quarta-feira, 13 de abril de 2011

o simbolismo da cadeira

As palmas entoavam todo o recinto e comprimiam a sua sensibilidade. E todos pulavam das suas cadeiras:
- Bravo! Bravo!
E todos exclamavam a revolução cultural e apoiavam o novo movimento psicológico, alegando um futuro desenvolvimento económico. O ilustre apertava a gravata e limpava o suor da testa, sorrindo, agradecendo, mas com um ar sempre muito sóbrio, muito inchado, como se nem mesmo os louvores lhe tocassem a emoção.
- Meus senhores e minhas senhoras! Peço-vos a vossa atenção...
Mas Pedro já não escutava. A agonia que lhe causava aquela rotina hipócrita de apoio romântico e fatalismo final fazia com que as palmas continuassem a ecoar dentro da sua mente, sem que lhe fosse possível reunir esforços para se concentrar, abdicando cada vez mais do livre-arbítrio que tem face ao que tudo indica. E as palavras de seu pai da sua memória não se apagavam, fixadas no hipotálamo, desde o momento em que lhe penetrou as entranhas visuais, impedindo-o, com as mãos, de escapar daquele confronto:
- Primeiro, tens de ser suficientemente tolerante para que possas compreender todos os pontos de vista. Apenas enfim podes emitir um juízo e não te ficar por aí.
Uma cadeira ouviu-se atirar. Despedaça contra a parede, toda a esperança parecia reunir-se ali, daquela forma, naqueles pedaços de madeira tão aparentemente inúteis, desfeitos.
E subitamente o sorriso que seu pai lhe havia dado fora por Pedro compreendido.

Violation Hidden: Caveiras, o rock, e é.

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