objetivos, que acredito que sejam justos e honestos. Desejo ainda que, um dia, nos reencontremos e que nessa altura já tenha deixado de fumar. Talvez sejamos colegas, um dia.

Respeitosamente,
a ex-aluna que o considerava excêntrico nos primeiros meses em que teve aulas consigo.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

folhas que o vento sopra


Pelo mundo vagueio, fantasma da minha própria vida. Sombra esvoaçante, dançarina volante do vento, que me guia através deste mundo tempestuoso que me cerca.
Rasgões brancos de um projeto que outrora fora parcialmente meu - e que, embora moribundo, é hoje íntegro da minha autoria. Autoria essa que é negada, projeto que é rabiscado, amachucado, atirado para longe.
O vento tenta trazê-lo de volta ao lugar a que pertence, guiando-se unicamente pelo seu instinto de dever e autonomia, conferido pelo trapo de mim que ele deseja conduzir. Deste modo, esta condução torna-se violentamente torbulenta, principalmente porque o vento não desiste de encontrar o lugar prometido à bandeira agora, e em ritmo de recuperação desigual, semi-desfeita.
Porque não: a bandeira nunca conseguiu ser hasteada. Não tem casa que a sustente, e tem buracos de tecido que não conseguem ser cozidos sem que se note que não é essa a malha devida. Sem que não se note que as suas fendas não conseguem ser tapadas com motivos insubstituíveis. Único, cada pedaço rasgado.
Por isso, eu, fantasma da minha própria vida, que sou o vento e a sombra, o projeto e a dançarina, o sol e o mar; eu, que sou muito mais do que aquilo em que nada sou, canso-me de bailar sem coreografia definida, com probabilidades improváveis.
Com esperanças desfeitas, projetos rasgados. E, sobretudo, de calçada quebrada, sem pertença distinguível.

domingo, 6 de novembro de 2011

o crepitar de um novo começo

Nas poltronas escarlate, ouve-se o crepitar das labaredas a consumirem os troncos de uma antiga vida, uma vida verde e fresca. É assim que as árvores, na verdade, permanecem eternas: estando presentes, são verdes e frescas ou vermelhas, quentes e secas; ausentes, são desejadas e recordadas.
Aquecidos por aquela fonte de vida (natural, como não o podia deixar de ser, sendo vida), os pés daqueles jovens sentiam-se Reis modestos, que, sendo importantes, não se adornam luxuosamente. Os dele espreguiçavam-se em algodão cinzento, os dela preguiçavam em lã rosa claro, da clareza rosa do algodão doce, coberta de borbotos.
Um terceiro, o grande, rodopiava colheres de madeira em tachos e panelas de inox, fazendo dessa magia que liberta odores que fluem no ar e despertam o apetite a que se chama culinária.
- Martini ou Beirão? - Inquiriu, aproximando-se da única pessoa que apenas movia os dedos, ao virar as páginas de algum romance ou alguma novela.
- Nada, obrigado. Não bebo uísques. Ou melhor, não sou consumidor de bebidas alcoólicas.
- Que sujo que me sinto! - Disse, rindo. - Sou a única pessoa aqui que bebe.
Ela deixava a tinta jorrar ao som de Chopin, coordenada por pensamentos progressivamente organizados.
- O que estás a fazer, comilão anónimo? - Este, por sua vez, tentou esboçar oralmente palavras, mas foi impedido pelo recém condenado a bolo alimentar, o que os fez, a ela e ao seu amigo leitor, rir. - Como é que eu já sabia?!
- Conheces-me muito mal, tu - conseguiu finalmente professar. - Jardineira.
Menos concentrada, levantou os olhos dos manuscritos. O seu amigo também já não lia. Pelo contrário, olhava, abstrato, para a lareira. Imitando-o, conseguiu perceber a mensagem que o corpo feminino e curvado das chamas que dançavam cantava, compreendendo porque sorria vagamente, de satisfação. Ao sentir olhá-lo, suspirou como quem sai de um mergulho, continuando a sorrir, e retribuiu-lhe o olhar. Por sua vez, ela pegou na sua mão e prometeu-lhe, com um sorriso dos maiores que tinha:
- A tua vida nunca voltará a ser o que era, meu caro!

sábado, 5 de novembro de 2011

heterobiografia

«É pequena, e diferente.
Quem olha para ela vê uma pessoa normal: com os seus problemas, divertida, extrovertida - mas nunca profunda.
Há já algum tempo apercebi-me de ela ter duas faces. Como eu, adapta-se às pessoas com quem está, consegue mudar a sua forma de agir em segundos. Talvez com uma pessoa normal, ela seja igual a todas as outras pessoas, mas ela é muito mais profunda do que isso!
Apenas mostra a sua segunda faceta com certas pessoas - felizmente, eu sou uma delas. É filósofa, inteligente, preocupada com coisas que vão muito além do interesse geral, e é uma excelente escritora, conseguindo captar inspiração de qualquer coisa.
Esta sua segunda faceta, esta sua verdadeira faceta, é apenas para alguns. Apenas para os que não têm preconceito, para aqueles que conseguem aceitar. Para aqueles que dão valor à mente

De um recente, mas bom amigo.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

sei sem saber

Amo-te como o rio que não corre deliberadamente pelas colinas.
Amo-te sem te sentir, sem te conhecer.
Sei-te, não te sabendo, sem padrão ou vontade expressada.
Expresso-me não o sabendo.
Sabendo que te amo, amo-te sem o saber.
E deixo que o rio corra pelas colinas, sem haver movimento na minha ação.
Ou como este vento que fica retido em mim, sem vez alguma parar.
E quero-te, em corpo pensado. Em pensamento que a tua presença não me traz. Presença física, definem os propositadamente padrões estipulados, que alterna com esta presença ausente. Presença que não consigo saber, nem escolher. Porque nem o desejo, não sabendo qual a melhor.
Porque o rio corre, mas não deliberadamente. Porque não o precisa.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

não se deixem, artistas, intimidar pelos moldes padronizadores!

«A Arte não tem sistemas, tem emoções. (...) Queremos ser livres! Fugimos aos dogmas do ensino, às imposições dos mestres, e, quando possível, às influências das escolas, porque cremos que os artistas têm uma só escola - a Natureza; um dogma único - o Amor.»

Manuel Bentes, em A Capital de 7/4/1911