sábado, 13 de agosto de 2011

1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (II)

Conteúdo para Adultos


Em seguimento de 1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (I).

Baixou os olhos e esforçou-se por ignorar a forma calorosa com que ele a recebia, fingindo que não conseguia sentir os seus olhos fitarem-na encantados e o seu sorriso aguardar que ela se entregasse, pelo que tentou concentrar-se no mesmo que os outros queriam dele: ajuda académica. Ele, tendo caído em si, levantou-se num salto, apoiou o braço esquerdo por cima dos ombros dela e o direito sobre a folha que ela lhe mostrava.
Sentiu imediatamente um fogo nascer dentro de si e queimá-la por dentro, alastrando-se até às pontas dos dedos. Esta proximidade tinha quebrado o gelo em que se tinha deixado ficar, por frustração, por ciúme, por angústia. Ergueu o rosto na sua direção e olhou-o nos olhos, procurando mostrar que o seu gesto a tinha sensibilizado e que não iria resistir. Não obstante, não encontrou o seu sentimento retribuído. Perscrutando o seu rosto, não encontrou um traço de emoção ou afetividade; pelo contrário: agora portava uma expressão de profunda concentração e determinação pela conclusão da tarefa.
- Acho mesmo que vou eliminar este trabalho... - principiou ele, endireitando-se e massajando a face macia do gel usado para fazer a barba. Voltou a curvar-se, pegou na caneta e riscou a lista de alunos com aquele trabalho. - Esquece o projeto final. Não o façam, não vale a pena.
A sua não adesão foi bastante para que ela se indignasse. Via-a chateada e após a fazer amolecer-se consigo ignorava-a?
Bufou com o nariz, num sorriso irónico, e virou a cara para o lado. Fechou a boca e, no mesmo ar ligeiramente irritado, e lambeu os incisivos superiores.
- O professor é realmente um homem indeciso, não é? - disse-lho, antes de se voltar para ele e esboçar um novo sorriso irónico, com os lábios entreabertos, a sobrancelha esquerda erguida e os olhos semicerrados.
Ele, debruçado sobre a mesa e ainda fixando os papéis, bufou igualmente com o nariz, sorriu e moveu a mandíbula inferior para os lados, compreendendo. Virou a cara, encarando-a e ofereceu-lhe um sorriso céptico de lábios igualmente entreabertos, como se tivesse dificuldade em acreditar em ter ouvido aquilo dela.
Ela, por sua vez, ergueu ambas as sobrancelhas e, mantendo os olhos semicerrados, inclinou a cabeça, num gesto céptico de espanto:
- Que é?
Ele continuou a mirá-la com aquela expressão facial provocadora. É que por mim levava-te para outro sítio agora, pensou. Clicou na extremidade da caneta para a fechar, levantou-se, retirou o braço de cima dela, virou-se de costas e dirigiu-se à mesa onde tinha a sua pasta, o seu estojo e os seus livros desarrumados. Por um lado, queria muito concretizar aqueles sonhos que ela havia cultivado nele ingénua e despropositadamente; não podia, no entanto, deixar de se controlar, para o bem de todos. Mas ela não parecia importar-se com isso e parecia persistir em ficar no seu pensamento durante horas, fazendo-o querer voltar a ser um jovem sem preocupações.

Continuação em 1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (III).

5 comentários:

Anónimo disse...

Tens muita razão no que dizes. Penso tanto que sou eu e que tenho de ser eu e às vezes tenho este tipo de atitudes covardes. Obrigada :D

Sílvia disse...

"É que por mim levava-te para outro sítio agora" xD Phew... Só um pormenor: ali no texto, em vez de aderência não será adesão?(ou então se calhar estou a perceber mal o uso da palavra...)

Anónimo disse...

Victória J. Esseker: Não penso que seja cobardia... a pressão que te é exercida é muita, a probabilidade de seres influenciada é enorme... acho que é mais uma questão de esperança. Talvez por a pressão ser tão grande e veres tantas pessoas a cederem aches que não consegues resistir também.

S.: Tens toda a razão. Shame on me.
E eu SABIA!! Eu sabiaaaa! Ok, apenas acreditava, porque saber nunca se sabe. Mas eu já esperava que esse detalhe fosse particularmente agradável para ti. xD Até cheguei a comentar com o Heiser que achava que irias citá-lo algures! 8D

Sílvia disse...

Tudo o que tem um lado "naughty" é agradável para mim, qual é a dúvida? :P

Anónimo disse...

S.: Nenhuma, por isso é que apostei tão alto. :)) Eu não costumo arriscar em hipóteses que não me oferecem confiança. ;)