terça-feira, 26 de julho de 2011

11. Carta a um falecido com quem gostavas de falar

Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.

so lonesome by ~C-h-r-i-s-P on deviantART

Todos os anos por esta altura o Sol deixa de brilhar para mim e recolhe-se por entre nuvens. O calor lá fora é substituído pela humidade dos céus, que me tenta tocar através destas janelas que me protegem. Cá dentro, porém, o calor não se desvanece; mas não consigo deixar de reparar na chuva que cai.
Passo a mão direita pelo braço esquerdo acima e deixo soltar um suspiro. Já há algum tempo que a tua voz não entoa nos meus ouvidos. Nesta cama revolta onde me sento de pernas cruzadas, lembro-me das vezes em que te erguias como uma muralha contra a violência exterior, para que esta fosse impedida de me tocar, ao embater no teu forte e corajoso peito.
De alguma forma, a tua ausência fez com que durante muitos anos eu não fosse capaz de me defender sozinha. Sem aquela barreira entre mim e o mundo, tornei-me uma pessoa vulnerável a qualquer ataque. Eu não estava preparada para enfrentar o mundo tão cedo, sabes? Estava habituada a aproveitar a calma ambiental que tu me fornecias para refletir, contemplar e ponderar. Assim, sem ti, fiquei ao sabor de qualquer rajada de vento, que me fez voar para sítios muito distantes - tão distantes que preferia nunca ter passado por muitos deles.
Muita coisa mudou desde então. Hoje estou adiantada na construção da minha própria muralha. Mas tudo isto apenas foi possível porque, a meio de um dos voos, encontrei um lugar onde devo ficar e te voltei a encontrar a ti: não fisicamente nem no exterior, mas dentro de mim.
Aqueles que amamos nunca nos deixam de verdade.  (Sirius Black)
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban

E tu, pelo grande e admirável homem que foste, nunca me deixarás - nisso acredito veementemente.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

desagregantemente selados

Conteúdo para Adultos



A tarde cai sobre os estores semi-corridos da janela, deixando o quarto em tons azulados de cinza manchada. A presença dele é notória por algures atrás das costas dela, mas ela não o consegue localizar exatamente. Sente-se demasiado receosa para o encarar, mas demasiado ansiosa para querer partir.
Com um toque ligeiro das pontas dos dedos dele, ela sente o seu bafo quente arrepiar os cabelos na sua nuca, fechando os olhos delicadamente, quiçá para atenuar o efeito ou para o absorver com maior intensidade. A ligeira inclinação da sua cabeça fá-lo desejar apertá-la contra si, envolvendo toda aquela cintura com os seus braços. A observação do seu peito cuidadosamente arredondado arfar leva-o a sentir o seu estômago contrair-se enquanto se debruça mais sobre ela para lhe sugar o odor suave do seu pescoço com um leve percorrer do nariz, subindo levemente até à sua cara.
Ela estica toda a sua cabeça para trás, deixando que os lábios de ambos se colem com pouco movimento. Um novo beijo dele fá-la virar o seu tronco, segurar-lhe a nuca com veemência e penetrar o seu espírito com um dedicado beijo. Em retribuição, ele aperta-a contra si com um suspiro ininterrupto, usando as grandes mãos que possui para não a deixar ir. Ela diminui a intensidade com que o prende a si, fazendo as suas mãos deslizar suavemente pelo seu peito abaixo. Desperta o botão das suas calças e faz deslizar novamente as mãos peito acima. Ele desprende os braços da cintura dela e levanta-os, deixando-a atirar a sua única camisola para o chão.
Paralisado por momentos, contempla, com algum espanto, o quão longe chegou. Dobra as pernas, cerca as suas ancas e estica-se, levantando-a ao seu colo, enquanto caminha. Entrelaçando as suas pernas na cintura dele, vê-se ela, poucos segundos depois, encaixada no seu colo, ambos sentados na orla da cama. Ele beija-a dedicadamente, carinhosamente, sinceramente. Observa o seu rosto pálido e suave e vê as sombras das cortinas dançarem ao longo dos seus ombros, como se a sua própria pele branca fosse também rendada. Desejando revelar a sua palidez azulada, suavemente a despe e encontra-se deitado pelas delicadas mãos que o arrepiam e o completam sempre que lhe falta algo. Tinha por cima de si o corpo que reunia todo o seu desejo, a sua ambição, a sua satisfação e a sua plenitude - a sua mulher e a sua felicidade. Mulher essa que agora o protegia, preenchendo as suas fraquezas e entregando-lhe as suas em troca. Mãos essas que agora acompanhavam o movimento dos seus lábios sedentos de amor, que beijavam o seu peito como uma curandeira limpa uma ferida.
Ardentemente fez ela as suas mãos chegarem às maçãs do rosto dele, traçando o percurso inverso ao anteriormente caminhado. Aí, fez o seu corpo deslizar como uma alavanca ao encontro dos seus lábios, tendo as suas costas sido comprimidas contra aquele leito revolto. Envoltos um no outro, os seus corpos acharam-se virados e os seus lábios desagregantemente selados. E, finalmente despida, ela soube que era inseparavelmente, espontaneamente, livremente, verdadeiramente: dele.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Green Day: Song Of The Century


Sing us a song of the century
That is louder than bombs and eternity -
The era of static and contraband
Leading us into the Promised Land.

Tell us a story that is by candlelight,
Waging a war and losing the fight.
They are playing the song of the century:
(Panic and) promise and prosperity.

Tell me a story into that good night.
Sing us a song... for me.
GREEN DAY - SONG OF THE CENTURY LYRICS

segunda-feira, 11 de julho de 2011

7. Carta ao teu/tua ex-namorado/ex-namorada/antigo amor/antiga paixoneta

Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.

Gostava que lesses cada palavra que escrevo com a mesma atenção com que as escolho. Não pretendo lembrar-te do sofrimento que me causaste nem reviver o sofrimento que me causei, ao te enganar. Nenhum de nós tem cadastro limpo nesta história, mas não é reanimá-lo que pretendo. Quero, através desta carta, fazer aquilo que há algum tempo planeava fazer diretamente, fisicamente. Mas, como poderás induzir, a minha realidade mantém-se semelhante e fazê-lo é-me impossível. Não obstante, é muito importante para mim que tenhas noção de todas as coisas que te quero dizer, porque também te ajudarão, creio, a ultrapassar algum do sofrimento por que tens passado, assim como a alguns dos que te rodeiam, nomeadamente a tua atual namorada. Esta carta permitir-nos-á limpar os vestígios do passado e consolidar um problema que foi deixado aberto. Por estes motivos, reforço que gostava que encarasses isto com muita seriedade, que me lesses com muita atenção e que, ainda, mostrasses isto à tua Maria. Não me importa se vocês mantém a relação ou não, mas faço questão de que também ela leia isto.
A pessoa com quem namoraste durante menos de um mês tudo o fez por ilusão e sem amor. Gostava de ti, ou pelo menos da pessoa que achava que eras, e por isso nunca teve coragem de te fazer parar. Foi um erro, admito-o. Não adianta mais arrepender-me por isso ou sentir-me suja pelo mal que fiz. Olhar para trás só pode ser positivo enquanto é possível aprender com o passado. Juntar emoções, quer negativas quer positivas, a essa reflexão apenas nos retém nas memórias e nos impede de progredir. E quando essas emoções são negativas, para além de nos reterem, causam-nos sofrimento, que é sempre desnecessário, e perdas de auto-estima. E, como te deves recordar, eu não sou de permitir que isso aconteça.
No entanto, também sei que tudo o que fizeste foi sem amor. Por ilusão, não sei - só tu o poderás dizer. Mas sem amor sim, porque facilmente te entregaste e rapidamente deixei de te interessar. Mas acerca disso já nós conversámos e não adianta remexer nisso.
No entanto, nunca te menti quanto à pessoa que era nem nunca fingi uma personalidade que não a minha. A pessoa que tu achaste conhecer foi aquela que, de facto, conheceste e apenas um pouco menos daquela que hoje te escreve, tendo em conta que não só a minha coragem aumentou, como também a minha força, a minha determinação, o meu senso de justiça, a minha inteligência e a minha frontalidade o fizeram. Hoje sinto-me uma mulher. Há um ano, uma miúda a querer sê-lo.
Com isto, quero limpar o meu nome de todos os atos injuriosos que nos últimos meses te têm ameaçado, a ti e à Maria. Não sei como essa história se sucedeu ao certo, mas acredito que tenha a ver com alguém com um e-mail parecido com o meu que vos tenha insultado, amedrontado e, inclusivamente, ameaçado.
Bruno, eu seria incapaz disso.
Por mais mal que me fizesses, seria incapaz de te retribuir uma pequena porção que fosse de maldade ou de sequer de te desejar mal. Eu não sou vingativa nem consigo fazer mal deliberadamente. Prefiro ser a vítima do que a culpada e acarretar a dor a provocá-la nos outros.
Não adiantaria de nada tentar vingar-me. Cada acto é um fim em si e não pode ser substituído. Não é um meio para atingir algo, cada ato é único e julgável por si só. Ao fazer-te mal, eu não estaria a fazer justiça (vingando-me), porque a minha pessoa continuaria injustiçada: eu apenas estaria a cometer um outro ato malvado, nunca compensando o anterior. O anterior permaneceria lá à mesma. Acharmos que a vingança é possível não passa de uma ilusão. Fazer-te sofrer não iria apagar o meu sofrimento do passado.
Da mesma forma, de nada me adiantaria magoar a Maria, mas com um outro motivo acrescido: para além de não estar a justiçar os erros do passado (que esses permanecem onde estão, por serem um fim em si mesmos) e de estar a cometer maldade escusada, estaria a fazê-la ainda mais injustamente. A Maria não é responsável por qualquer dos nossos erros do passado. Ela não interferiu em nenhum deles, nem enquanto objeto nem enquanto sujeito. E, ainda que fosse objeto, não seria responsável, porque o ato não partiu de si. Ela simplesmente não interferiu em nada do que aconteceu entre nós. Não poderia vingar-me nela do que eu e tu fizemos, ainda que acreditasse na eficácia da vingança. Se poderia achar que ao magoá-la te magoaria a ti, vendo-me satisfeita, assim? Sou maior do que isso, Bruno. Achava que já te tinha convencido disso.
Surpreende-me, portanto, que tenhas acreditado que alguma vez eu fosse capaz de fazer o que vos têm feito, ou de sequer influenciar alguém a fazê-lo.
E, como se não bastassem estas provas racionais (que invalidam todo e qualquer ato semelhante ao que vos foi feito), há aquelas provas, que até me fazem rir, de que era impossível eu fazer fosse o que fosse. Eu, Bruno, não tenho meios para te contactar, nem para atingir a Maria - nem psicologicamente, nem fisicamente - da forma direta como vos têm feito e prometido.
Espero ter esclarecido este assunto e ter, como pretendia, limpado qualquer rastro de imaturidade que me tenha ficado agregado.
Está na altura de encarar as coisas com a maturidade necessária para ser tranquilamente feliz e seguir em frente.
Sê feliz, Bruno, sem que guardes remorsos da minha parte.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

acima de qualquer outro poder

Harry pensou durante uns momentos e depois perguntou:
- Portanto, se se destruírem todos os Horcruxes, é possível matar o Voldemort?
- Sim, acho que sim - respondeu Dumbledore. - Sem os seus Horcruxes, o Voldemort será mortal, com uma alma mutilada e reduzida. Porém, nunca te esqueças de que, apesar de a sua alma poder ser atingida para além da regeneração, o seu cérebro e os seus poderes mágicos permanecem intactos. Será necessária uma capacidade e um poder invulgares para matar um feiticeiro como o Voldemort, mesmo sem os seus Horcruxes.
- Mas eu não possuo esses poderes - afirmou Harry espontaneamente.
- Possuis, sim - contrapôs Dumbledore com firmeza. - Tu tens um poder que o Voldemort nunca possuiu. Tu consegues...
- Eu sei! - interrompeu Harry impacientemente. - Eu consigo amar!
J. K. Rowling, Harry Potter e o Príncipe Misterioso

terça-feira, 5 de julho de 2011

segunda-feira, 4 de julho de 2011

um homem "às direitas"

CÁRMEN: Olha, hoje estive a pintar as unhas à francesa.
RUI: E como ficaram?
CÁRMEN: Não ficou lá muito bom, mas para primeira vez não está mau. Razoáveis.
RUI: Eu não percebo nada disso...
CÁRMEN: Não sabes como são?
RUI: Não, eu não costumo pintar à francesa. Quer dizer, eu não pinto as unhas!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

nos braços de alguém maior

A vida passava-lhe por entre a mãos, sem que se apercebesse do tempo ou do espaço. Sofria golpes profundos, mas não se apercebia de aquilo ser dor. Era todo um mundo novo que descobria. Com ninguém falava, ninguém a ouvia. Os seus olhos eram a principal fonte de extração de matéria, porque desvendava o que a rodeava duma forma surpreendentemente visual. Os outros gritavam, corriam, sorriam, choravam... mas ela permanecia quieta, desconhecendo o que a rodeava, interessando-se por terminar os mistérios que tanto a fascinavam.
O seu reflexo no espelho era uma diversidade de cores que a transportavam para uma nova dimensão. Dentro da sua cabeça, milhares de pensamentos radiavam e se transmitiam como feitiços lançados de varinha em varinha, quais impulsos eléctricos inevitáveis. Aproximava-se e, de olhos esbugalhados, tocava a imagem de uma criança pequena, com aspecto rechonchudo e longos, grossos cabelos.
De mala às costas, os outros gritavam e corriam. Tinha-se acostumado àquele sentimento que lhe apertava o coração e lhe refrescava e salgava o rosto, molhando o vestido que a avó tinha engomado com tanto carinho. E tinha medo de se aproximar dos outros, que gritavam e corriam de mala às costas. Como devia ser bom ser apertada por entre os braços de alguém maior do que ela, que lhe sorri por a ver!
Finalmente, a sua vez.
Larga tudo o que tem nas mãos, corre para os portões verdes que a protegiam do exterior.
- Mãe!, exclamou, feliz. Que agradável surpresa, desta vez a sua única companhia para almoço não será a solidão.
- Mãe?
Os outros, de malas às costas, gritavam e corriam.
- Mãe!
Mais, e mais, e mais. Apertados nos braços de alguém maior, sorrindo-lhes por os verem.
- Eu quero a minha mãe! Mãe!
Deixem-na. Soltem as correntes.
- Mãe!, berra. Mãe!
Lembra-se apenas de chorar compulsivamente. A agonia comprimia-lhe o sonho. Apertada nos braços de alguém maior, ninguém sorria por a ver. Queriam apenas saber porquê tanto alvoroço. Talvez fosse febre.
- A minha mãe desapareceu!
Ou talvez mais do que isso.

Alicia Keys: If I Ain't Got You

Para a minha Diana, por ser a melhor amiga que alguém pode ter.



«Some people live for the fortune. Some people live just for the fame. Some people live for the power, yeah. Some people live just to play the game.
Some people think that the physical things define what is within and I have been there before, but that life is a bore - so full of the superficial!
Some people want it all, but I do not want nothing at all if it ain't you, baby, if I ain't got you, baby.
Some people want diamond rings, some just want everything, but everything means nothing if I ain't got you, yeah.
Some people search for a fountain that promises forever young. Some people need three dozen roses and that is the only way to prove you love them. Hand me the world on a silver platter and what good would it be with no one to share, no one who truly cared for me? (...)
Nothing in this whole wide world do not mean a thing if I ain't got you with me, baby!»