quarta-feira, 30 de maio de 2012

Personagens de uma Paixão Platónica

Conteúdo para Adultos


    A pele morena que me encanta, os carnudos lábios que me seduzem. As suas mãos nas minhas costas, descendo gentilmente, apertando-me contra o corpo que me consome. As minhas na sua nuca, aceitando, entregando, retribuindo o desejo de querer, de tocar, de fazer. Em volúpia desatenta, mas concentrada - entre dar e receber, num afastamento intencionalmente falso, num aproximar de respirações ofegantes que definem dois corpos suados. A pressão entre desejos, a divergência convergida, convergente, ardente. A força entre um e outro, que do empenho de ambos parte, a não desistência, a resistência, a incomplacência. O amar, o querer, o rasgar, o ter, o prazer!
     Lá fora, harpas cantam, pianos suspiram. A brisa morna, soprando das árvores, sussurra aos ouvidos canções de embalar, mais frescas do que os corpos, que vibram, alargando, massajados.
   O repousar da fé em mútuo olhos, espiritualmente trocados. O tocar de peles que se conhecem e não se cansam uma da outra. O saltar de um peito que parece nunca se habituar ao explorado, sendo sempre perdurado. O sentir pequenos e ásperos pêlos caraterísticos na ponta dos delicados dedos de seda. A fusão entre braços por abraços. Os passos das aves, irradiantes de calor que descontrai e quebra a tensão muscular. Os frágeis dentes de leão que voam no azul meio: azul de carícia, de mimo, de ternura. O vento que passa e os cabelos que dançam. Os narizes que trocam pequenas e cuidadosas impressões, como tímidos amantes que se entregam por dedicação, cujos rostos aquecem, um colorindo-se, o outro observando-o.
     A cabeça que se encaixa no ombro, o braço que segura o tronco e os dedos que se enlaçam. A paz, devota.