Quero-te aqui, de novo. A meu lado.
Quero voltar a achar estranho que alguém me dê o abraço de que fujo nos momentos em que menos quero quebrar.
Pareces adivinhar sempre quais são as manhãs em que basta uma gota para me desfazer em lágrimas.
E adoro a ingenuidade com que me fazes bem. Adoro o teu espanto acanhado quando me abraças e sentes os meus braços apertarem-te contra mim com força, quando me sentes amachucar a tua camisola com as minhas mãos e enterrar a cabeça nos teus ombros. Gosto, sobretudo, da forma como ficas preocupado por sentires o teu ombro a molhar-se e os teus ouvidos detectam pequenos soluços, e como te recusas a ir embora, por mais que eu te repila, para que não sejas prejudicado por irresponsabilidade. Esqueço-me eu, crês tu, que a maior irresponsabilidade seria deixar-me ir embora naquele estado. E, por isso, te agradeço. Agradeço-te pela fidelidade que me tens disposto e por, apesar de seres, entre os meus amigos mais próximos, dos que mais obstáculos tem para falar comigo, te esforçares em manter uma amizade e por cultivares por mim de maneira tão, pelo menos aparentemente, espontânea e natural um sentimento de afecto, companheirismo e respeito, como se, independentemente do tempo que passamos afastados (embora tão perto!) um do outro e, ao mesmo tempo, em constante convívio com outras pessoas, esse movimento e toda essa agitação não afectassem minimamente a tua amizade, pois parece sempre que nunca te sentiste mais afastado de mim por causa disso.
- Pedro! Cármen! O que estão a fazer?!
- A... abraçar-mo-nos? Só isso.
- Vocês namoram?
- O quê?! Não... Não!
Mas não é só isso. É mais do que um abraço. É uma provável eternidade de irmandade.
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Agradeço-te, em suma, pelo amigo que és.
E, é engraçado, não foi preciso perder-te para reconhecer que bom ter-te a meu lado é.
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