segunda-feira, 13 de setembro de 2010

aqui, a nosso lado

Ainda não consigo acreditar que voltei ao normal. O normal, isto é, aquilo que me foi prometido nunca mais se concretizar.
Se por um lado, tive medo de uma reacção, por outro, tive a confirmação exacta - não só conselhos e palavras dos outros - de estar errada.
Um pontapé iria despertar-te. Deverias começar a brincar comigo, como é de esperar, isso consolar-me-ia. É então que, mais do que uma diversão, deixas que entre em ti, talvez não aches perigo em mostrar-me aquilo a que apenas tu tens direito. Mais do que um beijo de cumprimento, um forte abraço, envolto em saudade, é entre nós trocado. Quem diria, o senhor-super-reservado a demonstrar tanto carinho?

- Vá, anda lá, conta... Fala comigo!
Eu sei que vais compreender. Sei que também compreendes que não sou superficial e por isso - não no sentido da cusquice, nem sequer no da obrigação: tu fá-lo porque me estimas e sabes que não te negarei a confiança - simplesmente não me peças para publicar a minha intimidade; eu conto-ta, partilho-a contigo, mas não de forma a que todos ouçam. A confiança não vem bem de mim, está entre nós dois. Sei que entendes isso, és o melhor amigo que algum dia pude ter. Sei que te preocupas, daí a persistência:
- Vamos ali para cima, onde não nos ouvem e não reparam em nós. Anda, senta-te aqui ao pé de mim.

Hoje sento-me, aqui, a teu lado. O calor amolece-nos e o professor discursa para todos: os que o ouvem, os que querem ouvir e não conseguem e os que não conseguem ouvir porque não o querem realmente. Nada disso existe, nada disso importa. O sol entra pela janela e destaca os teus olhos cor de mel. O teu cabelo preto brilha, enquanto mantens uma postura que representa um belo e vigoroso homem, dotado de sentimentos menos afectivos, mais fechados e reservados; mas quem está aqui, a teu lado, sou eu, a decifrar-te a consciência, e eu, a teu lado, vejo o sol entrar na janela e iluminar os teus profundos olhos de mel, que mostram, no mais precioso campo, o interno, o amor que resplandeces e a sensibilidade dentro de ti. Quem está aqui, a teu lado, sou eu e eu sei mais do que quase todos - não quero insultar os teus pais nem fingir que sou a mais sábia, porque há grandes pedaços de sabedoria que não posso absorver - os que te rodeiam, tenho mais do que os outros têm: eu tenho-te aqui, a meu lado. Sempre tive, agora vejo-o. Sempre que me foi possível ter-te aqui, a meu lado, tive-te. Os outros estão apenas a rodear-te. Raros são os que realmente te têm ali, a seu lado. Sinto-me orgulhosa por isso, confesso-o. E nada mais existe, nada mais importa.

Ah, o prazer da proximidade física! Parece um dos meus melhores sonhos. Parece impossível que naquele exacto momento, estou ali, convosco a meu lado, de volta à escola.

Desta vez, tive demasiado medo de te perder e isso acordou-me. Desta vez, vou aproveitar cada minuto e nunca mais hesitarei sentir!

8 comentários:

Andreia André disse...

"Desta vez, tive demasiado medo de te perder e isso acordou-me. Desta vez, vou aproveitar cada minuto e nunca mais hesitarei sentir!"

Por vezes o essencial é invisível aos olhos..
=)

Anónimo disse...

Andreia André: Porém, a observação é muito importante para a compreensão do essencial. :)

Adriana disse...

Lindo texto! É um dom de louvar, esse da escrita. Usar de forma tão explícita a subtileza das palavras para formar textos tão reais e sentidos é realmente algo a preservar. Tu consegues transportar os teus leitores para o teu mundo de forma, aparentemente, tão fácil que se torna uma experiência mágica, penso eu, de parte a parte. Se há alguém que eu admiro mais que o maior dos meus amigos, és tu, sem dúvida, uma das maiores e melhores amigas que já tive o prazer e a honra de conhecer. Cada vez que dou por mim no teu blogue, acabo por me encontrar, de novo, no campo do Externato, entre pensamentos e teorias, entre caixas e sentimentos, de novo ao lado da pessoa na qual encontrei uma parte da minha personalidade, escondida e camuflada entre a tua que sempre foi tão forte e singular. Nessa altura, talvez por estarmos juntas fisicamente, sinto que entendia melhor o teu ser. Isso era das poucas coisas que me davam alegria, nesses tempos de jovem adolescência em que tudo era ainda mais difícil que agora e que um simples sorriso doía mais do que era suposto, mais do que eu pensava ser permitido. Tu, na tua objectividade de pessoa sincera, acalmavas o meu pranto interno e eu tentava, como podia, como sabia, acalmar o turbilhão que era o teu coração. Hoje, separadas pelo espaço físico, afastámo-nos gravemente, mas não irremediavelmente, é o que sinto. Este blogue, que prezo muito, faz com que estejas presente, aqui, sentada a meu lado, por vezes caminhando as duas lado a lado, como naqueles dias, no campo do Externato, em que a Teoria da Caixinha se formou e nos uniu nessa tarde perdida no tempo que volto a encontrar nos tesouros da minha memória. É a essas recordações que o meu inconsciente acede quando me perco nos teus textos, nos teus pensamentos, nas tuas vivências, nas tuas sensações. É nessas alturas que, sem dares conta, voltas a estar comigo, a passear no campo semi-deserto, às voltas naquele espaço, dando asas ao coração, fazendo-o chegar a mim e permintindo-me ajudar-te a compreenderes-te um pouco melhor, tal como tu me ajudaste a mim, não só a entender-me, como a entender-te.
Amiga, twin, sinto tanto a tua falta. Continua a escrever neste blogue, que é o ponto de (re)encontro nas nossas tardes de sala de estudo, naquele campo do Externato. =')

Adriana disse...

Lindo texto! É um dom de louvar, esse da escrita. Usar de forma tão explícita a subtileza das palavras para formar textos tão reais e sentidos é realmente algo a preservar. Tu consegues transportar os teus leitores para o teu mundo de forma, aparentemente, tão fácil que se torna uma experiência mágica, penso eu, de parte a parte. Se há alguém que eu admiro mais que o maior dos meus amigos, és tu, sem dúvida, uma das maiores e melhores amigas que já tive o prazer e a honra de conhecer. Cada vez que dou por mim no teu blogue, acabo por me encontrar, de novo, no campo do Externato, entre pensamentos e teorias, entre caixas e sentimentos, de novo ao lado da pessoa na qual encontrei uma parte da minha personalidade, escondida e camuflada entre a tua que sempre foi tão forte e singular. Nessa altura, talvez por estarmos juntas fisicamente, sinto que entendia melhor o teu ser. Isso era das poucas coisas que me davam alegria, nesses tempos de jovem adolescência em que tudo era ainda mais difícil que agora e que um simples sorriso doía mais do que era suposto, mais do que eu pensava ser permitido. Tu, na tua objectividade de pessoa sincera, acalmavas o meu pranto interno e eu tentava, como podia, como sabia, acalmar o turbilhão que era o teu coração. Hoje, separadas pelo espaço físico, afastámo-nos gravemente, mas não irremediavelmente, é o que sinto. Este blogue, que prezo muito, faz com que estejas presente, aqui, sentada a meu lado, por vezes caminhando as duas lado a lado, como naqueles dias, no campo do Externato, em que a Teoria da Caixinha se formou e nos uniu nessa tarde perdida no tempo que volto a encontrar nos tesouros da minha memória. É a essas recordações que o meu inconsciente acede quando me perco nos teus textos, nos teus pensamentos, nas tuas vivências, nas tuas sensações. É nessas alturas que, sem dares conta, voltas a estar comigo, a passear no campo semi-deserto, às voltas naquele espaço, dando asas ao coração, fazendo-o chegar a mim e permintindo-me ajudar-te a compreenderes-te um pouco melhor, tal como tu me ajudaste a mim, não só a entender-me, como a entender-te.
Amiga, twin, sinto tanto a tua falta. Continua a escrever neste blogue, que é o ponto de (re)encontro nas nossas tardes de sala de estudo, naquele campo do Externato. =')

Sílvia disse...

Não hesites mesmo, senão a oportunidade perde-se.
O texto está fantástico (as always!)*

Anónimo disse...

Adriana: Bem, quanto ao aparentemente não sei... O gosto pela escrita já está tão enraizado dentro de mim que, como podes observar, a inspiração vem-me momentaneamente até numa aula de Matemática Aplicada às Ciências Sociais e rapidamente algumas frases são instantaneamente formadas na minha cabeça, sendo depois utilizadas nas minhas entradas de blogue.
Uma correcção que gostava de te fazer é o facto de eu não ser das tuas maiores amigas. Como tu sabes, eu sou das mais baixas. :))
Quanto ao ser mais difícil antigamente, tenho as minhas dúvidas, mas tenho de reconhecer que algumas dificuldades e dores não me atormentam mais.
E, por fim, como se eu não tivesse nada mais a apontar, sinto-me obrigada a discordar contigo. Eu nunca considerei que nos tivéssemos afastado gravemente. Fisicamente, já lá vão dois anos sem te ver, mas... em palavras, em texto, em memórias, em imagens e em amor, tu continuas a ser umas das pessoas mais interessantes e maravilhosas que tive o prazer de descobrir e conhecer, considerando-te, ainda hoje, uma das maiores fontes de confiança que tenho.

Sílvia: Ora, que exagero. :) Nem sempre produzo textos tão bons quanto isso e atrevo-me a dizer que nunca fiz um texto extraordinariamente invulgar, que deixasse perplexa toda uma audiência e, ao mesmo tempo, me fizesse sentir que não houvesse nada a melhorar.

Adriana disse...

Oh minha cara amiga, devo dizer que se todas as objecções aos meus textos fossem essas, eu não me importava de as receber todos os dias xD Acreditas que aquilo que disseste fez com que te sentisse mais perto? O ser humano é ou não invulgar?! xDD Mas vou, como não poderia deixar de ser, comentar o teu comentário =) Quanto à escrita, a tua inspiração é realmente imprevisível e espontânea, o que me parece algo positivo. Quanto à tua estatura, o tamanho é simplesmente irrelevante. Se a altura fosse proporcional à grandeza da alma, eras para aí da altura do Beirão, e olha que nos seus enormérrimos 2 metros ele é difícil de superar xD Quanto às dores, mágoas e suas semelhantes, devo dizer que as minhas são comparativamente menores, mas reconheço a veracidade das tuas palavras no teu caso particular.
Por fim, folgo em ler a tua opinião em relação à nossa amizade, e sinto em mim, neste momento, um eco das tuas palavras. Devo também agradecer-te a confiança e dizer que tens a minha. Para rematar, quero que saibas que me tem sido mais difícil "ler-te", porque, acho, é-me mais fácil perceber o que sentes se estiver a ver as tuas reacções pessoalmente. Apesar de os teus textos e confissões serem específicos o bastante. Percebes, parece-me claro que é mais fácil de perceber o que uma pessoa está a sentir pela sua expressão facial. Parece-me a mim =P Esse é um dos "gravementes" que sinto.
Beijos grandes ;)

Anónimo disse...

Adriana: Hum, sim, realmente, nesse aspecto estás realmente certa. Embora uma carta sincera expresse o que sentimos, os sentimentos são sempre tão grandes que se tornam indescritíveis e, por isso, há sempre novas coisas que poderíamos acrescentar, mas fazê-lo seria demasiado exaustivo. O contacto físico é, nesse aspecto, importante, porque conseguimos, através da observação, perceber melhor alguns aspectos que a escrita não pode descrever. Além disso, não há nada como um bom abraço, não é? Quando falaste em afastar, pensei que te referisses a uma diminuição da amizade e da confiança, daí ter discordado plenamente. Ainda hoje, quando faço referência a ti com os meus "novos" amigos e me perguntam quem tu és, é frequente ver-me dizer que és, ainda, uma das minhas melhores amigas. :)
Que lamechice... :p