quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Rapariga dos Óculos Espelhados


Debaixo de uns óculos de sol espelhados, está uma moça. É jovem, ela.
E que mistérios esconde? Que histórias a marcam?
A duma fantasia que se quebrou cedo de mais e a duma violação numa idade demasiado adequada.
Onde está a criança que se achava feliz, enquanto brincava com bonecos?
Num passado muito longínquo, onde a sua família ainda estava razoavelmente unida.
Mas onde está ela?
Não está. Foi assassinada, a pobre menina que costumava tentar quebrar as leis da gravidade, enquanto os seus caracóis pretos esvoaçavam, contentes de ser arrastados.
É uma lástima.
O que fazem estes óculos em si?
O coração, rasgado, esqueceu-se do tempo. Os olhos, vazios, deixam escapar água por baixo das frestas. A boca permanece aberta, deixando a saliva secar. Está ali imóvel, como se não pensasse, não sentisse, não vivesse. Está ali há horas. Desde que a granada explodiu. De óculos postos e deveres pendentes, embora não haja sol nem tempo a perder.
Perdido o tempo está. Não importam os deveres, ela está incapaz de agir.
Não depende minimamente de si.
E por isso espera ser consertada, enquanto o seu coração, rasgado, tenta cicatrizar-se com o ar, pelo que está aberto ao vento, que a penetra sem que ela reaja, deixando-a em tons de cinza e branco.
Mas nem o cinza nem o branco são a sua cor. Sem cor ela é. Ela é tudo o que restou. A sua transparência deixa-a assim, sincera e vazia. Inexpressiva. De óculos postos e deveres pendentes.
E assim, pura e vazia, soprai as cinzas e levai-a. Para que não sofra mais.

sábado, 23 de abril de 2011

Christina Aguilera: Here to Stay


Well, everybody got an opinion now - do not they? -, but it ain't no thing to me. It really do not make any difference now to me if you do not like what you see. I pay no mind to the negative kind, because it is just no way to be. I do not stop to please someone else's needs. Going to live my life for me.
I am going to keep on, going to do my own thing. We all got a song that we are meant to sing and, no matter what people say or might think, I ain't going no place - no! - I am here to stay.
Going to keep on doing my thing, because, whether they love or they are hating on me, I will still be the same girl I used to be and I ain't going no place - no! - I am here to stay. (...)
I have never been the type to be shy. I know that some would say I am too headstrong, but I would rather be a woman who voices her mind, whether you think I am right or wrong, and I know some people want to criticize - makes them feel better about themselves... So, say what you will, time will reveal in the end that I will be here still. (...)
Got to get up, keep my head up! Going to keep on turning it up, never let up. If I keep stepping it up, I am a prove that I ain't never going to be stopped, like it or not. (...)
No matter the pressures that face me, I believe - I believe! - that we will see I will never let anyone break me. All your doubt can do now is strengthen me, and... life? It ain't always that easy... Got to fight to see past the boundaries! Crossing the lines, I will define every time that forever is mine! (...)
CHRISTINA AGUILERA - HERE TO STAY LYRICS

Sunlight by =alicexz on deviantART

a ingenuidade com que me fazes bem

Quero fazer-te engolir toda a minha dor nesse teu peito animal.
Quero-te aqui, de novo. A meu lado.
Quero voltar a achar estranho que alguém me dê o abraço de que fujo nos momentos em que menos quero quebrar.
Pareces adivinhar sempre quais são as manhãs em que basta uma gota para me desfazer em lágrimas.
E adoro a ingenuidade com que me fazes bem. Adoro o teu espanto acanhado quando me abraças e sentes os meus braços apertarem-te contra mim com força, quando me sentes amachucar a tua camisola com as minhas mãos e enterrar a cabeça nos teus ombros. Gosto, sobretudo, da forma como ficas preocupado por sentires o teu ombro a molhar-se e os teus ouvidos detectam pequenos soluços, e como te recusas a ir embora, por mais que eu te repila, para que não sejas prejudicado por irresponsabilidade. Esqueço-me eu, crês tu, que a maior irresponsabilidade seria deixar-me ir embora naquele estado. E, por isso, te agradeço. Agradeço-te pela fidelidade que me tens disposto e por, apesar de seres, entre os meus amigos mais próximos, dos que mais obstáculos tem para falar comigo, te esforçares em manter uma amizade e por cultivares por mim de maneira tão, pelo menos aparentemente, espontânea e natural um sentimento de afecto, companheirismo e respeito, como se, independentemente do tempo que passamos afastados (embora tão perto!) um do outro e, ao mesmo tempo, em constante convívio com outras pessoas, esse movimento e toda essa agitação não afectassem minimamente a tua amizade, pois parece sempre que nunca te sentiste mais afastado de mim por causa disso.
- Pedro! Cármen! O que estão a fazer?!
- A... abraçar-mo-nos? Só isso.
- Vocês namoram?
- O quê?! Não... Não!
Mas não é só isso. É mais do que um abraço. É uma provável eternidade de irmandade.

Comfort by *ChemicalSunflower on deviantART
Agradeço-te, em suma, pelo amigo que és.
E, é engraçado, não foi preciso perder-te para reconhecer que bom ter-te a meu lado é.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Temper Temper.

Conteúdo para Adultos


Suppress these violent urges.
Rise above it.
Temper temper.

Push down these feelings
Of hate. Rage.
The lust for blood
Under your nails
On your lips.
Burning beauty.

Burn. Of course.
I will cast your damned soul
Into the fires of hell
Then char your worthless shell.
Given half a chance.

Bottled. Clenching down hard.
Hold it in.
Prevent the release.
Naughty naughty.
Go to your room.

Let it turn inwards.
I hurt them
Through my own
Weeping flesh. Satisfy
This lust for blood
Under my nails
On these lips.

Your day will come.
When I break out
Of these iron chains.
Temper Temper. by ~shantottoEars on deviantART 

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Die die die. Game over.

Gamer

So, you want to
Try again?

Each time
Life count drops
The sweaty buttons
Sticky under practised
Fingers.
Click click click.

Level up.

Moving on. Blood
Pumping, pounding.
Rounding corners
Juddering lights
Swatting away the
Opposition.
Bang bang bang.

Level complete.

Fuzzy pixels swarming
Forming the tiny person
Character. You.
A twisting maze of
False reality.
It's safe here.

Would you like to Save?
[Yes]<   [No]

Time is running out.
Leave, fall out!
Specks of light
Whizzing past
Turning, aiming
Die die die
Falling.

Game Over.


deep sleep by ~raineese on deviantART

quinta-feira, 14 de abril de 2011

2. Carta à tua paixoneta

Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.

Estou tão cansada de ti.
Cansada de só conseguir dormir contigo e de precisar de dormir todas as noites. Não compreendes por que tento cansar-me ao máximo antes de ir para a cama? Faz com que te evite.
O que mais me cansa em ti é tu não pertenceres a uma única pessoa, mas sim a várias.
Fazes com que eu me canse tanto contigo que não consiga deixar o Amor infiltrar-se em mim.
Porque todas as noites... todas as noites tu o substituis e fazes-me sentir um grande cepticismo em relação a ele. Preenches-me de mais.
E o que me custa mais é que também tu gostas de variar. É isso que me cansa mais em ti.
Fazes-me saciar todos os meus desejos sexuais e viver um grande amor com cada pessoa, porque as atrais até mim.
Fazes-me viver toda uma vida amorosa e depois acaba-la. Fazes com que repare numa pessoa em particular e focas-me nela. Fazes com que ela me conheça lentamente e nos apaixonemos.
Fazes com que ela esteja nervosa quando se aproxima de mim.
E ela aproxima-se.
Ela aproxima-se e toca-me na mão, e as nossas respirações tornam-se uma só, presas a um íman transparente que nos une. E ela aproxima-se. E ambos miramos os rostos um do outro, enquanto um de nós toca a face do outro. Os nossos narizes abraçam-se e as nossas pálpebras rendem-se à força gravitacional de Júpiter. Finalmente, os nossos lábios tocam-se suavemente e ambos ficamos surpresos com o que se está a suceder. Apenas então o interruptor da chama é pressionado e ambos contraímos os nossos corpos um contra o outro, no ardor do que é amar. Os meus braços procuram fugazmente uma posição para proteger os seus braços, as suas costas, os seus ombros, a sua cabeça; enquanto que os outros se preocupam em comprimir-me contra o seu umbigo, pressionando as minhas costas.
E sorri, tímida, tal como eu o faço durante as próximas vezes que os nossos olhos se cruzam pelo espaço - pois o sentimento que nos une é já tão enraizado e antigo que não nos é possível contrariá-lo. Só nas tentativas seguintes de um aniquilamento da desconfortável timidez é que conseguimos reconhecer um compromisso, sem alguma vez ser preciso assumi-lo claramente:
- Amo-te.
E, graças a ti, juntos vivemos o sonho de ter um companheiro a nosso lado, que nos respeita e provoca, que nos acalma e nos acende, que é fruto da sinceridade.
Mas não é mais do que isso.
Um sonho.
Não é mais do que isso, porque, depois de saciadas, nos abandonamos. Tu apresentas-me outra pessoa em particular e o mesmo sonho repete-se.
E, desta forma, não chego a amar ninguém.
E, por tua culpa, Paixoneta, consigo ter tantos amantes por ano quantos os que quiseres e não sinto a necessidade de amar na prática.
Para quê, se tu me satisfazes o desejo e a auto-confiança me satisfaz a segurança?
O Amor que, se quiser, reclame contigo.

permite que me isole

Sinto-me... a mais. Não gosto quando estendo a roupa e sei que estás a observar a forma como o faço. Não gosto quando finjo dormir e vens ver se estou bem. Não gosto quando estou a comer e vês como separo o que é comestível do que é para ir fora. Não gosto quando canto e tu escutas. Não gosto quando leio e ficas a apreciar a minha intelectualidade. Não gosto quando me perguntas por que estou triste. Nem gosto que converses comigo a fim de compreender o que penso ou sinto. Não gosto quando eu comento uma notícia e deixas de olhar para o telejornal para prestar atenção ao que eu digo. Não gosto quando me dizes que me achas bonita. Não gosto que leias o que escrevo. Nem gosto que acertes no que toca ao que estou a pensar ou a fazer. Não gosto que me faças sair cá para fora ou que tentes entrar cá para dentro.

 - Andas muito contra-vontade. Andas muito arreliada com a vida. Não andas feliz.
A grande dúvida é: alguma vez o fui?

Não gosto, repito, não gosto que me dês atenção.
Faz o que quiseres, mas, por favor, ignora-me.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

o simbolismo da cadeira

As palmas entoavam todo o recinto e comprimiam a sua sensibilidade. E todos pulavam das suas cadeiras:
- Bravo! Bravo!
E todos exclamavam a revolução cultural e apoiavam o novo movimento psicológico, alegando um futuro desenvolvimento económico. O ilustre apertava a gravata e limpava o suor da testa, sorrindo, agradecendo, mas com um ar sempre muito sóbrio, muito inchado, como se nem mesmo os louvores lhe tocassem a emoção.
- Meus senhores e minhas senhoras! Peço-vos a vossa atenção...
Mas Pedro já não escutava. A agonia que lhe causava aquela rotina hipócrita de apoio romântico e fatalismo final fazia com que as palmas continuassem a ecoar dentro da sua mente, sem que lhe fosse possível reunir esforços para se concentrar, abdicando cada vez mais do livre-arbítrio que tem face ao que tudo indica. E as palavras de seu pai da sua memória não se apagavam, fixadas no hipotálamo, desde o momento em que lhe penetrou as entranhas visuais, impedindo-o, com as mãos, de escapar daquele confronto:
- Primeiro, tens de ser suficientemente tolerante para que possas compreender todos os pontos de vista. Apenas enfim podes emitir um juízo e não te ficar por aí.
Uma cadeira ouviu-se atirar. Despedaça contra a parede, toda a esperança parecia reunir-se ali, daquela forma, naqueles pedaços de madeira tão aparentemente inúteis, desfeitos.
E subitamente o sorriso que seu pai lhe havia dado fora por Pedro compreendido.

Violation Hidden: Caveiras, o rock, e é.