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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

12. Carta à pessoa que mais odeias/que te causou muita dor

Conteúdo para Adultos


Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?. 

    Um passo, dois passos. Uma pancada. Duas, três, quatro pancadas. Cinco pancadas. Seis, sete, oito, nove pancadas. Dez pancadas. Onze.
      A adrenalina percorre todo o meu corpo e arrepia toda a minha pele. Contorço o pescoço, numa tentativa de afastar o pensamento da memória. Custa-me relembrar, a sangre frio, sem aquecer.
      Olha bem para mim. Não pretendo intimidar-te, mas olha para mim, bem fixamente nos meus olhos. Sentes a raiva chegar até ti? Eu sinto-a sair de mim. Acreditas mesmo que o medo me enfraquece? Enganas-te. Oh, se te enganas! O medo faz-me violenta. Fortalece o meu lado animal.
      Tens, pois, a certeza de que pretendes continuar? Achas mesmo que, ao me tocar dessa forma, te respeitarei? Queres mesmo levar isto até ao fim?
       Pois então leva. Toca-me dessa forma pseudopossessiva. Sente-te poderoso. Faz comigo o que tens sempre feito e que o fazias com todos os outros -- e bate-me. Bate-me tanto quanto quiseres. Rasga a delicadeza que esconde, cinicamente, o pudor dentro de mim. Bate-me mais. Descarrega em mim os teus problemas. Bate-me, bate-me muito. Finge que, assim, eles passam a ser meus. Bate-me com força. Finge que o demónio está em mim e faz das tuas mãos água benta. Bate-me! Faz de mim o que tu quiseres.
       Veremos, no fim, qual de nós dois rirá.

domingo, 15 de janeiro de 2012

29. Carta à pessoa que queres contar tudo, mas estás demasiado receoso/receosa

Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.


        O coração aperta e aquece todo o corpo. Lembra-me a sensação de estar apaixonada, mas, na verdade, talvez não seja por isso. A melancolia abala-me, e eu sei que algo está errado. Ou será que aperta porque, ao pensar no que me entristece, lembro-me do que sinto falta?
     Por vezes, confundo a realidade com a ficção. Imagino acontecimentos, personagens, e esqueço-me do que, de facto, acontece. Vivo a ficção que a minha imaginação produz e sinto-a como se fosse real. Igualmente, quando certos acontecimentos ocorrem na realidade, menosprezo-os e não os consigo sentir. Isso prejudica-me na realidade.
     Costumo sentir saudades de quando isto não acontecia -- dos tempos em que existia realidade, e só realidade, e eu era apenas prejudicada por estar nela. Mas isso, na verdade, nunca aconteceu. Eu sempre vivi a ficção e a realidade, e sempre confundi um e outro cenário. A diferença entre o passado e o presente (e esse? Existe?) é que agora eu tenho noção disto -- e outrora não. Agora eu consigo aperceber-me do que se passa comigo. Antigamente, eu poderia jurar que tudo aquilo era realidade -- e, para mim, era.
        Se, então, eu sei o que me está a acontecer e isso me prejudica, por que não o mudo? Eu já provei no passado ser capaz de alterar a ordem das coisas e, inclusivamente, mudar o meu comportamento, quando achava que o devia fazer. A grande oposição é: eu não sei se o quero fazer. Eu não quero trocar as cores de um mundo por um mundo que não me faz feliz.
        Eu não quero continuar no compromisso de atividades que não me dizem nada e que me fazem deixar para trás o que me faz deslizar de satisfação. Quero continuar a acordar todos os dias com a motivação de ser um novo dia, com oportunidades para fazer novas coisas, sem lamentar o frio que está lá fora ou as horas de sono que não dormi. Não quero continuar a acordar todos os dias e pensar que adorava não ter de sair da cama. Estou farta deste ritmo que o mundo me impõe, mas que em nada é meu. Quero partilhar com os outros as coisas que sei e, com os outros, aprender novas coisas. Quero continuar a escrever com a paixão de um amor gigante. Quero deixar de fazer batuques discretos com os meus dedos e tocar, efetivamente, um piano. Quero sujar as telas e as folhas com tintas e carvão. Quero viver com a pessoa que mais amo numa casa discreta no meio da floresta. Ultrapassar esta insetofobia que, irracionalmente, me bloqueia e voltar às raízes de toda a humanidade, à simplicidade tão pura e sincera que originou toda esta comunidade corrupta. Porque sim, eu encontrei alguém que me ama assim, com quem quero partilhar toda a minha vida. Alguém que não só conhece toda a minha estranheza, como também a acha bela. Tenho excelentes amigos, acredita, que também gostam de mim, assim como sou. Sempre duvidaste de haver por aí alguém que fosse, mas essa dúvida não era pelas outras pessoas, mas sim apenas tua. Tu nunca aceitaste os mais pequenos indícios da pessoa que eu poderia ser e nunca aceitarás que eu seja como sou. Nunca serás capaz de amar quem eu sou e, portanto, não compreendes como é possível que mais alguém o seja. Tens os olhos cheios de preconceitos que te impedem de ver para além do físico. Eliminas, logo à partida, qualquer hipótese de ser positivamente surpreendido.
       Gostava de ter o conforto monetário que me permitisse quebrar todas estas regras que me prendem a um mundo cheio de stress. Mas então surgem os meus conhecimentos de economia a relembrar-me de que o dinheiro não aparece, nem desaparece, apenas muda de local -- e que, para eu conseguir ter muito dinheiro e realizar estes meus sonhos, é preciso que, à minha conta, haja muitas pessoas que ficam longe de saber o que é sequer sonhar. E eu sei que, mesmo que eu não contribua para tal, há-de haver sempre alguém que o faça. Mas eu não quero ser essa pessoa. Não quero ser também culpada pelas injustiças que me revoltam. Não quero matar a beleza que encontrei dentro de mim.
       Mas eu sei que não sou a única a sentir estas coisas e a sonhar desta forma. Pelo contrário, tal como eu, há-de haver muita mais gente que, aparentemente, não tem nada de errado, mas que, no fundo, gostava de continuar a ser criança. Por que têm de ser as crianças sempre a única referência de quem corre, ri, brinca, festeja, é sincera e espontânea, canta e dança? Pois eu não quero crescer, não nesse aspeto, e deixar de ser feliz. E eu sei, eu tenho a certeza, que a maioria esmagadora das pessoas sente esta mesma insatisfação dentro de si. Por que, então, não nos unimos todos e nos revoltamos contra este mundo que corrompe as almas?

Soul Meets Body by ~CARUTOS on deviantART

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

5. Carta aos teus sonhos

Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.

Following her dream by *duchesse-2-Guermante on deviantART

       Acordar todos os dias pode ser uma tarefa tanto ou quanto difícil.
     Eu pensava assim, nas épocas de apatia. Não é que fosse difícil levantar-me da cama e seguir uma rotina denominada enquanto normal, típica de todos os que se acham -- e que muitos assim os reconhecem -- grandes (assim os definem os padrões bege, preto e cinzento, bem como os rostos infelizes e frustrados, que são símbolo de riqueza, conforto, inteligência e maturidade -- o meu avô costuma chamar-lhes homens de linha). Tal como qualquer pessoa normal, eu levantava-me da cama e fazia exatamente as mesmas coisas que os ídolos e os heróis da minha sociedade faziam.
     A diferença era que eu não me orgulhava de seguir os ídolos da minha sociedade. Sociedade que nunca foi minha, verdade seja dita. Os meus olhos pertenciam-me, não à sociedade. Igualmente, pertenciam-me os pensamentos, não à sociedade. Porque eu não deixava que a sociedade fizesse deles seus, como fez a quase todos os que, tal como eu, agiam em razoável conformidade. Os gostos chegavam a todos nós, mas nem todos nós os consumíamos. Era por isso que vocês procuravam. Procuravam quem não se tinha conformado com os desejos da sociedade e se sentia vazio por não encontrar nada que o preenchesse.
     E eu prometi-vos nunca vos deixar nem vos vender. Fiz serões, gritei, chorei e jurei a pés juntos o amor que por vós nutria. E nutro.
     A dor não é de não vos ter porque não vos conheço. Eu conheço-vos, melhor do que ninguém. Eu tive-vos, mas vocês fugiram. Não fracassaram, mas despediram-se e abandonaram-me, deixando apenas uma caixa, não vazia, mas com uma cama bem requintada, com as mais confortáveis almofadas. Essa cama foi feita à vossa medida e agora aloja-se, vazia, em mim e vai suspirando pelos donos que a deixaram assim, por fazer, sem nada dizer antes da partida, deixando o mistério, a dúvida e a incerteza nos lençóis.
     Eu vou vos encontrar. Eu tenho de vos encontrar.

domingo, 13 de novembro de 2011

26. Carta a alguém que te inspira

Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.

Olá, professor.
Talvez ache estranhas as palavras que escrevo, ou melhor: o facto de as escrever. Ou talvez mesmo até não, devido à sua capacidade para compreender as pessoas, por mais reservadas que sejam.
Não é meu intuito mostrar aqui os meus "dotes" literários, apenas considerei importante que tenha (re)conhecimento de algumas coisas. Algumas pessoas merecem-no e o professor é, de facto, uma delas.
É-o porque conseguiu ser mais do que um professor: conseguiu ser um bom amigo. Bom, porque conseguiu fazer-nos "acordar" para fatores importantes que muitos de nós ignorava inconscientemente, e amigo porque se preocupou connosco e insistiu em fazê-lo, não tendo sido obrigado a tal.
Hoje, quase dois anos depois de ter sido lecionada por si, vejo várias diferenças - não só em mim própria como também nos restantes membros da turma. Parece-me quase incrível que pessoas outrora tão fúteis, despreocupadas com os problemas que os envolvem, sentimentais, muito influenciáveis e interesseiras (no sentido egoísta da palavra) se mostrem hoje indignadas com a futilidade e a despreocupação dos outros e, recusando-se a aceitar o que não acham correto e reivindicando os direitos que têm, lutem contra o desrespeito. Se, por um lado, é verdade que os adolescentes estão em constante mutação e por isso não é tão surpreendente quanto isso que evoluam, por outro lado, não é muito comum que um adolescente evolua tanto em tão pouco tempo. Mais verdade do que isto é que, apesar de terem sido condicionados por vários fatores, quer internos quer externos, eles foram imensamente condicionados por si. Por isso, se hoje são tão conscientes (sendo isso algo extremamente importante), devem-no imensamente a si, estando-lhe muito gratos, como já o declararam (não tanto com o seu conhecimento, tanto quanto sei) várias vezes.
Bem, parece que falo deles como se eu já estivesse muito bem e eles é que estavam mal e ficaram bem... Não. Mas isso talvez também o professor já saiba... embora me tenha espantado como é que um professor de Filosofia me dá aulas durante mais dum ano e fica surpreendido por saber que a minha ambição... digamos, mais material é ser professora da mesma disciplina, um dia. Aliás! O que me espanta mesmo mais é que fique surpreendido por eu sequer gostar de filosofia! Eu sempre achei que isso era algo um pouco óbvio e... creio que qualquer outro professor meu não duvidasse disso. Até o meu professor de LP do 9.º me dizia já que eu iria ser professora de LP ou de Filosofia, nunca me tendo ouvido nem lido propriamente a filosofar... Mas estou a desviar-me imenso do assunto. O que eu queria dizer é que me sinto na obrigação de lhe agradecer pelo impacto que teve em mim. Por mais que o professor diga que não tenho de agradecer por coisa alguma, eu acredito que tenho. Não é de menosprezar o ato de alguém insistir tanto em querer ajudar-me (não só academicamente, como também com os problemas familiares e enquanto pessoa) ao ponto de exigir, pelo menos aparentemente, que eu tome atitudes, ainda por cima quando isso são problemáticas que não lhe dizem respeito. Tudo em troca de quê? Bem, a mim parece-me que apenas o facto de saber que contribuiu para o progresso positivo de algo o satisfaz, o que é mais louvável ainda, por agir sem esperar ser recompensado de outra forma. Nem eu imaginei vez alguma que conviver com alguém pudesse ser tão benéfico nem que conseguisse eu evoluir tanto num espaço de tempo tão curto, de tal modo a que até que pessoas que me estimam mas que não o conhecem queiram agradecer-lhe e simpatizem consigo, pelo bem que me fez, como é o caso duma íntima minha, a Diana, que frequentemente me pede para lhe mandar cumprimentos e que agora lhe deseja o melhor.
Um homem com um impacto tão profundo e tão positivo é mesmo muito louvável, a meu ver. E é por isto que o admiro tanto. Admiro-o, aliás, não apenas por estas particularidades, mas por estas se conjugarem com outras tantas que mostrou ser, como é o caso da coragem, da sinceridade, da justiça e da autonomia. Não é qualquer um que toma as decisões que o professor já tomou anteriormente e da forma como as tomou - e mesmo que fosse! Não deixaria de ser louvável por isso. E, quando falo da forma como as tomou, falo de deliberação. As ações justas são mais belas quando são deliberadas, a meu ver, devido à liberdade a que o sujeito se submete durante a deliberação e pela certeza que isso confere à decisão final. Mas não me adiante talvez por aí, não é esse o meu intuito principal.
Pela pessoa que é, pelas ações que fez e pela forma como as fez, o professor merece mesmo muito que o futuro lhe corra pelo melhor, na minha opinião, que tem vindo a exprimir, ao longo desta carta, o que penso sinceramente. Desejo-lhe, para já, que consiga concluir a tão trabalhosa tese e que ter-nos deixado tenha valido, de facto, a pena (é um pouco contraditório que eu deseje tanto que consiga fazer isso e depois lhe envie um e-mail tão extenso, mas... enfim), porque se há alguém que mereça reconhecimento pelo seu empenho e pela sua dedicação não só às pessoas como também ao trabalho, essa pessoa é certamente o professor.
Assim, despeço-me, desejando-lhe, uma vez mais, que tudo que lhe corra pelo melhor e que consiga realizar todos os seus objetivos, que acredito que sejam justos e honestos. Desejo ainda que, um dia, nos reencontremos e que nessa altura já tenha deixado de fumar. Talvez sejamos colegas, um dia.

Respeitosamente,
a ex-aluna que o considerava excêntrico nos primeiros meses em que teve aulas consigo.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

28. Carta à pessoa que mudou a tua vida

Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.

Por vários motivos, que não competem a mais ninguém saber para além de ti.
Parabéns, meu amor, e que contes muitos mais, a meu lado e tão ou mais felizes como no tempo que temos atravessado.


«Words get trapped in my mind.
Sorry, I do not take the time to feel the way I do,
Because the first day you came into my life
My time ticks around you;

But then I need your voice,
As a key, to unlock all
The love that is trapped in me,
So, tell me when it is time
To say I love you.

All I want is you to understand
That when I take your hand
Is because I want to.
We are all born in a world of doubt,
But there is no doubt,
I figured out
I love you.

And I feel lonely for
All the losers that will never take the time to say
What was really on their mind. Instead,
They just hide away.

Yet, they will never have
Someone like you to guide them
And help along the way

Or tell them when it is time
To say I love you.
So, tell me when it is time
To say I love you

sábado, 13 de agosto de 2011

1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (IV)

Em seguimento de 1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (III).

Ao fundo da rua que saía pela porta daquele espaço tão aberto e iluminadamente amarelo, avistou dois vultos masculinos e, esforçando-se por ver de quem se tratava, conseguiu distinguir um cabelo preto desalinhado e uma cabeça cor de trigo que o acompanhava, reluzindo às luzes do pôr do sol. Na esperança de serem os seus dois amigos dos arredores, chamou os seus nomes. Em cheio. Ambos se viraram para trás, procurando saber quem os chamava.
Filipe trazia, em contraste com o seu cabelo, uma larga camisola branca, com letras de um tom azul, agora parecendo esverdeado. Trazia a calma no rosto e a liberdade nas mãos. O mesmo já não se passava com Henrique, que, por detrás dos seus óculos de sol azuis-transparentes, dentro de uma camisola negra, parecia ansioso, com uma mão no bolso e a outra a passar frequentemente pelo cabelo louro espigado e a ajeitar as madeixas de franja para o lado, enquanto batia com o pé no chão.
- Chamaste?
- Sim. Vocês vão para casa?
- Bem... sim - disse-lhe, enquanto olhava para Filipe, com ar surpreso. Este, por sua vez, parecia compreender para além da pergunta banal, perscrutando o seu rosto com o sobrolho contraído.
- Perdeste o transporte?
Não queria, de todo, preocupá-lo, mas também não lhe podia mentir. Não queria empatá-lo nem pesar-lhe, mas precisava de admitir que necessitava da sua ajuda.
- Sim. Como é que se vai daqui para lá?
- Olha, vens connosco no autocarro e nós depois dizemos-te onde parar - Henrique continuava agitado, mas não parecia querer deixar aquele assunto pendente. - Temos é de nos apressar antes que o percamos.
- Não... Ela de autocarro gasta dinheiro e isso é mais um motivo para depois a chatearem. Ter perdido o transporte e vir de iniciativa própria com dois rapazes já são três motivos suficientemente pesados.
- Então e...? Como é que depois...?
- Estás parvo!? Achas mesmo que eu vou pôr uma gaja qualquer à frente duma amiga?
- Olha, Filipe, eu agradeço a tua ajuda, mas s...
Filipe pegou-a pela mão, puxou-a até si e cercou-lhe os ombros com o seu braço:
- Embora daí.
- Então e essa rapariga?
- Não é nada melhor do que tu - disse-lhe, num sorriso. - Pode esperar.
Naquelas tonalidades de azul e laranja que manchavam as minuciosas folhas verdes que os rodeavam, ela viu duas sombras vultuosas de homens que a acompanhariam por toda a vida e sentiu que, por mais rejeições amorosas que viesse a ter, seria sempre feliz, por ter o que ela considerava os melhores amigos do mundo.
Enquanto ela lhe atirava um aceno de despedida, ele ouviu as suas solas rangerem no chão poeirento e sinuoso que ambos pisavam. E, na queda do calor, ele sentiu que ela partia... e que dificilmente voltaria.

Nostalgic Moment by *Dance0927 on deviantART

Para ti e para o teu fascínio pessoal por casos entre professores e alunos. Espero que tenhas gostado.
Feliz aniversário!

1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (III)

Em seguimento de Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (II).

Arrumava os livros dentro da mala quando suspirou, tentando libertar o sufoco de emoções que o envolviam:
- Tu dás-me cabo do juízo, rapariga! - disse, com um sorriso jovial na cara, na esperança de que aquele dilema que o atormentava se fosse embora e de que ela não o interrogasse mais, chegando-lhe aquelas palavras para que ela não persistisse em martelar as suas têmporas com todo aquele sentimento que ele desejava mas não queria.
Ela não compreendia. Não conseguia compreender. Ele ora se mostrava desejoso de reconcilio, ora se mostrava receoso do que o esperava - mas não dispunha de um receio de quem está amedrontado e, no fundo, deseja que lhe peguem na mão e mostrem que o caminho é seguro, não: ele dispunha um receio de quem reprime a muito custo e muito deliberadamente as suas emoções, de quem pretende findar aquilo. No entardecer daquele sol quente de verão, ela não compreendia porquê tanta oscilação. Amor impossível? Não, não era. Nenhum amor era impossível, apenas mais ou menos difícil.
Olhou para o horizonte, o sobrolho franzido, o rosto tenso carregado de um orgulho que a ele lhe lembrava um herói a enfrentar psicologicamente um combate que tem pela frente, qual William Wallace; e, embora fosse o seu guerreirismo uma das características que mais o requintassem, naquele momento a sua expressão era visivelmente preocupada, por saber que aquela força era uma defesa contra o provável sofrimento de que ele era responsável. E, numa vontade de a abraçar e lhe pedir perdão, viu-a principiar um adeus:
- Já se faz tarde - desculpou-se, elevando o braço esquerdo ao nível do peito para ver as horas. A sua expressão seguinte, no entanto, foi a de gesticular as sobrancelhas com ar sóbrio e inclinar a cabeça, como quem reconhece um problema a resolver sem saber bem como: - E nisto já perdi o transporte para casa.
- Bem... eu até te levava, mas eu não conheço esta zona aqui...
- Pois, eu sei.
- ...A menos que tu me saibas indicar o caminho.
- Não, deixe estar - respondeu, determinada a pôr um ponto final naquela história. - Eu desenrasco-me.

Continuação em 1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (IV).

1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (II)

Conteúdo para Adultos


Em seguimento de 1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (I).

Baixou os olhos e esforçou-se por ignorar a forma calorosa com que ele a recebia, fingindo que não conseguia sentir os seus olhos fitarem-na encantados e o seu sorriso aguardar que ela se entregasse, pelo que tentou concentrar-se no mesmo que os outros queriam dele: ajuda académica. Ele, tendo caído em si, levantou-se num salto, apoiou o braço esquerdo por cima dos ombros dela e o direito sobre a folha que ela lhe mostrava.
Sentiu imediatamente um fogo nascer dentro de si e queimá-la por dentro, alastrando-se até às pontas dos dedos. Esta proximidade tinha quebrado o gelo em que se tinha deixado ficar, por frustração, por ciúme, por angústia. Ergueu o rosto na sua direção e olhou-o nos olhos, procurando mostrar que o seu gesto a tinha sensibilizado e que não iria resistir. Não obstante, não encontrou o seu sentimento retribuído. Perscrutando o seu rosto, não encontrou um traço de emoção ou afetividade; pelo contrário: agora portava uma expressão de profunda concentração e determinação pela conclusão da tarefa.
- Acho mesmo que vou eliminar este trabalho... - principiou ele, endireitando-se e massajando a face macia do gel usado para fazer a barba. Voltou a curvar-se, pegou na caneta e riscou a lista de alunos com aquele trabalho. - Esquece o projeto final. Não o façam, não vale a pena.
A sua não adesão foi bastante para que ela se indignasse. Via-a chateada e após a fazer amolecer-se consigo ignorava-a?
Bufou com o nariz, num sorriso irónico, e virou a cara para o lado. Fechou a boca e, no mesmo ar ligeiramente irritado, e lambeu os incisivos superiores.
- O professor é realmente um homem indeciso, não é? - disse-lho, antes de se voltar para ele e esboçar um novo sorriso irónico, com os lábios entreabertos, a sobrancelha esquerda erguida e os olhos semicerrados.
Ele, debruçado sobre a mesa e ainda fixando os papéis, bufou igualmente com o nariz, sorriu e moveu a mandíbula inferior para os lados, compreendendo. Virou a cara, encarando-a e ofereceu-lhe um sorriso céptico de lábios igualmente entreabertos, como se tivesse dificuldade em acreditar em ter ouvido aquilo dela.
Ela, por sua vez, ergueu ambas as sobrancelhas e, mantendo os olhos semicerrados, inclinou a cabeça, num gesto céptico de espanto:
- Que é?
Ele continuou a mirá-la com aquela expressão facial provocadora. É que por mim levava-te para outro sítio agora, pensou. Clicou na extremidade da caneta para a fechar, levantou-se, retirou o braço de cima dela, virou-se de costas e dirigiu-se à mesa onde tinha a sua pasta, o seu estojo e os seus livros desarrumados. Por um lado, queria muito concretizar aqueles sonhos que ela havia cultivado nele ingénua e despropositadamente; não podia, no entanto, deixar de se controlar, para o bem de todos. Mas ela não parecia importar-se com isso e parecia persistir em ficar no seu pensamento durante horas, fazendo-o querer voltar a ser um jovem sem preocupações.

Continuação em 1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (III).

1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (I)

Conteúdo para Adultos


Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.

Toda aquela agitação aborrecia-a. A sala estava cheia e, quanto mais se avançava em direção à saída mais apertado o espaço era, dificultando o movimento.
Todos aqueles alunos interesseiros interpelavam o caminho até ao professor, desesperados com o trabalho que se lhes avizinhava. Mas não seria ela a verdadeira interesseira entre aqueles tijolos de amarelo e branco, ela, que tinha segundas intenções?
Não, porque, pelo menos, o interesse dela despertava emoções felizes e calorosas entre ela e ele, enquanto que os outros apenas se interessavam na utilidade académica, para maior utilidade material.
Não, não era do quão útil aquele professor lhe poderia ser que ela queria saber. Era o quão feliz poderia ela fazer aquele homem que lhe interessava. Eram aqueles lábios sedentos de prazer, aqueles dentes cheios de paixão e aquelas mãos ardentes de fúria que lhe interessavam. No fundo, era sentir o seu coração acelerado pela adrenalina e amá-lo com carinho que ela desejava. Era aquele homem cheio de inteligência, vigor e determinação que ela queria a seu lado, para enfrentar os males na vida e reconfortar-se nos bens, sempre partilhados.
E aqueles alunos todos colocavam-se entre ele e ela, gastando-lhes o tempo, frustrando-lhe a oportunidade de ficar consigo a sós e de se fazer sua mulher.
O olhar que ele lhe lançou quando chegou a sua vez foi o de quem, subitamente, sentiu o tempo parar por momentos. Contemplava-a num misto de conforto e entusiasmo, notoriamente alegre por finalmente estar com alguém por quem nutria sentimentos mais do que meramente académicos. Ela, no entanto, estava cansada de lhe sentir o amor fluir espontaneamente, de tal forma sincera de que nem ele próprio se dava conta da sua expressividade. Era, acima de tudo, um homem cheio de sentimentos e emoções, mas que tentava reprimi-las para poder agir de forma deliberada; e isso era, possivelmente, o que mais a atraía nele. Contudo, ela fartava-se dos seus jogos de toca-e-foge e de tentar perceber se ele, de facto, a queria ou não. Depois, sufocava-lhe o peito saber que de facto ele não queria nada, porque também ele queria tentar perceber se deveria arriscar tanto por uma mulher que se interessa e que o faz deliciar-se de cada vez que se exprime, mas que depois também se revela fugida, sabendo ela que ele tinha muito que refletir e que precisava, tal como ela, de alguém que lhe desse certezas. Havia muita coisa a perder para ficar com alguém como ela e não o podia fazer sem achar que ela realmente seria merecedora de tanto. E ambos andavam nesta brincadeira de rara sintonia com voltas trocadas: ela queria-o quando ele não podia e ele podia e queria-a quando ela já estava desencorajada.

Continuação em 1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (II).

terça-feira, 26 de julho de 2011

11. Carta a um falecido com quem gostavas de falar

Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.

so lonesome by ~C-h-r-i-s-P on deviantART

Todos os anos por esta altura o Sol deixa de brilhar para mim e recolhe-se por entre nuvens. O calor lá fora é substituído pela humidade dos céus, que me tenta tocar através destas janelas que me protegem. Cá dentro, porém, o calor não se desvanece; mas não consigo deixar de reparar na chuva que cai.
Passo a mão direita pelo braço esquerdo acima e deixo soltar um suspiro. Já há algum tempo que a tua voz não entoa nos meus ouvidos. Nesta cama revolta onde me sento de pernas cruzadas, lembro-me das vezes em que te erguias como uma muralha contra a violência exterior, para que esta fosse impedida de me tocar, ao embater no teu forte e corajoso peito.
De alguma forma, a tua ausência fez com que durante muitos anos eu não fosse capaz de me defender sozinha. Sem aquela barreira entre mim e o mundo, tornei-me uma pessoa vulnerável a qualquer ataque. Eu não estava preparada para enfrentar o mundo tão cedo, sabes? Estava habituada a aproveitar a calma ambiental que tu me fornecias para refletir, contemplar e ponderar. Assim, sem ti, fiquei ao sabor de qualquer rajada de vento, que me fez voar para sítios muito distantes - tão distantes que preferia nunca ter passado por muitos deles.
Muita coisa mudou desde então. Hoje estou adiantada na construção da minha própria muralha. Mas tudo isto apenas foi possível porque, a meio de um dos voos, encontrei um lugar onde devo ficar e te voltei a encontrar a ti: não fisicamente nem no exterior, mas dentro de mim.
Aqueles que amamos nunca nos deixam de verdade.  (Sirius Black)
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban

E tu, pelo grande e admirável homem que foste, nunca me deixarás - nisso acredito veementemente.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

7. Carta ao teu/tua ex-namorado/ex-namorada/antigo amor/antiga paixoneta

Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.

Gostava que lesses cada palavra que escrevo com a mesma atenção com que as escolho. Não pretendo lembrar-te do sofrimento que me causaste nem reviver o sofrimento que me causei, ao te enganar. Nenhum de nós tem cadastro limpo nesta história, mas não é reanimá-lo que pretendo. Quero, através desta carta, fazer aquilo que há algum tempo planeava fazer diretamente, fisicamente. Mas, como poderás induzir, a minha realidade mantém-se semelhante e fazê-lo é-me impossível. Não obstante, é muito importante para mim que tenhas noção de todas as coisas que te quero dizer, porque também te ajudarão, creio, a ultrapassar algum do sofrimento por que tens passado, assim como a alguns dos que te rodeiam, nomeadamente a tua atual namorada. Esta carta permitir-nos-á limpar os vestígios do passado e consolidar um problema que foi deixado aberto. Por estes motivos, reforço que gostava que encarasses isto com muita seriedade, que me lesses com muita atenção e que, ainda, mostrasses isto à tua Maria. Não me importa se vocês mantém a relação ou não, mas faço questão de que também ela leia isto.
A pessoa com quem namoraste durante menos de um mês tudo o fez por ilusão e sem amor. Gostava de ti, ou pelo menos da pessoa que achava que eras, e por isso nunca teve coragem de te fazer parar. Foi um erro, admito-o. Não adianta mais arrepender-me por isso ou sentir-me suja pelo mal que fiz. Olhar para trás só pode ser positivo enquanto é possível aprender com o passado. Juntar emoções, quer negativas quer positivas, a essa reflexão apenas nos retém nas memórias e nos impede de progredir. E quando essas emoções são negativas, para além de nos reterem, causam-nos sofrimento, que é sempre desnecessário, e perdas de auto-estima. E, como te deves recordar, eu não sou de permitir que isso aconteça.
No entanto, também sei que tudo o que fizeste foi sem amor. Por ilusão, não sei - só tu o poderás dizer. Mas sem amor sim, porque facilmente te entregaste e rapidamente deixei de te interessar. Mas acerca disso já nós conversámos e não adianta remexer nisso.
No entanto, nunca te menti quanto à pessoa que era nem nunca fingi uma personalidade que não a minha. A pessoa que tu achaste conhecer foi aquela que, de facto, conheceste e apenas um pouco menos daquela que hoje te escreve, tendo em conta que não só a minha coragem aumentou, como também a minha força, a minha determinação, o meu senso de justiça, a minha inteligência e a minha frontalidade o fizeram. Hoje sinto-me uma mulher. Há um ano, uma miúda a querer sê-lo.
Com isto, quero limpar o meu nome de todos os atos injuriosos que nos últimos meses te têm ameaçado, a ti e à Maria. Não sei como essa história se sucedeu ao certo, mas acredito que tenha a ver com alguém com um e-mail parecido com o meu que vos tenha insultado, amedrontado e, inclusivamente, ameaçado.
Bruno, eu seria incapaz disso.
Por mais mal que me fizesses, seria incapaz de te retribuir uma pequena porção que fosse de maldade ou de sequer de te desejar mal. Eu não sou vingativa nem consigo fazer mal deliberadamente. Prefiro ser a vítima do que a culpada e acarretar a dor a provocá-la nos outros.
Não adiantaria de nada tentar vingar-me. Cada acto é um fim em si e não pode ser substituído. Não é um meio para atingir algo, cada ato é único e julgável por si só. Ao fazer-te mal, eu não estaria a fazer justiça (vingando-me), porque a minha pessoa continuaria injustiçada: eu apenas estaria a cometer um outro ato malvado, nunca compensando o anterior. O anterior permaneceria lá à mesma. Acharmos que a vingança é possível não passa de uma ilusão. Fazer-te sofrer não iria apagar o meu sofrimento do passado.
Da mesma forma, de nada me adiantaria magoar a Maria, mas com um outro motivo acrescido: para além de não estar a justiçar os erros do passado (que esses permanecem onde estão, por serem um fim em si mesmos) e de estar a cometer maldade escusada, estaria a fazê-la ainda mais injustamente. A Maria não é responsável por qualquer dos nossos erros do passado. Ela não interferiu em nenhum deles, nem enquanto objeto nem enquanto sujeito. E, ainda que fosse objeto, não seria responsável, porque o ato não partiu de si. Ela simplesmente não interferiu em nada do que aconteceu entre nós. Não poderia vingar-me nela do que eu e tu fizemos, ainda que acreditasse na eficácia da vingança. Se poderia achar que ao magoá-la te magoaria a ti, vendo-me satisfeita, assim? Sou maior do que isso, Bruno. Achava que já te tinha convencido disso.
Surpreende-me, portanto, que tenhas acreditado que alguma vez eu fosse capaz de fazer o que vos têm feito, ou de sequer influenciar alguém a fazê-lo.
E, como se não bastassem estas provas racionais (que invalidam todo e qualquer ato semelhante ao que vos foi feito), há aquelas provas, que até me fazem rir, de que era impossível eu fazer fosse o que fosse. Eu, Bruno, não tenho meios para te contactar, nem para atingir a Maria - nem psicologicamente, nem fisicamente - da forma direta como vos têm feito e prometido.
Espero ter esclarecido este assunto e ter, como pretendia, limpado qualquer rastro de imaturidade que me tenha ficado agregado.
Está na altura de encarar as coisas com a maturidade necessária para ser tranquilamente feliz e seguir em frente.
Sê feliz, Bruno, sem que guardes remorsos da minha parte.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

30. Carta ao teu reflexo no espelho

Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.

Passaste horas deitada em cima dessa cama. Daí não sais, nada fazes. Aparentas, mas não és tocável. És o melhor exemplo da inalcansabilidade da realidade noménica.
E orgulhas-te do que tens de bom. Gostas de fazer levantar a tua já tão incomum juba preta e dos contornos físicos que moldam uma conjuntura de hormonas, cadeias de pensamento e impulsos eléctricos que te fazem funcionar, da forma como pelo menos pensas que queres funcionar.
Sentas-te e olhas indiferentemente para o teu corpo, meio despido.
"Tanto desperdício", pensas. "Tantas raparigas que gostavam de poder ter o que eu estrago."
E queres parar. Mas não basta querer.
Levantas-te. Mostras-te-me através do espelho. Gostas de te ver com essas calças e gostas do estilo que adoptaste, que te retrata tão bem: salienta aquilo que gostas e esconde aquilo que queres esconder.
Passas tecido pelos braços e assim tapas as marcas do erro que não consegues parar de cometer. Quantas vezes não prometeste já que não o repetirias? "Mais um pouco, menos um pouco... a diferença não é muita, porque o necessário é que seja de raiz." Anseias pela consulta com o dermatologista, em que vais fingir que não ouves o sermão que ele te dará ou o espanto ou repúdio que sentirá ao ver-te. Mas está tudo na tua mente. Nada disto é repugnante. Não para mais ninguém que já te viu esse defeito. Mais ninguém parece achar que isso tenha qualquer impacto. Gostam de te ver assim mesmo, apreciam-te mesmo com isso. Só a ti te incomoda. Não podes esconder-te tanto, com tanto calor. E isso incomoda-te. Mas apenas a ti. Afinal, onde está toda a confiança que dizes ter?
Vestes uma camisa com quadrados, que deixas aberta a uma fresta de um tope. Colocas uma badana no cabelo. Voltas a aplumar a tua já tão incomum juba preta e colocas batôn vermelho nos teus carnudos lábios. Colocas um pouco de preto nos olhos e estás mais do que pronta para arrasar.
Gostas do que vês, porque tapas o que não queres ver.

És louca, rapariga.

25. Carta à pessoa que tu sabes que está a passar pelos piores tempos

Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.

Uma gargalhada constante, uma fuga à realidade. Assim tu te apresentas, engraçada e bela.
Um ligeiro movimento, uma dor intensa. Assim tu te escondes, ferida e incurada.
Às vezes penso que esse teu jeito de ser é uma afirmação clara de que desististe.
Costumava pensar que era uma forma de mostrares que não queres desistir. Porém, isso não seria coerente com os pensamentos em que te encontro na solidão, real. Posteriormente, passei a achar que era isso uma forma do teu orgulho fingir que ainda não desististe. Agora? Agora penso que toda a tua energia é uma declaração de quem não quer mais saber de si. Apenas dos outros. Do seu bem-estar. Por mais que isso seja uma ilusão.
Já te acostumaste a este fim. E é um fim porque assim tu crês. Se tu própria admites ser um fim, não há quem o consiga recomeçar. Não conseguem os outros enganar-te quando tu própria já não te iludes.
Pobre mulher.
Não merecias esta história.
Ou será que sim? A nossa história é um acumular das opções que fazemos. Ainda assim, deverias ter sido feliz. Mas ninguém mais interferiu nas tuas opções. Tu, apenas. Tu, só. Tu, o teu medo, o teu orgulho e a tua insegurança.
Tu.
Tu que foste educada ao bom estilo típico romântico. Tu que fazias palpitar os corações das ruas por que passavas e agitar todas as saias que vestias. Tu, a mulher que outrora era a bailarina, a fadista, a cara-linda, a boa moça. Tu, a criança que hoje corta partes do seu próprio interior para poder viver mais uns anos, uns meses, umas horas que sejam.
Para me ver feliz.
Para que eu não perca mais um ente numa idade tão tenra. Para que eu possa chegar a casa e saber que tenho um par de braços a quem abraçar, um par de bochechas a quem beijar. Uma figura materna a quem amar.
Tu, minha heroína, prendes-me a esta vida. Com tudo o que isso quer dizer.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

2. Carta à tua paixoneta

Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.

Estou tão cansada de ti.
Cansada de só conseguir dormir contigo e de precisar de dormir todas as noites. Não compreendes por que tento cansar-me ao máximo antes de ir para a cama? Faz com que te evite.
O que mais me cansa em ti é tu não pertenceres a uma única pessoa, mas sim a várias.
Fazes com que eu me canse tanto contigo que não consiga deixar o Amor infiltrar-se em mim.
Porque todas as noites... todas as noites tu o substituis e fazes-me sentir um grande cepticismo em relação a ele. Preenches-me de mais.
E o que me custa mais é que também tu gostas de variar. É isso que me cansa mais em ti.
Fazes-me saciar todos os meus desejos sexuais e viver um grande amor com cada pessoa, porque as atrais até mim.
Fazes-me viver toda uma vida amorosa e depois acaba-la. Fazes com que repare numa pessoa em particular e focas-me nela. Fazes com que ela me conheça lentamente e nos apaixonemos.
Fazes com que ela esteja nervosa quando se aproxima de mim.
E ela aproxima-se.
Ela aproxima-se e toca-me na mão, e as nossas respirações tornam-se uma só, presas a um íman transparente que nos une. E ela aproxima-se. E ambos miramos os rostos um do outro, enquanto um de nós toca a face do outro. Os nossos narizes abraçam-se e as nossas pálpebras rendem-se à força gravitacional de Júpiter. Finalmente, os nossos lábios tocam-se suavemente e ambos ficamos surpresos com o que se está a suceder. Apenas então o interruptor da chama é pressionado e ambos contraímos os nossos corpos um contra o outro, no ardor do que é amar. Os meus braços procuram fugazmente uma posição para proteger os seus braços, as suas costas, os seus ombros, a sua cabeça; enquanto que os outros se preocupam em comprimir-me contra o seu umbigo, pressionando as minhas costas.
E sorri, tímida, tal como eu o faço durante as próximas vezes que os nossos olhos se cruzam pelo espaço - pois o sentimento que nos une é já tão enraizado e antigo que não nos é possível contrariá-lo. Só nas tentativas seguintes de um aniquilamento da desconfortável timidez é que conseguimos reconhecer um compromisso, sem alguma vez ser preciso assumi-lo claramente:
- Amo-te.
E, graças a ti, juntos vivemos o sonho de ter um companheiro a nosso lado, que nos respeita e provoca, que nos acalma e nos acende, que é fruto da sinceridade.
Mas não é mais do que isso.
Um sonho.
Não é mais do que isso, porque, depois de saciadas, nos abandonamos. Tu apresentas-me outra pessoa em particular e o mesmo sonho repete-se.
E, desta forma, não chego a amar ninguém.
E, por tua culpa, Paixoneta, consigo ter tantos amantes por ano quantos os que quiseres e não sinto a necessidade de amar na prática.
Para quê, se tu me satisfazes o desejo e a auto-confiança me satisfaz a segurança?
O Amor que, se quiser, reclame contigo.

quinta-feira, 31 de março de 2011

19. Carta a alguém que importuna a tua mente - positiva ou negativamente

Conteúdo para Adultos


Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.

Não te aproximes mais. Chega.
Afasta-te de mim. Não te quero aqui.
Não te quero!
É assim que penso cada vez que te vejo ou cada vez que me falas.
E não te quero, de facto. Não, de maneira alguma.
Estou cansada de ti. E de mim. E de nós.

Cansada da tua atitude! Cansada das características que activas em ti. Não tens já idade suficiente para perceber que estás a piorar progressivamente? Não tens capacidade de compreensão da tua estupidez?! Serás assim tão estúpido?! Tão ignorante? Tão burro!
Estou realmente farta de ti. Fartei-me de te tentar compreender ou ajudar, quando tu adoptas sempre uma posição da ignorância representar o sumus pontifície e de que tudo o que eu disser é mentira ou irrelevância digna de bofetatada. Cansei-me de te tolerar - e exausto-me só de pensar na ideia de o repetir. É por isso que só o pensamento de ti ou a tua visão me fazer querer degolar-te.
Pegar numa lâmina pesada, grande e afiada e cortar-te o pescoço com todas as forças que tenho. Gastá-las todas em ti. Desfigurar a tua cara. Tornar-te mórbido e, por fim, aniquilar-te. Desfazer-te em pedaços. Pedaços de carne. E, depois, cuspir para cada pedaço teu, espezinhá-lo, esmagá-lo. Transformá-lo em pó. Cinza. E soprar a cinza, inundá-la em água. E, de novo, pisá-la. Atirar-me para cima dela com os pés e gritar que te afastes de mim. Não te quero!
Mas como é que é possível que tu sejas tão estúpido?! Como é que é possível que tu, besta quadrada, animal quadrúpede com um cérebro em decomposição e uma mente apodrecida, não compreendas o quão IDIOTA és, meu duende insignificante?!
Tira daí o determinante possessivo, que não quero pertença de ti! Não quero a tua pessoa envolvida com a minha! Não quero tal imundície!

E pergunto-me ainda: como terás sido capaz de substituir as características que tinhas pelas características que tens?! Como será possível que te tenhas tornado tão monstruoso a meus realistas olhos, quando com os mesmos olhos te via eu doce?
Como terás sido capaz de, depois teres sido gozado por tanta gente, de teres aprendido a saber como dói ser excluído, de teres sido deixado em paz e posteriormente de teres sido aceite por algumas pessoas DEVIDO A MIM!!, excluir os outros, ser arrogante e fútil?
Como serás tu capaz, depois do passado por que passaste, de discriminar os outros e achar-te superior a eles?
Como serás tu capaz de te envergonhar dos outros, quando tu próprio és uma mancha?
Como serás tu capaz de olhar repugnado para o prato dos outros, quando tu próprio és nojento a comer?
Como serás tu capaz de mentir para fazer boa figura, quando te revoltavas por veres os outros mentirem desnecessariamente?
E como serás tu capaz de achar que fazes boa figura, quando todos te acham - principalmente agora! - ridículo?
Não tens qualquer noção de bem ou justiça.
Não contes mais com o meu apoio - porque a amizade já forçaste tu a romper.
Metes-me nojo.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

24. Carta à pessoa que te deu a tua melhor memória

Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.
Fábio Luís - 9 Nov., 2008
Lindo ?
Dass linda ez tu krl !
Bahh ez bue __
<3   ;)
Tenho saudades tuas, confesso.
Tenho saudades da tua amizade. Éramos tão ingénuos... e tão queridos um com o outro. Éramos sinceros, puros e tão unidos! Sentia-te tão pegado a mim, com uma força inexplicável... Adorava-te. Era fantástico.
Não tenho saudades tuas enquanto namorado, mas aquilo que nos unia maravilhava-me. Quando estive contigo foi fantástico: adorava estar abraçada a ti – era um momento único. Sei que não exagerava. Eu teria dado tudo por ti, nem que fosse só mesmo pela amizade. Disseram ser obsessão... mas eu tenho as minhas dúvidas. Eu não desesperava por ti. Ter-te a meu lado ou saber que irias esperar por mim acalmava-me. Eu não te desejava com ardor, o pensamento de ti trazia-me harmonia e paz - e eu sentia-me equilibrada.
Fábio Luís - 8 Nov., 2008
Bahhh ezZme bue! >.<
dezeju td de bom pa ti , poiz tu u merexex ;)
P.S-(esta foto ja é minha =Pp)
bjx*  By-'Kyanu
E sentia-me tão protegida e segura!
Às vezes idealizava-te como um anjo guardião.
Mas conforme vieste, foste-te... tal como um anjo.
E – é impressionante – eu nunca fiquei magoada com ele pelos teus erros. Quando me deixaste, não chorei. Suspirei, apenas, por ver aquele anjo partir.
Mas quando te quiseram tirar de mim à força desesperei. A imagem da tua instabilidade, da tua mágoa, do teu sofrimento, do teu desespero... deixava-me fora de mim. Acho que nunca sofri tanto por sentir alguém sofrer. Tu eras tão delicado! Tão bom...
Uma verdade é que nunca mais senti algo assim por ninguém. Não acredito que haja uma cara-metade por aí fora – mas se houvesse, terias sido tu; nem acredito que os nossos destinos se cruzem irremediavelmente... não acredito na existência dum destino – mas para a definição de O Tal, tu eras o ideal. Tu foste, de facto, O Tal para mim - por ti teria arriscado tudo. Não, não digo o melhor para mim, o perfeito, o mútuo; mas aquele, o anjo, por quem teria sacrificado a minha vida, sem esperar nada em troca. Se tu sentias o mesmo por mim, isso era indiferente.
Poderia ter resultado bem. Sinceramente, ainda hoje não me parece que teria sido um erro... Não me arrependo de nada – e eu costumo ser tão pessimista! Aprendi tanto contigo... Aprendi a esquecer o ciúme e o orgulho, a perdoar a traição, a tolerar o diferente, a observar o exterior, a entender o próximo… fizeste-me crescer tanto! Caso contrário, como teria eu mudado por ti?

Obrigada por, um dia, teres feito parte da minha vida.


masoquismo ou culto próprio?

 
Se, por um lado, forçar-me a fazer algo pode ser encarado como um masoquismo, porque um desafio desta ordem trar-me-á mais trabalho e forçar-me-á a rever memórias e sentimentos que tenho enterrado; por outro lado, será uma tempestade que forço a cessar. O rio Trancão está razoável na superfície, mas, como diz o meu professor de Geografia A,
- Que ninguém se lembre de remexer o que está no fundo!
Ora a isto diria a minha cara amiga Sílvia:
- Por que não?
Ela acharia que a limpeza do rio seria árdua, mas depois de toda a sujidade levantada e removida, apenas a água límpida correria... E talvez ela tenha razão.

Tudo isto para dizer que vou aceitar um desafio proposto por ela, que consiste em cumprir uma lista de cartas (embora que nunca entregues realmente) que forçam a imaginação e o confissão de memórias - o que me potencializará a escrita e me libertará de pesos mortos, tornando-me, quer num aspecto, quer noutro, mais forte.

Eis a lista:
  1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga;
  2. Carta à tua paixoneta;
  3. Carta aos teus pais;
  4. Carta ao/à teu/tua irmão/irmã (ou o mais relativamente próximo);
  5. Carta aos teus sonhos;
  6. Carta a um estranho;
  7. Carta ao teu/tua ex-namorado/ex-namorada/antigo amor/antiga paixoneta;
  8. Carta ao teu amigo da internet favorito;
  9. Carta a alguém que desejavas conhecer;
  10. Carta a alguém com quem não falas tanto quanto desejarias;
  11. Carta a um falecido com quem gostavas de falar;
  12. Carta à pessoa que mais odeias/que te causou muita dor;
  13. Carta a alguém que desejavas que te perdoasse;
  14. Carta a alguém de que te afastaste;
  15. Carta à pessoa de quem mais saudades tens;
  16. Carta a alguém que não está na tua cidade ou país;
  17. Carta a alguém da tua infância;
  18. Carta à pessoa que desejavas puder ser;
  19. Carta a alguém que importuna a tua mente - positiva ou negativamente;
  20. Carta àquele/àquela que mais destroçou o teu coração;
  21. Carta a alguém que julgaste à primeira vista;
  22. Carta a alguém que tu queres dar uma segunda oportunidade;
  23. Carta à última pessoa que beijaste;
  24. Carta à pessoa que te deu a tua melhor memória;
  25. Carta à pessoa que tu sabes que está a passar pelos piores tempos;
  26. Carta à última pessoa a quem fizeste uma promessa do dedo mindinho
    Carta a alguém que te inspira;
  27. Carta à pessoa mais amigável que conheceste por um dia;
  28. Carta à pessoa que mudou a tua vida;
  29. Carta à pessoa que queres contar tudo, mas que estás demasiado receoso/receosa;
  30. Carta ao teu reflexo no espelho.
Vamos ver como me dou com isto.

sábado, 24 de abril de 2010

protagonista perdida

Uma carta de Adriana Pereira. Desabafo de um coração destroçado pela saudade de uma grande amiga.
Olá, twin.
Já li os teus textos. És uma escritora notável, deixa que te diga. Adorei. Aquele teu sonho, o do número 16, é muito estranho. Quanto ao resto, em relação àquele rapaz... Não me lembro o nome... Miguel,
maybe? hmm... Em relação a isso, não há muito a dizer, penso. Ele continua sem avançar? Bem, é um rapaz estranho... Indeciso, quanto muito.
Eu hoje não estou nada inspirada. Só para que saibas. Dia mau. Enfim!
Tenho-me sentido todos os dias como que deslocada, como se estivesse no meio de um palco que não é o meu... Como se tivesse entrado na peça errada, como se fosse uma personagem errada. O pior é que não encontro a saída... Obrigam-me a interagir com as outras personagens. Cada vez sinto mais falta das personagens do palco a que pertenço, da história que sei ser a minha. Só há uma personagem com quem me sinto em casa, mas não me deixam interagir com ela... Só temos meia dúzia de diálogos, são tão poucos!... Sinto a tua falta, quero voltar ao meu teatro, ao meu palco, à minha história. Quero voltar a sentir-me inteira, uma unidade, como dantes. Como quando as salas de estudo eram para os outros e eu podia falar contigo até que a campainha nos disparasse nos ouvidos e nos lembrasse que o dia tem um fim. E então ambas sabíamos que era o fim da conversa e sabíamos que no próximo intervalo da vida, na próxima pausa da realidade, podíamos refurgiar-nos no conforto da palavra amiga. Quero isso de volta. Quero poder chamar-te
twin a olhar-te nos olhos, quero poder ouvir o que tens para me dizer e poder depois agradecer-te com um abraço.
Hoje, foi um dia mau. O Rodrigo estava mal. Eu fiquei mal. Sinto-me ligada a ele, como se o sorriso dele me enchesse de luz, me tocasse como uma agradável brisa e lavasse da minha alma todas as minha preocupações; e uma lágrima a escorrer dos seus olhos preenchesse o meu céu com nuvens do mais negro tom de cinza e me queimasse por dentro como um fogo insuportável de Verão. Sei que não devia sentir estas coisas, mas ainda não consegui erguer uma barreira que conseguisse parar a torrente de emoções que ameaça deitar por terra a pouca estabilidade emocional que por vezes consigo erguer no meu âmago. Ele tinha um dente partido, a canela ensanguentada e também no pescoço sobressaía uma marca vermelha. Não tive a coragem de lhe perguntar o porquê de todas essas mazelas. Tenho demasiado medo de ir longe de mais. Tenho demasiado medo que ele fique chateado ao ponto de nunca mais ter a pequena parte da amizade que ele me concedeu. Estimo essa amizade. Tenho cuidado. Há uma linha para lá da qual não me atrevo a ir.
Não sei o que ele tinha, sei que o que quer que fosse teve em mim o mesmo efeito de uns quantos milhões de mãos e braços a puxar-me para baixo, para a imensidão negra que sinto por baixo de mim.

Tinha de falar com alguém. Desculpa não ter conseguido ser de grande utilidade para o teu problema.
Obrigada por seres minha gémea. Obrigada por tudo. Adoro-te muito, tenho saudades.
Beijo grande.

terça-feira, 6 de abril de 2010

destruição impossível

Para alguém especial, Íris Melo

Poupar-me-ei de pormenores escusados e de referir aquilo que nos fez chegar até aqui. Também não me referirei sobre os momentos bons que passámos, muito menos sobre as desilusões que ambas provocámos uma à outra, fazendo-me acreditar que a nossa amizade não era mais do que isso: ilusão. Quero, então, mostrar-te que és das pessoas mais importantes para mim e que mais me marcou.
Fomos tão infantis, tão imaturas, tão criancinhas. Assim que nos conhecemos, começámos a criar uma amizade e a especular sobre o que éramos, sem sequer tentarmos conhecer o lado mau uma da outra. Quando pequenos detalhes íntimos nos abordavam, ficávamos assustadas e preferíamos negar a sua existência. Não estávamos de facto a ser amigas, estávamos a querer apoiar-nos no que não sabíamos e mostrar o quão fantástico é ter uma melhor amiga.
Já passei meses com pensamentos entalados, sem coragem de tos dizer. Outros de fora diziam-me que eu tinha medo de ti, mas agora vejo que foi apenas medo de te perder, pois não acreditava já te ter perdido de vez. Quando me abordaste com determinadas opiniões, fiquei tão revoltada contigo que só me apeteceu nunca mais te falar, mas gostava demasiado de ti e custava-me esquecer dois anos de irmandade.
Hoje já não te considero a minha melhor amiga, tu sabes bem porquê, mas sabe-me bem olhar para trás e ver a nossa ignorância. Hoje sei que estarás lá se eu te pedir e sei que sabes mais de mim do que eu imagino. Também sei que já não me consideras a tua melhor amiga, e isso tira-me um fardo dos ombros. Sinto-me orgulhosa por um dia termos tido a capacidade de discutir seriamente, de um dia termo-nos desprendido de qualquer desilusão.
Hoje, sim, consigo dizer-te que sou tua amiga, tendo a certeza de não me arrepender ou enganar. Sei que todo o mal que habitava escondido em ti está revelado agora e sei que, conseguindo ser tua amiga na mesma, sê-lo-ei para sempre, ainda que não te queira mais ver à minha frente.

Nem a barreira da mentira consegue destruir aquilo que é, de facto, puro: é nesse limite que posso distinguir a validade da nossa amizade e a das ilusões.



Eu sei que sofreste, mas não quero que te escondas: é frio e sem amor. Eu não vou deixar que sejas negada. Calmamente, eu far-te-ei sentir pura. Confia em mim, podes ter a certeza. Eu quero reconciliar a violência no teu coração. Eu quero reconhecer que a tua beleza não é só uma máscara. Eu quero exorcizar os demónios do teu passado. Eu quero satisfazer os desejos reservados no teu coração. Tu enganas os teus amores, dizendo que és maldosa e divina; podes ser uma pecadora, mas a tua inocência é minha. Agrada-me: mostra-me como se faz. Provoca-me: tu és a tal.