Em seguimento de masoquismo ou culto próprio?.
Olá, professor.
Talvez ache estranhas as palavras que escrevo, ou
melhor: o facto de as escrever. Ou talvez mesmo até não, devido à sua
capacidade para compreender as pessoas, por mais reservadas que sejam.
Não
é meu intuito mostrar aqui os meus "dotes" literários, apenas
considerei importante que tenha (re)conhecimento de algumas coisas.
Algumas pessoas merecem-no e o professor é, de facto, uma delas.
É-o
porque conseguiu ser mais do que um professor: conseguiu ser um bom
amigo. Bom, porque conseguiu fazer-nos "acordar" para fatores
importantes que muitos de nós ignorava inconscientemente, e amigo
porque se preocupou connosco e insistiu em fazê-lo, não tendo sido
obrigado a tal.
Hoje, quase dois anos depois de ter sido lecionada
por si, vejo várias diferenças - não só em mim própria como também nos
restantes membros da turma. Parece-me quase incrível que pessoas outrora
tão fúteis, despreocupadas com os problemas que os envolvem,
sentimentais, muito influenciáveis e interesseiras (no sentido egoísta
da palavra) se mostrem hoje indignadas com a futilidade e a
despreocupação dos outros e, recusando-se a aceitar o que não acham
correto e reivindicando os direitos que têm, lutem contra o
desrespeito. Se, por um lado, é verdade que os adolescentes estão em
constante mutação e por isso não é tão surpreendente quanto isso que
evoluam, por outro lado, não é muito comum que um adolescente evolua
tanto em tão pouco tempo. Mais verdade do que isto é que, apesar de
terem sido condicionados por vários fatores, quer internos quer
externos, eles foram imensamente condicionados por si. Por isso, se hoje
são tão conscientes (sendo isso algo extremamente importante), devem-no
imensamente a si, estando-lhe muito gratos, como já o declararam (não
tanto com o seu conhecimento, tanto quanto sei) várias vezes.
Bem,
parece que falo deles como se eu já estivesse muito bem e eles é que
estavam mal e ficaram bem... Não. Mas isso talvez também o professor
já saiba... embora me tenha espantado como é que um professor de
Filosofia me dá aulas durante mais dum ano e fica surpreendido por saber
que a minha ambição... digamos, mais material é ser professora da mesma
disciplina, um dia. Aliás! O que me espanta mesmo mais é que fique
surpreendido por eu sequer gostar de filosofia! Eu sempre achei que isso
era algo um pouco óbvio e... creio que qualquer outro professor meu
não duvidasse disso. Até o meu professor de LP do 9.º me dizia já que eu
iria ser professora de LP ou de Filosofia, nunca me tendo ouvido nem
lido propriamente a filosofar... Mas estou a desviar-me imenso do
assunto. O que eu queria dizer é que me sinto na obrigação de lhe
agradecer pelo impacto que teve em mim. Por mais que o professor diga
que não tenho de agradecer por coisa alguma, eu acredito que tenho. Não é
de menosprezar o ato de alguém insistir tanto em querer ajudar-me (não
só academicamente, como também com os problemas familiares e enquanto
pessoa) ao ponto de exigir, pelo menos aparentemente, que eu tome
atitudes, ainda por cima quando isso são problemáticas que não lhe dizem
respeito. Tudo em troca de quê? Bem, a mim parece-me que apenas o facto
de saber que contribuiu para o progresso positivo de algo o satisfaz, o
que é mais louvável ainda, por agir sem esperar ser recompensado de outra
forma. Nem eu imaginei vez alguma que conviver com alguém pudesse ser
tão benéfico nem que conseguisse eu evoluir tanto num espaço de tempo
tão curto, de tal modo a que até que pessoas que me estimam mas que não o
conhecem queiram agradecer-lhe e simpatizem consigo, pelo bem que me
fez, como é o caso duma íntima minha, a Diana, que frequentemente me
pede para lhe mandar cumprimentos e que agora lhe deseja o melhor.
Um
homem com um impacto tão profundo e tão positivo é mesmo muito
louvável, a meu ver. E é por isto que o admiro tanto. Admiro-o, aliás,
não apenas por estas particularidades, mas por estas se conjugarem com
outras tantas que mostrou ser, como é o caso da coragem, da sinceridade,
da justiça e da autonomia. Não é qualquer um que toma as decisões que o
professor já tomou anteriormente e da forma como as tomou - e mesmo que
fosse! Não deixaria de ser louvável por isso. E, quando falo da forma
como as tomou, falo de deliberação. As ações justas são mais belas
quando são deliberadas, a meu ver, devido à liberdade a que o sujeito se
submete durante a deliberação e pela certeza que isso confere à decisão
final. Mas não me adiante talvez por aí, não é esse o meu intuito
principal.
Pela pessoa que é, pelas ações que fez e pela forma
como as fez, o professor merece mesmo muito que o futuro lhe corra pelo
melhor, na minha opinião, que tem vindo a exprimir, ao longo desta carta, o que penso sinceramente. Desejo-lhe, para já, que consiga
concluir a tão trabalhosa tese e que ter-nos deixado tenha valido, de
facto, a pena (é um pouco contraditório que eu deseje tanto que consiga
fazer isso e depois lhe envie um e-mail tão extenso, mas... enfim),
porque se há alguém que mereça reconhecimento pelo seu empenho e pela
sua dedicação não só às pessoas como também ao trabalho, essa pessoa é
certamente o professor.
Assim, despeço-me, desejando-lhe, uma vez
mais, que tudo que lhe corra pelo melhor e que consiga realizar todos os
seus objetivos, que acredito que sejam justos e honestos. Desejo ainda
que, um dia, nos reencontremos e que nessa altura já tenha deixado de
fumar. Talvez sejamos colegas, um dia.
Respeitosamente,
a ex-aluna que o considerava excêntrico nos primeiros meses em que teve aulas consigo.
2 comentários:
Excelente homenagem... Quem trabalha bem e com amor pelo que faz, merece o maior reconhecimento possível. ;)
H. Santos: É verdade. E este senhor deu tanto de si na tarefa de amadurecer os seus alunos... e torná-los em futuros bons cidadãos. É exemplar.
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