quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Hoje, vi-te.

Hoje vi-te.

Sentado, com um acompanhante que nunca foi nem será teu amigo, nem sequer te acompanhará em lado algum aonde queiras ir que aspire a felicidade. E, se pedires que vá contigo destruir-se, tampouco se importará.
Porque é assim que os teus relacionamentos funcionam. Não funcionando, não existindo. E, existindo, têm de terminar. Antes que realmente te afeiçoes à outra pessoa e isso te obrigue a pensar nas consequências dos teus atos - e, sobretudo, no impacto das tuas palavras.
Liberdade, chamas-lhe. Embora saibas, no fundo, que nunca conseguiste enganar ninguém - nem a mim, nem a ti.

Vi-te. Enrolavas mais uma bombinha durante a pausa para o único trabalho digno que alguma vez tiveste. Aquele que eu te arranjei, prolongando o meu próprio desemprego.
É uma boa forma de agradecimento. Pelo menos conseguiste mantê-lo ao longo destes meses. Sem ironia ou veneno, surpreendeste-me pela positiva.

Eu tagarelava sobre as minhas teorias da sexualidade com uma das alianças que reencontrei nesta vida, e que sei que me irá acompanhar nas próximas também. Os amigos não se fazem, reconhecem-se. Lembras-te? Eu reconheci-te, mas não como amigo.

Com certeza ouviste-me e preferiste disfarçar. Afinal, não querias de todo que o teu amigo se apercebesse também. Por algum motivo que, sinceramente, pouco me importa de todo.

Foi bom ver-te. Foi bom não conseguir sentir mais nenhum arrepio, aperto ou calor. Saber que a tua missão na minha vida ficou concluída.
E foi bom ter-te tido. Melhor ainda foi perder-te. Sei hoje que foste uma oportunidade última que tive de me amar a mim própria e de ser suficientemente corajosa para me libertar do que me provocava dor.

No fundo, agradeço-te. E grata estou por te ter visto hoje e confirmado que deixar-te foi a melhor decisão que fiz até hoje. A mais egoísta também. E foi graças a esse egoísmo que pude finalmente dizer: eu sou livre, e viver hoje uma felicidade para a qual eu nunca tinha estado preparada antes. Porque, antes de ti, não saberia disfrutá-la e preservá-la.

E, como sempre, concluí que o universo é perfeito. Afinal, não sabemos quem não somos até nos perdermos.