terça-feira, 13 de julho de 2010

a guerreira e o seu escudo


É fantástico ter um amigo. Um melhor amigo fica a nosso lado para sempre, ajudando-nos em todas as situações! Mentira.
Lembro-me de que, ainda há pouco tempo, não passavas tanto tempo comigo como com os outros. É claro que é muito mais divertido estar com pessoal animado do que com alguém triste. Talvez te tenhas esquecido de que eu não era triste, eu estava triste. Mas no fundo era a mim que idolatravas. Estranho...
Tu eras o meu herói. O homem que tinha crescido comigo (e que me tinha feito crescer!), aquele que assistiu às minhas maiores infantilidades, sendo assistido por mim também às suas. Tínhamos uma grande relação, há que admiti-lo. Simplesmente o tempo nos foi afastando... e quando chegou a hora do adeus, talvez te tenha magoado o facto de todos terem chorado, excepto eu. Talvez não tenhas entendido que sou verdadeira e que, embora popular, não sou exibicionista. A verdade é que por ti nunca nenhum amigo tinha chorado tanto como eu, pelo menos até àquele momento. E tu não o vias... mas sentia-lo, e o que se sente é mais profundo do que o que apenas se vê.
Lembro-me, também, de tudo o que fizeste por mim. Embora tenhas passado grande parte do teu tempo com os outros, sei que nunca os gozaste por determinadas acções, pelo motivo de não te preocupares com eles: o teu erro baseou-se numa má escolha do meio para atingir o teu fim, pois não sabias o quão destrutível o meu escudo é, e há que admitir que os teus argumentos não são os melhores. Tenho a certeza de ter sido isso e nada mais, pois ninguém me provocaria sem ser para causar uma reacção diferente em mim e magoa fisicamente alguém que me havia ligeiramente perturbado, nem muito menos abdica de todo o seu ouro, sendo este o seu bem material mais precioso, sem considerar que sou muito mais valiosa do que esse tipo de matéria.
Outra prova de afecto foi a tua visita, depois do adeus físico, a casa. Voltaste para nos ver a todos, e todos os que te viram mostraram entusiasmo por te ver: histeria até, talvez. Eu não me manifestei: permaneci, calma, no meio dos que te rodeavam, sem dizer uma palavra. Talvez tenham todos percebido da diferença que fazia entre eu estar ali e não estar, porque, por momentos, todos se afastaram e fez-se silêncio: foi então que, distraído, olhaste e não viste o coração que ainda respirava, entre rasgões e cicatrizes, à tua frente. Quando os teus olhos acordaram, um arrepio de surpresa te refrescou a vivacidade e senti um abraço caloroso confortar-me, envolvendo-me em terapias e curas imediatas. Ninguém ousou intervir nesse momento esplendoroso. Nem eu ousei deixar de me comover.
- Por que te queres afastar? Eu sei manter relações à distância.
- Eu não, embora lamente por isso.
Hoje, vejo-te como uma das pessoas que maior contributo teve na minha vida: és, de facto, memorável, embora nem sempre tenhas feito as melhores escolhas para ti e os que te envolvem; e hoje sei também que não é preciso fazer um grande esforço para continuarmos no pensamento de alguém, pois o sentimento que uma vez for especial, sê-lo-á para sempre.
- Tu já não confias em mim, Cármen: não te entendo.
No fundo, entendes-me melhor do que muitos, e sabes que a confiança que me faltou foi na vida, na minha própria pessoa: não em ti.
Talvez eu seja, de facto, triste; e quando um aperto assim tão forte me envolve, sei que te perdi... para sempre.

1 comentário:

Sílvia disse...

Um texto sincero e profundo.
Adorei!