terça-feira, 7 de setembro de 2010

Querida Agonia


Às vezes a dor pode ser linda e trazer beleza, tendo um grande impacto em mim.
Um dia tirei o álbum Dear Agony e meti-o todo no meu leitor de música. Estava na escola, bem da vida, a fazer exercícios, de manhã, sozinha, em paz, com o leitor a dar música de fundo.
Por alguma razão, essa música impediu-me de continuar. Pus o volume no máximo, empurrei os auriculares para dentro dos ouvidos, fechei as pernas e enrosquei-me nelas, com os braços à volta dos joelhos. Encostei a cabeça e a beleza da música fez-me chorar.
De todas as outras vezes, sempre que chorei a ouvir música foi porque me recordava de algo triste. Ao fim de quinze anos, confrontei-me com uma única música que me comoveu a ponto de impedir a minha coragem e disciplina interna de agirem, não conseguindo reter as lágrimas.
Cada frase dessa música é sincera e profunda; cada nota da guitarra é angelical: soa como uma harpa nos meus ouvidos - e quando se torna mais pesado, em vez de me assustar, faz com que páre de voar alto e voe em pique, afundando-me num oceano de emoções, como um pára-quedista que se achou sem o seu pára-quedas a funcionar correctamente apenas no momento de o abrir; como se as minhas mãos adquirissem um poder emocional incontrolável e um peso excessivo, rasgassem o chão, permitindo a outras mãos exteriores puxarem-me para baixo a uma velocidade ofensiva, que me magoa de tal forma que não consigo nem quero fazê-la parar. Qualquer grito é incontrolável, pois se eu conseguisse controlar conscientemente o meu comportamento naquele momento, não iria certamente gritar quando não sou audível. Grito, então, em silêncio, mas grito. Quando finalmente o Ben começa a cantar, sinto que aterrei no fundo da Terra e não há forma de me enterrar mais ainda. Quando o refrão chega, desmaio e deixo-me enlouquecer. Isto tudo, claro, interiormente, porque exteriormente apenas uma lágrima a percorrer a minha face é visível.
Acordo de uma tempestade, então, e reparo na simultaneidade emocional que acabo de atravessar. Aí, recupero os sentidos e apercebo-me de ter vivido os quatro minutos mais intensos de toda a minha vida, sem sequer sair do mesmo lugar. Os meus olhos abrem-se e fico aliviada por saber que continuo sozinha, ali, pois não creio no gosto pela partilha de um momento tão privado. Não lhe chamaria egoísmo ou vergonha, mas sim culto próprio.
As coisas mais belas e importantes só podem ser encontradas pela Visão Interior, que Vê cegamente: de olhos cobertos, cerrados ou claramente abertos, mas inactivos.


I have nothing left to give. I have found the perfect end. You were made to make it hurt, disappear into the dirt, carry me on to Heaven's arms, light the way and let me go. Take the time to take my breath, I will end where I began and I will find the enemy within, because I can feel it crawl beneath my skin.
Dear agony, just let go of me, suffer slowly... Is this the way it has got to be, dear agony?
Suddenly, the lights go out. Let forever drag me down. I will fight for one last breath: I will fight until the end.
Do not bury me, faceless enemy, I am so sorry! Is this the way it is going to be?
Leave me alone... God, let me go!
I am blue and cold. Black sky will burn.
Love, pull me down! Hate, lift me up!
Just turn around: there is nothing left...

Somewhere far beyond this world, I feel nothing anymore.

6 comentários:

Sílvia disse...

Não há nada como uma boa música para nos envolver. Entra-nos na alma!

Anónimo disse...

Agora apetece-me mesmo escrever um post assim, sobre a influência na música em mim. ._.

Acho que fiz bem em dar-te esse albúm. :D

Sílvia disse...

Vê isto:
http://www.youtube.com/watch?v=bUWg7y2z6EU&feature=player_embedded

Anónimo disse...

Sílvia: Eu já conhecia isto há, pelo menos, um ano. Obrigada por partilhares comigo na mesma. :)

Andreia André disse...

É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela.( Nietzsche)

Adorei o Teu post..
e percebo-te perfeitamente ;)

Anónimo disse...

Andreia André: Humm, não necessariamente. Não precisas de dor para escrever de forma brilhante!