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quarta-feira, 30 de maio de 2012

Personagens de uma Paixão Platónica

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    A pele morena que me encanta, os carnudos lábios que me seduzem. As suas mãos nas minhas costas, descendo gentilmente, apertando-me contra o corpo que me consome. As minhas na sua nuca, aceitando, entregando, retribuindo o desejo de querer, de tocar, de fazer. Em volúpia desatenta, mas concentrada - entre dar e receber, num afastamento intencionalmente falso, num aproximar de respirações ofegantes que definem dois corpos suados. A pressão entre desejos, a divergência convergida, convergente, ardente. A força entre um e outro, que do empenho de ambos parte, a não desistência, a resistência, a incomplacência. O amar, o querer, o rasgar, o ter, o prazer!
     Lá fora, harpas cantam, pianos suspiram. A brisa morna, soprando das árvores, sussurra aos ouvidos canções de embalar, mais frescas do que os corpos, que vibram, alargando, massajados.
   O repousar da fé em mútuo olhos, espiritualmente trocados. O tocar de peles que se conhecem e não se cansam uma da outra. O saltar de um peito que parece nunca se habituar ao explorado, sendo sempre perdurado. O sentir pequenos e ásperos pêlos caraterísticos na ponta dos delicados dedos de seda. A fusão entre braços por abraços. Os passos das aves, irradiantes de calor que descontrai e quebra a tensão muscular. Os frágeis dentes de leão que voam no azul meio: azul de carícia, de mimo, de ternura. O vento que passa e os cabelos que dançam. Os narizes que trocam pequenas e cuidadosas impressões, como tímidos amantes que se entregam por dedicação, cujos rostos aquecem, um colorindo-se, o outro observando-o.
     A cabeça que se encaixa no ombro, o braço que segura o tronco e os dedos que se enlaçam. A paz, devota.

domingo, 4 de março de 2012

Homme Fatal

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     Sentada de lado no cadeirão escarlate, via as minhas pernas despidas, apoiadas no braço direito da poltrona, mudarem de cor, conforme o crepitar das labaredas. O amarelo avançava progressivamente em relação à minha direita, debruçando-se por cima de mim para me abraçar a cintura. Não o conseguindo, um vestígio de sombra ficava desde o meu nariz até à biqueira das minhas sabrinas cor de cinza. Na transição entre o sonho e o sucesso, estava aberto no colo da minha saia cinzenta pregada um espesso volume, onde as rivalidades entre lobisomens e vampiros me eram explicadas. O confortante calor, que, naquela noite de fevereiro, era expelido da lareira no meu lado esquerdo, permitia que eu tivesse apenas a camisa branca vestida, donde pendia a minha gravata vermelha e amarela, e as mangas arregaçadas.
     Àquela hora, não costumavam estar muitas pessoas na Sala Comum. Atrás de mim, deveriam estar umas quatro ou cinco raparigas histéricas e um pouco invejosas. Pelo menos assim me pareciam, quando costumavam ver o garanhão desprezá-las para me dar a atenção que ninguém supostamente conseguiria despertar nele. Eu ouvia-as comentar as fofocas mais pindéricas que a imprensa poderia vender e as bugigangas mais dispensáveis que poderiam ser comercializadas. Mais adiante, estavam dois rapazes e uma rapariga de volta dos papéis, quiçá a escrever um relatório para a manhã seguinte ou apenas a fazerem o tempo livre render. Digamos, um deles não deveria certamente estar ali pelo segundo motivo, talvez até nem tanto pelo primeiro, mas mais para não se sentir só. Nunca tinha percebido como uma pessoa tão dependente dos outros pudesse ser aceite como uma de nós, embora compreendesse que talvez apenas eu visse algo de errado naquele rapaz. Mais imparcialmente, era a minha tendenciosidade contra a ingenuidade deles. Como tal, e por questões de respeito, eu limitava-me a não lhe dar muita atenção.
     Sentia-me preguiçosa em todo aquele meio agradável e estiquei-me para trás. Deixei a cabeça e os braços penderem no sofá e fiquei a ver o teto com carpete escarlate e o chão com candeeiros. O meu corpo foi perdendo força e os meus músculos relaxaram, em verdadeira paz física. Fechei os olhos e lembrei-me do cheiro do negro cabelo dele. Ah, como gostava que me envolvesse com aqueles seus fortes braços e preenchesse com os seus lábios rosados e carnudos o espaço entre os meus! Como gostava desse seu jeitinho mal intencionado e de como colocava o seu braço à volta dos meus ombros e me aquecia as bochechas com beijinhos, apertando-me com força! E como gostava de não precisar que me admitisse nada...
     -- Olá, estudiosa -- uma voz masculina e grave me disse em tom alegre e malandro. Abri os olhos e paralisei por momentos, como que ainda a processar a informação. Levantei a cabeça e, para minha surpresa, ali estava ele, debruçado sobre as costas do cadeirão, com um ligeiro sorriso nos lábios e os cabelos que nem cortinados ondulados, caídos.
     -- Estás aí há muito tempo?
     Abriu o sorriso por completo e, no mesmo ar sedutor, levantou-se do sofá e contornou-o. Parou encostado às minhas pernas, quase a meu lado, e vi o seu corpo abaixar-se e avançar em direção a mim, enquanto senti o sangue correr mais depressa e o peito inchar por causa aquele ar galã que ele tinha. Não me lembro de pensar mais nada, nem de reagir, quando pousou uma mão de cada lado do meu pescoço e avançou a sua cara em direção à minha:
     -- Há suficiente para perceber que essa camisa te fica muito bem.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Maré Estrategicamente Brava

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     Cada mulher é um mar de mistérios e atrai a si qualquer marinheiro voluntário. Qualquer vocação marítima encontra em si o próprio conceito atrativo, quase inconsciente. Nenhum marinheiro que goste verdadeiramente do mar consegue passar ao longe, talvez numa ponte qualquer, ver o mar e não sentir qualquer tipo de melancolia agradada. E eu estava precisamente à beira daquele mar que todos os dias me vinha molhando os pés.
     Eu sempre fui daquele tipo de homens que gosta de marés bravas. Não é que, na verdade, o mar seja mau, mas, por vezes, quando está rabugento ou aborrecido, decide chamar um pouco mais atenção, na esperança de haver por perto algum marinheiro aventureiro, que se sinta tentado pela provocação das ondas que rebentam mesmo na sua frente, sabendo que não pode ou não deve mostrar-lhe que o consegue domar.
     É de uma grande capacidade de resistência controlar estes impulsos de valente marinheiro e não ceder às pretensões de um mar bravo, que grita com uma discrição falsa pelos seus navegadores, sedento de ser motivo do esforço físico. Eu dava-me já por satisfeito só por ter a capacidade de deixar aquela maré insistir em se exibir através de espetáculos de insinuações e, num ou outro desejo mais violento, de frontalidades.
     Deveras difícil, para um homem como eu, recusar uma mulher como aquela, tão persistente, mas tão merecedora de submissão. Eu podia nunca me ter interessado em visitar aquela praia, mas aquela mulher, em específico, intrigava-me por se mostrar tão limpa e tão apetecível e, no entanto, recuar tanto a maré. E, após tanto tempo a respeitar o seu espaço e a caminhar a seu lado, ela deixou de ser uma maré brava e vaza, para ser uma maré calma e cheia. Eu, contudo, divertia-me a soprar-lhe os ventos mais fortes, já com os pés calejados de sal de todas as vezes em que ela me refrescou um pouco; porque aquela mulher -- ah! Aquela mulher! Que mulher... -- tentava sempre conter a bravura das suas ondas, que outrora agitava descontente. Eu sabia que ela queria que eu a explorasse e ela sabia certamente que a sua agitação fazia enfatizar a minha atração por mares bravos -- mas ambos sabíamos que a sua praia era demasiado vigiada para que eu pudesse ao menos molhar minhas mãos dentro das suas curvas.
     Mas ela aproveitava cada brecha na segurança para me seduzir até si um pouco mais. Naquele vestido de cetim preto, ela havia deixado discretamente as suas ondas brilharem, tapando as extremidades a renda da mesma pecaminosa cor, como se fossem abas que dissessem, através de telepatia, "abertura fácil". As pernas, quais pedaços de bife, moviam-se de um lado para o outro, destapadas e suportadas pela negra madeira brilhante, que alongam os seus pés e a aproximavam ligeiramente mais da minha altura, conferindo-lhe, simultaneamente, uma elegância vulgar. Mas não era todo esse cheiro que mais emoção me provocava, mas sim o calor que todo aquele volume contido naquele cetim preto emanava, com uma força capaz de me fazer achar que quem está quente sou eu.
     E eu limitava-me a ficar sentado naquela cadeira, numa posição descontraída, oposta ao olhar malicioso que eu lhe oferecia em troco de todo aquele espetáculo, igualmente inocente. Eu jurava a mim mesmo testar os meus limites e resistir-lhe, até mesmo quando ela inclinou todo o seu volume na minha direção e, com as mãos apoiadas nas minhas coxas já ardentes, me sorriu, de olhos escuros e rasgados e sobrolhos mais escuros ainda e bem delimitados. E eu ali, a um palmo daquela mulher que me poderia encher as mãos e as horas, toda fácil e firme.
     Então, ela moveu rapidamente uma sobrancelha apenas, ofereceu-me o seu sorriso, mordeu-o e, antes que eu o pudesse roubar, levantou-se, virou costas e caminhou até à porta por onde me tinha arrastado antes. Parou de balancear o habitual charme e, já agarrada à maçaneta, atirou-me um olhar cortante, sorriu-me maliciosamente e passou subtilmente todo o meu objeto de contemplação pela porta, deixando temporariamente ao alcance dos meus olhos apenas aquele olhar, que me prometia algo mais. Intrigado pelos seus enigmas, vejo, então, a sua mão singela segurar, perigosamente, por uma ponta, um soutien branco, cuja renda eu juraria já ter visto naquela sala.
     Assim que a sua mão deixou cair aquele tecido de suporte, mistério e segredo, pareceu perder lentamente o resto das forças e deslizar. Assim que tudo o que restava de si naquela sala era aquele rastro a dois metros dos meus pés, o meu corpo deixou de me obedecer. Instintivamente, as minhas pernas ergueram-me daquela cadeira e eu submeti-me à influência sexual e amorosa que aquela mulher transbordava para mim. Abri a porta e ei-la, a fugir em passo apressado. Enganas-te se pensas que te safas desta, ouvi-me pensar.
     Rapidamente, estava já ela completamente cercada pelos meus braços, contra a parede mais próxima, naquele pátio deserto. O calor não emanava agora daquele peito que saltava, mas sim do seu bafo, verdadeiramente nervoso. Confusamente, molhou os lábios secos, mas eu não achei que a sua própria saliva fosse suficiente. Com os meus lábios encaixados nos seus e a minha língua a roçar na sua, eu senti as suas mãos geladas tremerem contra a minha nuca, enquanto que era impossível distinguir qual das duas respirações estava mais acelerada. Ao aquecer as minhas mãos debaixo daquelas aberturas fáceis de renda, eu desejei apenas que ela tivesse consigo outro vestido, porque aquele estava prestes a ser rasgado.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

12. Carta à pessoa que mais odeias/que te causou muita dor

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Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?. 

    Um passo, dois passos. Uma pancada. Duas, três, quatro pancadas. Cinco pancadas. Seis, sete, oito, nove pancadas. Dez pancadas. Onze.
      A adrenalina percorre todo o meu corpo e arrepia toda a minha pele. Contorço o pescoço, numa tentativa de afastar o pensamento da memória. Custa-me relembrar, a sangre frio, sem aquecer.
      Olha bem para mim. Não pretendo intimidar-te, mas olha para mim, bem fixamente nos meus olhos. Sentes a raiva chegar até ti? Eu sinto-a sair de mim. Acreditas mesmo que o medo me enfraquece? Enganas-te. Oh, se te enganas! O medo faz-me violenta. Fortalece o meu lado animal.
      Tens, pois, a certeza de que pretendes continuar? Achas mesmo que, ao me tocar dessa forma, te respeitarei? Queres mesmo levar isto até ao fim?
       Pois então leva. Toca-me dessa forma pseudopossessiva. Sente-te poderoso. Faz comigo o que tens sempre feito e que o fazias com todos os outros -- e bate-me. Bate-me tanto quanto quiseres. Rasga a delicadeza que esconde, cinicamente, o pudor dentro de mim. Bate-me mais. Descarrega em mim os teus problemas. Bate-me, bate-me muito. Finge que, assim, eles passam a ser meus. Bate-me com força. Finge que o demónio está em mim e faz das tuas mãos água benta. Bate-me! Faz de mim o que tu quiseres.
       Veremos, no fim, qual de nós dois rirá.

sábado, 27 de agosto de 2011

o dia em que o mundo não me viu

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Cortei com fervor as paredes que te iluminavam. Chorei cada sombra que me esmagava na sua queda.
Queda fiquei. Ficando te amei. Te amando odiei. Odiando chorei. Chorando gritei. Gritando rasguei. Cortei. Roubei. Matei.
As minhas unhas finquei nesse tecido abusador e com a força dos meus braços fiz as minhas mãos arrancarem todo o pudor de ti, findando a tua dignidade e o meu sofrimento.
Os meus pulmões fizeram o meu tórax inchar e recolher-se, num compasso sexual.
E, naquela moldura magicamente cantante, eu amei-te como ninguém alguma vez o tinha feito.

sábado, 13 de agosto de 2011

1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (II)

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Em seguimento de 1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (I).

Baixou os olhos e esforçou-se por ignorar a forma calorosa com que ele a recebia, fingindo que não conseguia sentir os seus olhos fitarem-na encantados e o seu sorriso aguardar que ela se entregasse, pelo que tentou concentrar-se no mesmo que os outros queriam dele: ajuda académica. Ele, tendo caído em si, levantou-se num salto, apoiou o braço esquerdo por cima dos ombros dela e o direito sobre a folha que ela lhe mostrava.
Sentiu imediatamente um fogo nascer dentro de si e queimá-la por dentro, alastrando-se até às pontas dos dedos. Esta proximidade tinha quebrado o gelo em que se tinha deixado ficar, por frustração, por ciúme, por angústia. Ergueu o rosto na sua direção e olhou-o nos olhos, procurando mostrar que o seu gesto a tinha sensibilizado e que não iria resistir. Não obstante, não encontrou o seu sentimento retribuído. Perscrutando o seu rosto, não encontrou um traço de emoção ou afetividade; pelo contrário: agora portava uma expressão de profunda concentração e determinação pela conclusão da tarefa.
- Acho mesmo que vou eliminar este trabalho... - principiou ele, endireitando-se e massajando a face macia do gel usado para fazer a barba. Voltou a curvar-se, pegou na caneta e riscou a lista de alunos com aquele trabalho. - Esquece o projeto final. Não o façam, não vale a pena.
A sua não adesão foi bastante para que ela se indignasse. Via-a chateada e após a fazer amolecer-se consigo ignorava-a?
Bufou com o nariz, num sorriso irónico, e virou a cara para o lado. Fechou a boca e, no mesmo ar ligeiramente irritado, e lambeu os incisivos superiores.
- O professor é realmente um homem indeciso, não é? - disse-lho, antes de se voltar para ele e esboçar um novo sorriso irónico, com os lábios entreabertos, a sobrancelha esquerda erguida e os olhos semicerrados.
Ele, debruçado sobre a mesa e ainda fixando os papéis, bufou igualmente com o nariz, sorriu e moveu a mandíbula inferior para os lados, compreendendo. Virou a cara, encarando-a e ofereceu-lhe um sorriso céptico de lábios igualmente entreabertos, como se tivesse dificuldade em acreditar em ter ouvido aquilo dela.
Ela, por sua vez, ergueu ambas as sobrancelhas e, mantendo os olhos semicerrados, inclinou a cabeça, num gesto céptico de espanto:
- Que é?
Ele continuou a mirá-la com aquela expressão facial provocadora. É que por mim levava-te para outro sítio agora, pensou. Clicou na extremidade da caneta para a fechar, levantou-se, retirou o braço de cima dela, virou-se de costas e dirigiu-se à mesa onde tinha a sua pasta, o seu estojo e os seus livros desarrumados. Por um lado, queria muito concretizar aqueles sonhos que ela havia cultivado nele ingénua e despropositadamente; não podia, no entanto, deixar de se controlar, para o bem de todos. Mas ela não parecia importar-se com isso e parecia persistir em ficar no seu pensamento durante horas, fazendo-o querer voltar a ser um jovem sem preocupações.

Continuação em 1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (III).

1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (I)

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Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.

Toda aquela agitação aborrecia-a. A sala estava cheia e, quanto mais se avançava em direção à saída mais apertado o espaço era, dificultando o movimento.
Todos aqueles alunos interesseiros interpelavam o caminho até ao professor, desesperados com o trabalho que se lhes avizinhava. Mas não seria ela a verdadeira interesseira entre aqueles tijolos de amarelo e branco, ela, que tinha segundas intenções?
Não, porque, pelo menos, o interesse dela despertava emoções felizes e calorosas entre ela e ele, enquanto que os outros apenas se interessavam na utilidade académica, para maior utilidade material.
Não, não era do quão útil aquele professor lhe poderia ser que ela queria saber. Era o quão feliz poderia ela fazer aquele homem que lhe interessava. Eram aqueles lábios sedentos de prazer, aqueles dentes cheios de paixão e aquelas mãos ardentes de fúria que lhe interessavam. No fundo, era sentir o seu coração acelerado pela adrenalina e amá-lo com carinho que ela desejava. Era aquele homem cheio de inteligência, vigor e determinação que ela queria a seu lado, para enfrentar os males na vida e reconfortar-se nos bens, sempre partilhados.
E aqueles alunos todos colocavam-se entre ele e ela, gastando-lhes o tempo, frustrando-lhe a oportunidade de ficar consigo a sós e de se fazer sua mulher.
O olhar que ele lhe lançou quando chegou a sua vez foi o de quem, subitamente, sentiu o tempo parar por momentos. Contemplava-a num misto de conforto e entusiasmo, notoriamente alegre por finalmente estar com alguém por quem nutria sentimentos mais do que meramente académicos. Ela, no entanto, estava cansada de lhe sentir o amor fluir espontaneamente, de tal forma sincera de que nem ele próprio se dava conta da sua expressividade. Era, acima de tudo, um homem cheio de sentimentos e emoções, mas que tentava reprimi-las para poder agir de forma deliberada; e isso era, possivelmente, o que mais a atraía nele. Contudo, ela fartava-se dos seus jogos de toca-e-foge e de tentar perceber se ele, de facto, a queria ou não. Depois, sufocava-lhe o peito saber que de facto ele não queria nada, porque também ele queria tentar perceber se deveria arriscar tanto por uma mulher que se interessa e que o faz deliciar-se de cada vez que se exprime, mas que depois também se revela fugida, sabendo ela que ele tinha muito que refletir e que precisava, tal como ela, de alguém que lhe desse certezas. Havia muita coisa a perder para ficar com alguém como ela e não o podia fazer sem achar que ela realmente seria merecedora de tanto. E ambos andavam nesta brincadeira de rara sintonia com voltas trocadas: ela queria-o quando ele não podia e ele podia e queria-a quando ela já estava desencorajada.

Continuação em 1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (II).

quinta-feira, 21 de julho de 2011

desagregantemente selados

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A tarde cai sobre os estores semi-corridos da janela, deixando o quarto em tons azulados de cinza manchada. A presença dele é notória por algures atrás das costas dela, mas ela não o consegue localizar exatamente. Sente-se demasiado receosa para o encarar, mas demasiado ansiosa para querer partir.
Com um toque ligeiro das pontas dos dedos dele, ela sente o seu bafo quente arrepiar os cabelos na sua nuca, fechando os olhos delicadamente, quiçá para atenuar o efeito ou para o absorver com maior intensidade. A ligeira inclinação da sua cabeça fá-lo desejar apertá-la contra si, envolvendo toda aquela cintura com os seus braços. A observação do seu peito cuidadosamente arredondado arfar leva-o a sentir o seu estômago contrair-se enquanto se debruça mais sobre ela para lhe sugar o odor suave do seu pescoço com um leve percorrer do nariz, subindo levemente até à sua cara.
Ela estica toda a sua cabeça para trás, deixando que os lábios de ambos se colem com pouco movimento. Um novo beijo dele fá-la virar o seu tronco, segurar-lhe a nuca com veemência e penetrar o seu espírito com um dedicado beijo. Em retribuição, ele aperta-a contra si com um suspiro ininterrupto, usando as grandes mãos que possui para não a deixar ir. Ela diminui a intensidade com que o prende a si, fazendo as suas mãos deslizar suavemente pelo seu peito abaixo. Desperta o botão das suas calças e faz deslizar novamente as mãos peito acima. Ele desprende os braços da cintura dela e levanta-os, deixando-a atirar a sua única camisola para o chão.
Paralisado por momentos, contempla, com algum espanto, o quão longe chegou. Dobra as pernas, cerca as suas ancas e estica-se, levantando-a ao seu colo, enquanto caminha. Entrelaçando as suas pernas na cintura dele, vê-se ela, poucos segundos depois, encaixada no seu colo, ambos sentados na orla da cama. Ele beija-a dedicadamente, carinhosamente, sinceramente. Observa o seu rosto pálido e suave e vê as sombras das cortinas dançarem ao longo dos seus ombros, como se a sua própria pele branca fosse também rendada. Desejando revelar a sua palidez azulada, suavemente a despe e encontra-se deitado pelas delicadas mãos que o arrepiam e o completam sempre que lhe falta algo. Tinha por cima de si o corpo que reunia todo o seu desejo, a sua ambição, a sua satisfação e a sua plenitude - a sua mulher e a sua felicidade. Mulher essa que agora o protegia, preenchendo as suas fraquezas e entregando-lhe as suas em troca. Mãos essas que agora acompanhavam o movimento dos seus lábios sedentos de amor, que beijavam o seu peito como uma curandeira limpa uma ferida.
Ardentemente fez ela as suas mãos chegarem às maçãs do rosto dele, traçando o percurso inverso ao anteriormente caminhado. Aí, fez o seu corpo deslizar como uma alavanca ao encontro dos seus lábios, tendo as suas costas sido comprimidas contra aquele leito revolto. Envoltos um no outro, os seus corpos acharam-se virados e os seus lábios desagregantemente selados. E, finalmente despida, ela soube que era inseparavelmente, espontaneamente, livremente, verdadeiramente: dele.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Temper Temper.

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Suppress these violent urges.
Rise above it.
Temper temper.

Push down these feelings
Of hate. Rage.
The lust for blood
Under your nails
On your lips.
Burning beauty.

Burn. Of course.
I will cast your damned soul
Into the fires of hell
Then char your worthless shell.
Given half a chance.

Bottled. Clenching down hard.
Hold it in.
Prevent the release.
Naughty naughty.
Go to your room.

Let it turn inwards.
I hurt them
Through my own
Weeping flesh. Satisfy
This lust for blood
Under my nails
On these lips.

Your day will come.
When I break out
Of these iron chains.
Temper Temper. by ~shantottoEars on deviantART 

quinta-feira, 31 de março de 2011

19. Carta a alguém que importuna a tua mente - positiva ou negativamente

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Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.

Não te aproximes mais. Chega.
Afasta-te de mim. Não te quero aqui.
Não te quero!
É assim que penso cada vez que te vejo ou cada vez que me falas.
E não te quero, de facto. Não, de maneira alguma.
Estou cansada de ti. E de mim. E de nós.

Cansada da tua atitude! Cansada das características que activas em ti. Não tens já idade suficiente para perceber que estás a piorar progressivamente? Não tens capacidade de compreensão da tua estupidez?! Serás assim tão estúpido?! Tão ignorante? Tão burro!
Estou realmente farta de ti. Fartei-me de te tentar compreender ou ajudar, quando tu adoptas sempre uma posição da ignorância representar o sumus pontifície e de que tudo o que eu disser é mentira ou irrelevância digna de bofetatada. Cansei-me de te tolerar - e exausto-me só de pensar na ideia de o repetir. É por isso que só o pensamento de ti ou a tua visão me fazer querer degolar-te.
Pegar numa lâmina pesada, grande e afiada e cortar-te o pescoço com todas as forças que tenho. Gastá-las todas em ti. Desfigurar a tua cara. Tornar-te mórbido e, por fim, aniquilar-te. Desfazer-te em pedaços. Pedaços de carne. E, depois, cuspir para cada pedaço teu, espezinhá-lo, esmagá-lo. Transformá-lo em pó. Cinza. E soprar a cinza, inundá-la em água. E, de novo, pisá-la. Atirar-me para cima dela com os pés e gritar que te afastes de mim. Não te quero!
Mas como é que é possível que tu sejas tão estúpido?! Como é que é possível que tu, besta quadrada, animal quadrúpede com um cérebro em decomposição e uma mente apodrecida, não compreendas o quão IDIOTA és, meu duende insignificante?!
Tira daí o determinante possessivo, que não quero pertença de ti! Não quero a tua pessoa envolvida com a minha! Não quero tal imundície!

E pergunto-me ainda: como terás sido capaz de substituir as características que tinhas pelas características que tens?! Como será possível que te tenhas tornado tão monstruoso a meus realistas olhos, quando com os mesmos olhos te via eu doce?
Como terás sido capaz de, depois teres sido gozado por tanta gente, de teres aprendido a saber como dói ser excluído, de teres sido deixado em paz e posteriormente de teres sido aceite por algumas pessoas DEVIDO A MIM!!, excluir os outros, ser arrogante e fútil?
Como serás tu capaz, depois do passado por que passaste, de discriminar os outros e achar-te superior a eles?
Como serás tu capaz de te envergonhar dos outros, quando tu próprio és uma mancha?
Como serás tu capaz de olhar repugnado para o prato dos outros, quando tu próprio és nojento a comer?
Como serás tu capaz de mentir para fazer boa figura, quando te revoltavas por veres os outros mentirem desnecessariamente?
E como serás tu capaz de achar que fazes boa figura, quando todos te acham - principalmente agora! - ridículo?
Não tens qualquer noção de bem ou justiça.
Não contes mais com o meu apoio - porque a amizade já forçaste tu a romper.
Metes-me nojo.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

imperdoável

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Não me vão mais prender. Não me vão mais trapacear ou impedir de fazer o que quiser.

O  Pai Natal este ano não descerá a minha chaminé. Esse badocha não vai tocar as minhas cinzas, farei questão de que isso aconteça!

Perdi o controlo total sobre mim própria. Agora desconheço a inocência por completo.
A leoa ficou demasiado tempo enjaulada. Cuidado! O animal está à solta.


Este ano não obterei perdão.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

o homem dos bolos II

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Em seguimento d'O Homem dos Bolos I


- Só mais um não me fará mal, creio...
Tinha acabado de trincar o biscoito, quando a sua metade  desapareceu da mão. De olhos esbugalhados, Elle não conseguia conter o espanto. Apalpando o sofá em sua volta, nada encontrou, por isso resolveu levantar-se, como se fosse possível para um bolo fugir das mãos e esconder-se debaixo de duas rechonchudas nádegas. Foi então que viu gotas de mel aparecerem em trilho no chão, como se dois pés invisíveis besuntados caminhassem. Olhou para onde se dirigiam. Agachou-se para espreitar debaixo do sofá e, ainda incrédula, comentou:
- Isto é cientificamente inválido. Parece impossível... - sentiu um arrepio, como se a espiassem, mas, não vendo alguém, voltou a espreitar - Devo estar a sonhar...
- Não estás, Williams. - uma voz fria e sarcástica cortou-lhe a respiração - Isto é muito mais real do que parece e, como é do teu conhecimento, as aparências iludem...
Um homem branco como cal pousava atrás de si, com um sorriso vago e um olhar intimidador. Muitas vezes antes, em muitos sonhos anteriores, este homem a tinha assustado, com imagens da própria Elle, ensopada em sangue, tentando desesperadamente acordar outras jovens mulheres, mas em vão: não é conhecido nenhum caso de vítima de estripamento que tenha sobrevivido; esse homem pouco atraente surgia e prometia-lhe ser a próxima. Agora aquele homem estava ali, ou pelo menos aparentava estar: Elle queria certamente destruí-lo, esmagá-lo por absoluto, cuspir-lhe vómito na garganta, pisar a sua cara, arranhar-lhe as bochechas, arrancar-lhe os olhos... mas sentia-o aproximar-se, pelo olfacto, e permanecia estátil, enquanto os seus olhos faziam aumentar o volume daquele homem, assegurando-a de estar próxima do seu fim. Queria fugir... mas como?

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

moribunda

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Na rua há um túnel e nesse túnel há um sofá. O meu tronco sente-se recostado nesse sofá sem fundo. O meu braço esquerdo descansa sobre a minha perna esquerda, pendurada no braço do sofá, enquanto que o meu braço direito, mole, prepara-se para se deslocar do ombro e cair no chão, assim como a minha perna direita, que pousa sobre cimento. Dois olhos escuros absorvem todas as cores e transformam-nas em dor, enquanto que o meu nariz se entope com o meu próprio mau cheiro. Os meus lábios cansaram-se de tentar fechar e a minha garganta espera secar.
- O que aconteceu?
As pessoas são estúpidas, ignorantes, idiotas. Óbvio que o meu cérebro sofreu de sobrecarga e explodiu, deixando-me nesta apatia. Não se preocupem, simplesmente fartei-me da dor e da coragem, do problema e da procura da solução. O meu coração bate lentamente... e eu pergunto-me: para quê continuar?
Vai-te embora, sentimento! Não te quero, felicidade, não suporto ilusões e traições! Simplesmente deixem-me morrer para num canto.
Deixem-me em paz!


 

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

linguagem criminosa

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O que é isto, afinal?!

Engano.

- O que estás aqui a fazer?!
- Vim buscar o meu leitor de música.
- Vai mas é deitar-te...


Bola de neve.

- Que fazes acordada a estas horas?
Vou destruir tudo isto ao auto-destruir-me, mas isso não me importa.
O coração tenta libertar-se da caixa torácica, esse monte de ossos conservadores e repugnantes como um ditador europeu do século XX. Sê livre, rapaz, sê feliz. Não deixes que alguém te pare, que te impeça.
BUM! Acabou-se a inocência com uma explosão do músculo sentimental.

My voice just echoes off these walls...

- Ah! Ah! Ah! Ah! É realmente engraçado.


Mentira.

- Vou só à casa-de-banho.
Pum, pum. Pum, pum. Pum, pum.
- O que é que isto está a fazer aqui ligado a esta hora?!
Oh, por favor, só espero que ele não ligue o monitor. Nervos. Espero que não me chames de amor agora, nem que... Proximidade. Medo.
I'm suffering... abuse... violence... stand it... Formalidade de texto desconhecida:
- É vírus, de certeza. Devo ter desligado isto mal.
Eu tento enganá-lo, mas estou a enganar-me a mim própria. Sei perfeitamente que não o desliguei, mas também perdi o intervalo de tempo entre a minha fuga e o aparecimento daquela sinistra mensagem.
- Não, isto não é um assédio, avô. - semicerro os olhos e sei que isso dar-lhe-ia a entender que estou quase tão perplexa e confusa como ele, se fosse inteligente e observador; mas, no fundo, tenho a certeza de ter de pagar por tudo, por ter começado a enrolá-lo. Já não há o que perder. - E este abuse parece referir-se a maus tratos. Estranho...

Para uma mente bem organizada, a morte é apenas a próxima aventura.

Sombras. Não sei o que se passou a seguir. Morta, pesada, fria. Os olhos esbugalham-se e revoltam-se, abandonando o seu lugar, mantendo-se feios e salientes, deixando o meu rosto em tons de lilás. Psicadélica. Sinto-me suja e isso dá-me prazer. Sou um monstro devorador de sentimentos. Trapaceio a minha sombra e faço malabarismo com corações. Não é algo divertido e agradável?

Death in its most hideous form.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

percurso olfactivo

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Conheço cada traço em ti, cada passo, cada gesto; mas ignoro o teu aroma. Inspiras-me profundamente o ódio e consegues repugnar-me a ponto de não querer chegar perto de ti: conhecer-te com o nariz assusta-me inteiramente, pois não quero quebrar a sólida ilusão feliz em que me encontro.O profundo cheiro de terra molhada, de folhas que escorrem gostas matinais, agrada-me. Ao sair de casa, essa é a primeira sensação que me invade felizmente. O cheiro a mofo dos carros, a fechado, asfixia-me então: é algo de que nunca gostei, pois dá-me sempre vómitos, ao fim de algum tempo. Sinto então o cheiro do cimento, do pó, que me repugna também, mas a procura pela paz interior é em mim incessável, o que me irrequieta.
Quando saio de um corredor sombrio, da morte, intolerável no que toca ao medo, que não se deixa intimidar pela mais corajosa alma, sinto o ar violar as minhas fossas nasais de forma delicada, como um sadomasoquismo. O cheiro do intocado, do ar puro da manhã (aquele cheiro a gelo!) acompanha-me durante algum tempo.
Chamam-me irrequieta quando me vêem, mas isso é porque a única coisa que é constante a partir do momento em que abandono as nuvens, passando a fazer do céu um conjunto de andares de betão, areia e tijolos, é a minha saudade do cheiro da manhã! A partir daí, tudo me sufoca numa tentativa esmagadora de me fazer sangrar, mas nenhum olfacto é agora igual: giz, suor, urina, excrementos, caspa, pó, mofo... não há um aroma que se repita: a única coisa que, de facto, se repete é o incómodo que a tua presença me traz, transformando as mais perfumadas flores em todos os diferentes tipos de odores de escumalha, numa ordem aleatória.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

abusar de mim, possuir-te inteiramente

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Tens uma maneira confusa de agir. Nunca dás a entender a tua verdadeira intenção, na tua maior pureza oculta. O teu olhar profundo esconde uma imensidão de vontades sem intenção, que em mim se infiltram de forma tão simultânea que nem eu chego a perceber se eu própria te quero ou não.
Vais e vens: crias autonomamente esperanças que tu próprio destróis no momento. É então que deixas a tua indecisão e a tua confusão deixarem o tempo passar, para depois o pararem para mim no momento certo. Aí, voltas a deixar que os teus desejos voltem a influenciar-me, provocando na minha fria e apática alma uma chama que queima todo o ar que tente rodear-nos. Já deixei que a minha solidão protegesse a minha felicidade com um escudo, desmotivando a tua; mas desculpaste-te por dares a entender algo que não é real. Aí, minto ao meu espelho, fazendo todos saber que entre nós nada alguma vez existiu.
Não percebo agora por que me mentes. O que queres de mim, afinal? Vais abusar de mim ou não? Decide-te. Não podes deixar que o medo empírico influencie as tuas acções, não sabes como reagirei agora.
Experimentas, uma vez mais, ver o que tenho guardado e a minha fraca resistência incendeia-me lentamente. É disso que tens medo?
Sabes que me pões insana, com tantos raios esperançosos, assoladores, e ondas gigantes de cobardia; mas não acredito que o faças intencionalmente. Podes ter pecado e arrasado outros demónios com tanta diversão e luxúria, mas, desta vez, é a tua inocência que me devassa. É a tua inocência que eu quero contaminar, não quero fazer algo já habitual. Eu vou inovar: vou destruir o teu medo ingénuo, medo esse que me incomoda, por me agradar e provocar tanto. A tua pureza é ignorada frequentemente, mas em mim ela possui um efeito angelical, tentador. Não há algo tão genuíno que me tenha cativado tanto anteriormente.
Eu sou o demónio do teu futuro. Sou a dor do teu desejo, sou a consequência da tua confusão.

Dá-me o prazer de te possuir inteiramente. Beija-me, de uma vez por todas.