domingo, 29 de abril de 2012

Prémio Dardos

     A Olinda P. Gil ©, já cliente cá da casa, enviou-me mais um prémio de literatura aqui para Controlo Demente, através d'A Casa do Alfaiate, o seu blogue principal. Quase dois meses depois, decido lembrar-me da generosidade e deixar a preguiça de lado.


     Sem modéstia, nem acanho, devo confessar que deve ser, de longe, um dos selos mais importantes que já recebi, tendo em conta que elogia não só a minha capacidade de escrever, mas também as mensagens que procuro sempre deixar, em cada texto que redijo, por mais subliminares que sejam - e por mais que eu note que poucos as conseguem detetar e decifrar. Eis, portanto, o texto oficial:

«O Prémio Dardos reconhece o valor que cada "blogueiro" mostra em cada dia no seu desempenho em transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, ... que, em suma, demonstram a sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre as suas letras, entre as suas palavras.»

      É meu dever, assim, indicar outros blogues que mereçam tanto ou mais do que eu o mesmo distintivo. Aqui estão eles*:

Bem hajam!

*A aceitação deste reconhecimento implica três regras:
  1. Exibir a imagem;
  2. Colocar uma hiperligação para o blogue que lho enviou;
  3. Escolher 15 blogues para passar o Prémio Dardos (quem contar os meus leva um carolo).

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Pedaços de Memória que o Tempo Dissipou


     Ariana sentava-se entre as folhas que jaziam a seus pés, vivas e cansadas das viagens que faziam, quais pássaros guiados pelo vento. Estas folhas, que traziam mensagens de nostalgia, faziam-na perguntar-se a si mesma se valeria realmente a pena esperar tanto por algo que nem conhece, mas que sabe existir, porque o sente.
     A madeira humedecida que suportava os seus pensamentos dava-lhe o conforto necessário para falar à maresia dançante que coadjuvava a expansão do seu cabelo pelo ar, em movimentos ondulantes e surrealmente apaixonantes. A água salgada que não conseguia tocar beijava-a silenciosamente, tranquilizando os seus medos mais ferozes e libertando as pequenas mágoas que a sua esperança ia formando, à medida que provava a sua determinação em ser feliz, num mundo feliz.
     Ao longe, ouvia os sinos e os tambores, marcando o ritmo das vidas de todos os que não os mandavam tocar. Deste cais, era-lhe possível escutar com atenção o que estes sinais cantavam, e não meramente ouvir. Se pudessem ler as lufadas por de trás daquele sorriso calmo e ligeiro, veriam, em vez de simpatia, conspiração. Isso nunca tinha acontecido antes, porque ninguém se importa com o que alguém que não toca pensa ou sente, porque serão sempre meros pensamentos abstratos, dada a impossibilidade de ação. Limitações a que Ariana assistia passivamente, não obstante o brechtianismo interior que estava na base da força e da coragem que faziam de si uma mulher excecionalmente bondosa. E perigosamente contestatária.
     Mais perto, ouviu o seu nome ser aclamado por entre as encenações de vidas consideradas normais, à sua direita. De olhos arregalados e boca ligeiramente aberta, devido à constipação que refletir lhe provocara, virou o seu rosto, para compreender o que se passara. O seu cabelo esvoaçou de surpresa para o lado contrário e exibiu a magnitude de uma mulher esbelta e simples.
     E nunca acontecerá.

Detachment by *Eukendei on deviantART

sábado, 14 de abril de 2012

poder vs. felicidade

«De que vale mostrar ao mundo que se é forte militarmente, se não se conseguem resolver eficazmente os problemas internos?»

like wildfire by =agnes-cecile on deviantART

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Tantos muros

Quando fez dez anos que derrubaram
O muro que dividia o mundo,
Um mundo antes repartido
Por interesses desiguais,
Tantos e tantos comemoraram
Pois o "muro da vergonha"
Agora não existiria mais.
E então não existe mais vergonha?
Enfim aprenderam a repartir as flores?
O sorriso já não morre nas crianças?
O sangue corre apenas pelas veias?
Já extraíram da política a peçonha? (...)
Os oceanos não se encontram mais doentes? (...)
E então?
E tantos comemoraram
A queda de um muro a mais,
Mas tantos nem se lembraram
Que dividindo este mundo
Ainda há tantos muros iguais.

Francisco Simões

domingo, 8 de abril de 2012

Assim eu pudera...

Estrelas brilhantes, caídas do céu,
Pousam nos meus olhos, fazendo-me réu.
Escrava da azul neve, nas pálpebras o Mundo
Se quebra, pestanejando, pedaços de segundo.

Pudera eu, Mãe Natureza, tua filha não ser,
Para em surreal rosa o meu toque te envolver
E, sem promiscuidade, me declarar amante
Desse teu orgulhoso cabelo de diamante!

Pudera eu, Mãe Natureza... Eu, assim, queria
Cheirar-te o rosto, maquilhado de alegria,
Morder-te o nariz, soprar-te ao pescoço,
Fazer-te sentir o meu próprio alvoroço.

Assim eu quisera, Mãe Natureza,
Amar-te a ti, pela tua singular beleza,
Envolver o teu perdão e esquecer a tua vingança
Pelos ventos dos quais sou responsável de mudança.

Assim eu pudera...