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domingo, 15 de janeiro de 2012

29. Carta à pessoa que queres contar tudo, mas estás demasiado receoso/receosa

Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.


        O coração aperta e aquece todo o corpo. Lembra-me a sensação de estar apaixonada, mas, na verdade, talvez não seja por isso. A melancolia abala-me, e eu sei que algo está errado. Ou será que aperta porque, ao pensar no que me entristece, lembro-me do que sinto falta?
     Por vezes, confundo a realidade com a ficção. Imagino acontecimentos, personagens, e esqueço-me do que, de facto, acontece. Vivo a ficção que a minha imaginação produz e sinto-a como se fosse real. Igualmente, quando certos acontecimentos ocorrem na realidade, menosprezo-os e não os consigo sentir. Isso prejudica-me na realidade.
     Costumo sentir saudades de quando isto não acontecia -- dos tempos em que existia realidade, e só realidade, e eu era apenas prejudicada por estar nela. Mas isso, na verdade, nunca aconteceu. Eu sempre vivi a ficção e a realidade, e sempre confundi um e outro cenário. A diferença entre o passado e o presente (e esse? Existe?) é que agora eu tenho noção disto -- e outrora não. Agora eu consigo aperceber-me do que se passa comigo. Antigamente, eu poderia jurar que tudo aquilo era realidade -- e, para mim, era.
        Se, então, eu sei o que me está a acontecer e isso me prejudica, por que não o mudo? Eu já provei no passado ser capaz de alterar a ordem das coisas e, inclusivamente, mudar o meu comportamento, quando achava que o devia fazer. A grande oposição é: eu não sei se o quero fazer. Eu não quero trocar as cores de um mundo por um mundo que não me faz feliz.
        Eu não quero continuar no compromisso de atividades que não me dizem nada e que me fazem deixar para trás o que me faz deslizar de satisfação. Quero continuar a acordar todos os dias com a motivação de ser um novo dia, com oportunidades para fazer novas coisas, sem lamentar o frio que está lá fora ou as horas de sono que não dormi. Não quero continuar a acordar todos os dias e pensar que adorava não ter de sair da cama. Estou farta deste ritmo que o mundo me impõe, mas que em nada é meu. Quero partilhar com os outros as coisas que sei e, com os outros, aprender novas coisas. Quero continuar a escrever com a paixão de um amor gigante. Quero deixar de fazer batuques discretos com os meus dedos e tocar, efetivamente, um piano. Quero sujar as telas e as folhas com tintas e carvão. Quero viver com a pessoa que mais amo numa casa discreta no meio da floresta. Ultrapassar esta insetofobia que, irracionalmente, me bloqueia e voltar às raízes de toda a humanidade, à simplicidade tão pura e sincera que originou toda esta comunidade corrupta. Porque sim, eu encontrei alguém que me ama assim, com quem quero partilhar toda a minha vida. Alguém que não só conhece toda a minha estranheza, como também a acha bela. Tenho excelentes amigos, acredita, que também gostam de mim, assim como sou. Sempre duvidaste de haver por aí alguém que fosse, mas essa dúvida não era pelas outras pessoas, mas sim apenas tua. Tu nunca aceitaste os mais pequenos indícios da pessoa que eu poderia ser e nunca aceitarás que eu seja como sou. Nunca serás capaz de amar quem eu sou e, portanto, não compreendes como é possível que mais alguém o seja. Tens os olhos cheios de preconceitos que te impedem de ver para além do físico. Eliminas, logo à partida, qualquer hipótese de ser positivamente surpreendido.
       Gostava de ter o conforto monetário que me permitisse quebrar todas estas regras que me prendem a um mundo cheio de stress. Mas então surgem os meus conhecimentos de economia a relembrar-me de que o dinheiro não aparece, nem desaparece, apenas muda de local -- e que, para eu conseguir ter muito dinheiro e realizar estes meus sonhos, é preciso que, à minha conta, haja muitas pessoas que ficam longe de saber o que é sequer sonhar. E eu sei que, mesmo que eu não contribua para tal, há-de haver sempre alguém que o faça. Mas eu não quero ser essa pessoa. Não quero ser também culpada pelas injustiças que me revoltam. Não quero matar a beleza que encontrei dentro de mim.
       Mas eu sei que não sou a única a sentir estas coisas e a sonhar desta forma. Pelo contrário, tal como eu, há-de haver muita mais gente que, aparentemente, não tem nada de errado, mas que, no fundo, gostava de continuar a ser criança. Por que têm de ser as crianças sempre a única referência de quem corre, ri, brinca, festeja, é sincera e espontânea, canta e dança? Pois eu não quero crescer, não nesse aspeto, e deixar de ser feliz. E eu sei, eu tenho a certeza, que a maioria esmagadora das pessoas sente esta mesma insatisfação dentro de si. Por que, então, não nos unimos todos e nos revoltamos contra este mundo que corrompe as almas?

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terça-feira, 8 de novembro de 2011

folhas que o vento sopra


Pelo mundo vagueio, fantasma da minha própria vida. Sombra esvoaçante, dançarina volante do vento, que me guia através deste mundo tempestuoso que me cerca.
Rasgões brancos de um projeto que outrora fora parcialmente meu - e que, embora moribundo, é hoje íntegro da minha autoria. Autoria essa que é negada, projeto que é rabiscado, amachucado, atirado para longe.
O vento tenta trazê-lo de volta ao lugar a que pertence, guiando-se unicamente pelo seu instinto de dever e autonomia, conferido pelo trapo de mim que ele deseja conduzir. Deste modo, esta condução torna-se violentamente torbulenta, principalmente porque o vento não desiste de encontrar o lugar prometido à bandeira agora, e em ritmo de recuperação desigual, semi-desfeita.
Porque não: a bandeira nunca conseguiu ser hasteada. Não tem casa que a sustente, e tem buracos de tecido que não conseguem ser cozidos sem que se note que não é essa a malha devida. Sem que não se note que as suas fendas não conseguem ser tapadas com motivos insubstituíveis. Único, cada pedaço rasgado.
Por isso, eu, fantasma da minha própria vida, que sou o vento e a sombra, o projeto e a dançarina, o sol e o mar; eu, que sou muito mais do que aquilo em que nada sou, canso-me de bailar sem coreografia definida, com probabilidades improváveis.
Com esperanças desfeitas, projetos rasgados. E, sobretudo, de calçada quebrada, sem pertença distinguível.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

em demência, em dor, em violência


Calem-se as vozes, cesse-se o pranto. Termine-se o ruído, finde-se a guerra.
Recomecemos este percurso de que nos absorvemos - em dor, em demência, em ordens desordenadas, em radicalismo, em violência.
Caminhemos por este chão molhado de musgo verdejante e deixemos que os rios continuem a sua função assídua de limpeza da terra que nós sujamos. Não queiramos ser mais rápidos do que eles e permitamos que as suas suaves brisas que passeiam pelos nossos rostos infiltrem os nossos aparentemente (e agora tão golpeados!) opacos corpos e varram de nós as impurezas de que resultam as cicatrizes que nos marcam.
Recomecemos, mas por um outro caminho.

domingo, 21 de agosto de 2011

horas extraordinárias


Quando chegares a casa avisa-me, dizia o mostrador do seu telemóvel.
Ainda pensou em telefonar a avisar que tinha saído agora do trabalho e que estava a caminho de casa. Lembrou-se, no entanto, de ter ficado horas extraordinárias encafuada naquele laboratório e de ter perdido a noção do tempo.
Quatro e meia da noite, viu. Cinco horas após ter recebido aquela mensagem.
- Eu não tenho NADA a ver com isso! Percebes? Nada! Eu não quero saber disso! Estou-me nas tintas!
Ele já devia dormir e seria rude da sua parte acordá-lo para resolverem o que o seu mau humor havia causado. Agora, vinham-lhe à memória flashes da sua indelicadeza para com alguém que a amava e respeitava.
Sempre quis a seu lado alguém que a respeitasse e a amasse pela pessoa que era, ao invés do que era hábito acontecer, e agora que tinha alguém assim não lhe dava o devido valor, ou pelo menos assim achava. Parecia-lhe aquele homem merecer todo o carinho do mundo, mas que fazia ela?
- Olha, eu agora não posso falar, está bem? Estou a conduzir e não me posso enervar, para além de que não devo chegar ao trabalho neste estado. Nós depois falamos. Adeus.
Queria correr até ele, abraçá-lo, beijá-lo, passar veementemente uma borracha naquelas horas que se haviam passado antes de sair de casa. Dizer-lhe que o amava e que o queria a seu lado para sempre, porque, na verdade, queria-o mesmo. Perder-se sofregamente nos seus braços e beijá-lo como pela primeira vez. Entregar-se inteiramente ao corpo que detinha a mente que mais estimava. Tudo porque, de facto, sem saber se estavam bem, tudo à sua volta lhe parecia insignificante e melancólico: vazio e, simultaneamente, excessivamente preenchido.
Agia como se ele lhe fosse seguro e insensível. Como se pudesse esmurrá-lo verbalmente, que nenhuma das gotas de chuva que caíam nos vidros do carro fariam latejar o laço que o prendia a ela, qual âncora lançada ao mar. As âncoras, porém, também se içam e recolhem ao navio, quando há muita força de vontade para tal.
Fui uma bruta, pensou, enquanto libertava com brusquidão a mão do telemóvel, para apoiar a cabeça. No fundo, havia feito com ele o que os outros haviam anteriormente feito com ela, num egocentrismo egoísta e exagerado. Sabia que ele merecia muito mais do que aquilo e que ela era capaz de lho dar. Urgentemente, precisava de lhe pedir desculpa, mas agora já era tarde.
Desviou o caminho que a levava até casa. Com as chaves que ele lhe havia concedido, abriu a porta da casa dele o mais silenciosamente possível, de modo a que, na manhã seguinte, quando ele acordasse e visse que ela não lhe tinha telefonado, reparasse no corpo que vestia uma camisola sua e dormia a seu lado, quiçá por se mover e o sentir ou talvez por lhe enviar uma mensagem a perguntar Então? e ouvisse de imediato o destinatário a recebê-la, ali mesmo, no seu próprio quarto, compreendendo que, afinal, era apenas uma mulher arrependida e, no fundo, verdadeiramente inofensiva.

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sábado, 13 de agosto de 2011

1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (III)

Em seguimento de Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (II).

Arrumava os livros dentro da mala quando suspirou, tentando libertar o sufoco de emoções que o envolviam:
- Tu dás-me cabo do juízo, rapariga! - disse, com um sorriso jovial na cara, na esperança de que aquele dilema que o atormentava se fosse embora e de que ela não o interrogasse mais, chegando-lhe aquelas palavras para que ela não persistisse em martelar as suas têmporas com todo aquele sentimento que ele desejava mas não queria.
Ela não compreendia. Não conseguia compreender. Ele ora se mostrava desejoso de reconcilio, ora se mostrava receoso do que o esperava - mas não dispunha de um receio de quem está amedrontado e, no fundo, deseja que lhe peguem na mão e mostrem que o caminho é seguro, não: ele dispunha um receio de quem reprime a muito custo e muito deliberadamente as suas emoções, de quem pretende findar aquilo. No entardecer daquele sol quente de verão, ela não compreendia porquê tanta oscilação. Amor impossível? Não, não era. Nenhum amor era impossível, apenas mais ou menos difícil.
Olhou para o horizonte, o sobrolho franzido, o rosto tenso carregado de um orgulho que a ele lhe lembrava um herói a enfrentar psicologicamente um combate que tem pela frente, qual William Wallace; e, embora fosse o seu guerreirismo uma das características que mais o requintassem, naquele momento a sua expressão era visivelmente preocupada, por saber que aquela força era uma defesa contra o provável sofrimento de que ele era responsável. E, numa vontade de a abraçar e lhe pedir perdão, viu-a principiar um adeus:
- Já se faz tarde - desculpou-se, elevando o braço esquerdo ao nível do peito para ver as horas. A sua expressão seguinte, no entanto, foi a de gesticular as sobrancelhas com ar sóbrio e inclinar a cabeça, como quem reconhece um problema a resolver sem saber bem como: - E nisto já perdi o transporte para casa.
- Bem... eu até te levava, mas eu não conheço esta zona aqui...
- Pois, eu sei.
- ...A menos que tu me saibas indicar o caminho.
- Não, deixe estar - respondeu, determinada a pôr um ponto final naquela história. - Eu desenrasco-me.

Continuação em 1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (IV).

quarta-feira, 15 de junho de 2011

25. Carta à pessoa que tu sabes que está a passar pelos piores tempos

Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.

Uma gargalhada constante, uma fuga à realidade. Assim tu te apresentas, engraçada e bela.
Um ligeiro movimento, uma dor intensa. Assim tu te escondes, ferida e incurada.
Às vezes penso que esse teu jeito de ser é uma afirmação clara de que desististe.
Costumava pensar que era uma forma de mostrares que não queres desistir. Porém, isso não seria coerente com os pensamentos em que te encontro na solidão, real. Posteriormente, passei a achar que era isso uma forma do teu orgulho fingir que ainda não desististe. Agora? Agora penso que toda a tua energia é uma declaração de quem não quer mais saber de si. Apenas dos outros. Do seu bem-estar. Por mais que isso seja uma ilusão.
Já te acostumaste a este fim. E é um fim porque assim tu crês. Se tu própria admites ser um fim, não há quem o consiga recomeçar. Não conseguem os outros enganar-te quando tu própria já não te iludes.
Pobre mulher.
Não merecias esta história.
Ou será que sim? A nossa história é um acumular das opções que fazemos. Ainda assim, deverias ter sido feliz. Mas ninguém mais interferiu nas tuas opções. Tu, apenas. Tu, só. Tu, o teu medo, o teu orgulho e a tua insegurança.
Tu.
Tu que foste educada ao bom estilo típico romântico. Tu que fazias palpitar os corações das ruas por que passavas e agitar todas as saias que vestias. Tu, a mulher que outrora era a bailarina, a fadista, a cara-linda, a boa moça. Tu, a criança que hoje corta partes do seu próprio interior para poder viver mais uns anos, uns meses, umas horas que sejam.
Para me ver feliz.
Para que eu não perca mais um ente numa idade tão tenra. Para que eu possa chegar a casa e saber que tenho um par de braços a quem abraçar, um par de bochechas a quem beijar. Uma figura materna a quem amar.
Tu, minha heroína, prendes-me a esta vida. Com tudo o que isso quer dizer.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Rapariga dos Óculos Espelhados


Debaixo de uns óculos de sol espelhados, está uma moça. É jovem, ela.
E que mistérios esconde? Que histórias a marcam?
A duma fantasia que se quebrou cedo de mais e a duma violação numa idade demasiado adequada.
Onde está a criança que se achava feliz, enquanto brincava com bonecos?
Num passado muito longínquo, onde a sua família ainda estava razoavelmente unida.
Mas onde está ela?
Não está. Foi assassinada, a pobre menina que costumava tentar quebrar as leis da gravidade, enquanto os seus caracóis pretos esvoaçavam, contentes de ser arrastados.
É uma lástima.
O que fazem estes óculos em si?
O coração, rasgado, esqueceu-se do tempo. Os olhos, vazios, deixam escapar água por baixo das frestas. A boca permanece aberta, deixando a saliva secar. Está ali imóvel, como se não pensasse, não sentisse, não vivesse. Está ali há horas. Desde que a granada explodiu. De óculos postos e deveres pendentes, embora não haja sol nem tempo a perder.
Perdido o tempo está. Não importam os deveres, ela está incapaz de agir.
Não depende minimamente de si.
E por isso espera ser consertada, enquanto o seu coração, rasgado, tenta cicatrizar-se com o ar, pelo que está aberto ao vento, que a penetra sem que ela reaja, deixando-a em tons de cinza e branco.
Mas nem o cinza nem o branco são a sua cor. Sem cor ela é. Ela é tudo o que restou. A sua transparência deixa-a assim, sincera e vazia. Inexpressiva. De óculos postos e deveres pendentes.
E assim, pura e vazia, soprai as cinzas e levai-a. Para que não sofra mais.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

permite que me isole

Sinto-me... a mais. Não gosto quando estendo a roupa e sei que estás a observar a forma como o faço. Não gosto quando finjo dormir e vens ver se estou bem. Não gosto quando estou a comer e vês como separo o que é comestível do que é para ir fora. Não gosto quando canto e tu escutas. Não gosto quando leio e ficas a apreciar a minha intelectualidade. Não gosto quando me perguntas por que estou triste. Nem gosto que converses comigo a fim de compreender o que penso ou sinto. Não gosto quando eu comento uma notícia e deixas de olhar para o telejornal para prestar atenção ao que eu digo. Não gosto quando me dizes que me achas bonita. Não gosto que leias o que escrevo. Nem gosto que acertes no que toca ao que estou a pensar ou a fazer. Não gosto que me faças sair cá para fora ou que tentes entrar cá para dentro.

 - Andas muito contra-vontade. Andas muito arreliada com a vida. Não andas feliz.
A grande dúvida é: alguma vez o fui?

Não gosto, repito, não gosto que me dês atenção.
Faz o que quiseres, mas, por favor, ignora-me.

domingo, 20 de março de 2011

o mais audível grito

Dance by *kittynn
Encontramo-nos frequentemente, mas não nos conhecemos. Ou aliás, talvez ela me conheça, mas eu não a conheço, não sei quem ela é, o que quer de mim, por que me persegue ela ou quando há-de ela aparecer para ficar.
Estou cansada desta luz ténue que ilumina os meus dias enquanto ser que desconhece a morte.
Estou cansada de me enclausurar dentro da minha própria alcova e de ter receio de derrubar alguma coisa se a quiser abrir de vez. Está na altura de decidir entre ter precaução com a forma como a abro para não magoar os outros, não conseguindo passar por esta fresta estreita, e importar-me com a minha libertação e abri-la de rompante, com todas as forças que tenho, duma vez por todas.
Chega de janelas pequenas e lâmpadas de curta voltagem! Vou abrir as largas janelas que tenho no meu quarto, puxar as cortinas para o lado, arrancar os estores e deixar que o Sol fortaleça as células que me constituem e afogue as minhas mágoas com a sua luz! E, pronta para te receber, felicidade, chamar-te-ei o mais audível que as minhas cordas vocais e o meu diafragma me permitirem, para que saibas que nunca mais te vou deixar!


Do not be scared to fly alone. Find a path that is your own. (...)
What are you waiting for? Spread your wings and soar! (Christina Aguilera)

domingo, 27 de fevereiro de 2011

desmotivação irracional

Há algumas horas que pousam na minha secretária uns quantos livros, que no computador estão janelas abertas e que algumas folhas pairam por aí. Diz um cabeçalho Sessentas Estrangeirados, mas os meus olhos desviam-se. Diz outro Ética Sofistica: o papel educativo da relativização dos valores. Mas não é de política, nem de bem, nem de Sócrates, nem de Cálicles, nem do liberalismo em Portugal, nem de estatística, nem de métodos eleitorais, nem de probabilidades que quero falar. Aliás, não quero falar. Sinto a saudade do teu abraço ao abrigo das árvores frescas de primavera e o único desejo que tenho é de correr para os seus braços, chorar no seu ombro e rogar-lhe que não vá embora. Mas não consigo arrepender-me do que disse, por mais que a estime, porque sei que estou certa.
Por isso, vou tomar banho. Talvez me passe a sensibilidade e me concentre na Razão, porque só ela me dá bons conselhos. E porque preciso de trabalhar e não me quero ir abaixo.



Por que raio arranjo sempre um motivo para ficar não feliz quando pareço estar bem?

o eco dos últimos passos


Estou deitada na minha cama. O relógio ainda não parou de me segredar que daqui a pouco é manhã e que ainda não dormi, os meus olhos ainda não pararam de me pedir que os deixasse descansar, mas as cortinas ainda não pararam de me sugerir que as seguisse.
- Vem, dança connosco!
O céu está limpo. Consigo ver cada estrela do meu futuro. Não há nuvens que se atropelem pelo caminho.
Sinto-me cansada de viver. Cansada de ultrapassar obstáculos, de enfrentar problemas e de dizer a mim mesma:
- Vou lutar contra tudo e contra todos os que acredito estar mal e, um dia, serei muito feliz.
Estou cansada de ser guerreira e de sonhar. Constantemente a minha força é golpeada e constantemente tento cicatrizar a dor.
- Irra! Nunca quis ser enfermeira!
Mas é nisso que toda a minha vida se tem baseado: batalhar, cair, levantar, limpar o sangue, batalhar, cair, levantar, limpar o sangue.
- Vem ser feliz, dança connosco!
Estou cansada de dançar, meu amor. Estou cansada de arriscar.
- Tu nunca dançaste connosco! Vem, vem ser feliz! Vem ver o que o futuro te espera!
E o que me acontece a seguir?
 Os meus olhos cansaram-se de me pedir para os deixar dormir. Já não querem saber. Levanto-me e vou até à janela. Passo por detrás das cortinas e abro a janela.
O vento acaricia-me o rosto e lava-me a dor. É como receber um forte abraço de carinho ou um terno beijo, depois de chorar compulsivamente.
- Tu não entendes que me magoas?! Não vês que eu nunca fui feliz? Não vês que nunca sorrio de contentamento? Não vês que me destróis lenta e dolorosamente? Não tens em conta a maneira como me fazes sentir?
- Eu quero lá saber disso! Tu, para mim, és como um negócio! Eu comprometi-me a lucrar x e vou até ao fim! Quero lá saber se isso te magoa ou não. És um objecto nas minhas mãos, sou eu quem te controla!
Suspiro. Por vezes, gostava de não me ter iludido com a ideia de que fazias tudo para me ver feliz, mas que não conseguias, mesmo por incapacidade, ver os efeitos secundários das tuas palavras e acções. Gostava de nunca ter prometido a mim mesma nunca sair de casa antes de tu morreres, nem mesmo para fazer uma família. Jurei cuidar de ti até aos teus últimos dias e, agora, gostava de nunca o ter feito.
Acaricio o parapeito da janela. Quantas vezes já não me tinha encontrado contigo, meu amor, por esta janela que dá para a floresta? Perdi-lhes a conta. Ao longo de todos estes anos, vento, tu foste o único que sempre esteve disposto a limpar a minha dor, para que eu pudesse reflectir, mesmo que fizesse calor. Tens sido o meu único porto seguro, o único motivo que tenho para dizer que não estou sozinha. E quantas vezes não quis eu pular daqui e tu me impediste? Quantas vezes não me lembraste das minhas promessas e dos meus ideais, e da minha Razão e da minha consciência? Tens sido o melhor e mais solícito amigo que tenho tido, ao longo de todos estes anos.
Mas hoje o céu está limpo. Consigo ver cada estrela do meu futuro. Não há nuvens que se atropelem pelo caminho.
- Vem, dança connosco! Vem ser feliz! Tu nunca dançaste connosco.
Talvez tenha sido esse mesmo o meu problema: nunca ter dançado convosco. Talvez nunca tenha arriscado o suficiente. Mas hoje o céu está limpo.
Olho o relógio. Ainda não dormi e é quase manhã. Todos dormem, pelos vistos. Uns vinte euros, algumas roupas confortáveis, um caderno, uma caneta e algumas peças de fruta e pão deverá ser suficiente.
Vou às portas. Todos dormem, ingénuos e crentes de que eu continuarei a arrastar, moribunda, mas terna, o meu perdão e a minha compaixão, após estes anos todos.
Não há volta a dar. Hoje o céu está limpo.
A mala espera-me, em cima da cama. Os vossos retratos abraçam-me enquanto menina e eu sorrio, desconhecendo no que me tornaria. A guitarra está à porta e chora, por mim. Não, eu não te vou deixar. Hás-de ser o meu álbum de recordações e tudo o que tenho.
Perdoem-me. Amo-vos demasiado para deixar que isto continue a suceder-se. Hoje o céu está limpo e consigo ver as estrelas do meu futuro. Não há nuvens que se atropelem pelo caminho.

 

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

uma consciência contraditória

- Anda, Cármen, não penses.
Uma gota de suor diverte-se com a minha face, como se ela fosse um escorrega de suor. Bem, de certo modo, até o é, se tivermos em conta a forma como este escorre naquele preciso momento da minha cara. Não são poros abertos e molhados, mostrando uma face brilhante, uma testa molhada: são pequenos fios de suor que vão deslizando a uma velocidade relativamente rápida, comparando com a velocidade normal a que as gotas de suor se formam durante actividade física ou momentos de calor.
- Ahh, não me perturbes! Deixa-me acabar isto.
- Oh, mas isto é difícil... e eu não serei capaz de o fazer. Não consigo. Tenho perfeita consciência da minha capacidade física.
- Pára de pensar! Sabes perfeitamente que, quando pensas, vem este idiota, o Pessimismo, e faz-te ver apenas os teus pontos fracos, persuadindo-te de que não és capaz, por questões lógicas. Tu consegues tudo, sabes bem disso.

Agora, é uma gota mais irritante ainda que me provoca. A minha pálpebra direita sente água a escorrer lentamente por ela abaixo e não posso limpá-la, por mais cócegas que faça, pois isso irá alterar o meu movimento e tornar a tarefa mais difícil.
- Deixa-a estar, tu és forte, consegues sempre suportar a dor.
- Se não aguentares, sempre podes parar...
- De nada terá servido o esforço até agora percorrido.
- Tu não aguentas, pára! Não te podem forçar a que algo que não és capaz de fazer.
Fecho os olhos. A minha respiração não poderia ser mais ofegante. Sinto-me exausta. Não tenho forças nas pernas, não consigo elevá-las ainda mais. Não estou a desempenhar o exercício correctamente. A minha garganta implora água. Estou prestes a desistir e a cair a qualquer momento...

Se fosse uma questão de vida ou de morte ou se do teu esforço físico dependesse a vida de alguém que amas, tenho a certeza de que irias descobrir mais força do que imaginas e fá-lo-ias certamente. (Gonçalo Costa)
- Ele tem razão.

Não vou parar, eu não posso parar! Observo um ponto na parede e fixo-o, insultando-o como se fosse o meu alvo. Vá, cabrão, tenta parar-me. Vamos ver se consegues.
- Já só faltam quatro vezes...
Anda, caralho! Tenta! Experimenta só! Eu vou conseguir. Eu consigo. Eu sou capaz e sê-lo-ei sempre!

Já está.
- Muito bem, viste como conseguiste? Eu disse-te que conseguirias!
- Sim, mas foi por um triz...
- Não foi nada. Ela conseguiu por vontade própria.

Fim do diálogo entre o demónio e o anjo dentro de mim. Agora, calem-se, desapareçam, porque vou tomar banho.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

retornar à rotina

Este Verão vou ler carradas de livros, vou fazer exercício físico, vou limpar a casa com frequência, vou rever música, vou aprender guitarra, vou escrever no blogue, vou ler todos os blogues pendentes que tenho nos marcadores e vou ficar orgulhosa por isto. Vou, ainda, dar muito amor à minha avó, a pessoa que mais o merece. Talvez desta vez possa dizer que tive umas férias à maneira!

Falta uma semana para voltar à rotina e o que fiz? Dediquei-me a ser estranha de novo, a escrever ocasionalmente, a sonhar com música, a mergulhar nuns oito livros, à vontade, e a aborrecer-me comigo mesma. Aprendi a guitarra, sim, e debrucei-me em lágrimas pela perda da minha base, através de um internamento de meses da minha avó.
Rico Verão. O que vale é que ainda fui à praia ver o mar algumas vezes e a literatura não me abandonou por completo...

Ao menos livrei-me de bocas e insultos durante três meses e tive tempo para reflectir e pensar, algo que anseio por fazer constantemente. Esperemos que este ano ouça menos Olha ali aquela miúda, que horror! e Já viste a forma como se veste?, acompanhados de olhares que me tentam intimidar, só porque sou individual em tudo o que faço, até na forma como me visto, e tenho orgulho em ser quem sou. Quando irão perceber que os verdadeiros ridículos, a meus olhos, são vocês?


sexta-feira, 27 de agosto de 2010

o virar de uma página

Ontem decidi fazer algo que já há muito planeava: desprender-me de redes sociais.
Tinha contas em MySpace, Hi5, iLike, YouTube, letras.mus.br... e, é claro, no blogger; mas, afinal, de que me servia isso?
Para partilhar fotografias e receber comentários? Isso não é algo que me entretenha.
Para partilhar música? Há formas mais naturais de o fazer.
Para manter o contacto com pessoas que me estão fisicamente distantes? Bem... essa seria uma boa razão, isto se as pessoas que me estão distantes o estivessem apenas fisicamente. Além disso, no final todos nós partimos e nos separamos, fazendo parte apenas de boas ou más memórias, ou caímos no esquecimento.

Assim sendo, resolvi eliminar todas, à excepção do YouTube, pois tenho lá contactos com os quais mantenho conversas bastante interessantes para mim, e do blogue, sendo este o único que realmente preciso; mas entre quase 1800 eliminações apáticas de contactos, um reteu-me. Não queria eliminar a única forma de comunicação que ainda tínhamos, iria perder-te para sempre...
Basta!, pensei. Já te tinha perdido antes, embora nunca nisso tenha acreditado realmente. Tu não irias dar pela minha falta, pois durante todo este tempo não te incomodaste em perguntar por mim.

Estarias apenas a adiar o momento em que matarias as saudades? Não sei. Talvez quando decidires fazê-lo, isto se alguma vez o quiseres fazer, seja tarde de mais. Cansei-me de esperar. Agora espero, muito sinceramente, que sejas muito feliz... embora eu não esteja mais por perto para me certificar disso. Fartei-me de parar a minha vida para esperar pela tua, embora sem ela a minha não faça sentido.

sábado, 12 de junho de 2010

Muse: Blackout

"Don't kid yourself and don't fool yourself: this love's too good to last and I'm too old to dream. Don't grow up too fast and don't embrace the past: this life's too good to last and I'm too young to care. Don't kid yourself and don't fool yourself: this life could be the last and we're too young to see."

Ora nem mais...
Dêem-me descanso, por  favor... Já chega de pressão, de escola, de avós, de colegas, de idiotas, de convencidos, de arrogantes, de orgulhosos, de ignorantes, de mandões, de egoístas, de parvos, de imaturos,  de amor, de história, de passado, de sofrimento, de tortura, de sufoco, dos outros: preciso de tempo para mim, para o meu ego, para a minha introspecção, para a minha sanidade mental!

quinta-feira, 11 de março de 2010

Linkin Park: One Step Closer

"I cannot take this anymore, saying everything I've said before. All these words they make no sense. I found bliss in ignorance. Less I hear the less you'll say. You'll find that out anyway. Just like before... Everything you say to me takes me one step closer to the edge and I'm about to break. I need a little room to breathe. (...) I find the answers aren't so clear. Wish I could find a way to disappear. All these thoughts they make no sense. (...) Nothing seems to go away, over and over again. (...) Shut up when I'm talking to you! (...)"