A luz irradiava através de nuvens rasgadas que brincavam com a intensa vastidão de azul pintado em tela plana - plana, para quem não se conseguia aperceber da dimensão do azul cien.
Anabela achava-se perdida naqueles fragmentos de vento, deixando-se fundir com o ouro elegantemente subtil das serpentes vegetais que lhe faziam companhia naquele tenro momento intemporal.
Intemporal era a sua noção, após tanto deleite imaterial naquele manto suave de cores naturais e contactos físicos imaculados.
O seu cabelo confundia-se com os fios cerealíferos da esplanada do seu ser e brincava com eles quando o ar se apressava a invadi-los fresca e suavemente, esvoaçando acima deles, oferecendo-se como cordas de uma harpa muda.
Os seus pés pálidos escondiam-se, tímidos e hesitantes em aderir às ternuras radiantes do vento infantil. A maturidade estável das raízes roucas de sentir confundia-se com o seu corpo imutável e a força da vida infiltrava-se pelas pernas acima, acedendo-as através daqueles pés tão pálidos, tão introspetivos.
Ignorando esse tabu a que os citadinos chamam tempo, Anabela perguntou-se se seria a falta da música dos prados silenciosos e dos seus refrescantes segredos nos ouvidos tolerantes a causa de tanta desarmonia e tanta pressa.
Não obtendo resposta, deixou-se tombar de costas, impressionada pela qualidade sensorial que conseguia obter, enquanto flores lhe abraçavam o rosto, tão singelas e delicadas, tão carinhosas e calmas; e não pôde deixar de reparar que as manchas de branco naquela tela azul que na sua frente se abatia só podiam ter sido pintadas por um verdadeiro artista.
11 comentários:
tá fixe, tiraste isto de algum lado? ( digo isso por teres nomeado uma personagem e nao acho que seja teu costume fazer isso.lol)
Riga/V-1-Boy: Ah, não... Se não citava. :)
Eu achei que se colocasse um nome à personagem que ficaria mais organizado e, quiçá, original e mais belo... Foi uma ideia que tive na noite de anteontem, enquanto estava deitada de barriga para cima na cama. Peguei no meu caderno de rascunhos e apontamentos, num lápis e, à luz do telemóvel, escrevi.
Olá! :D Eu bem digo que quando venho ao teu blog tenho uma boa surpresa! Adoro a forma como escreves e realmente achei estranho teres usado um nome mas é sempre bom mudar! :P Amei o teu texto e acho que tens uma capacidade fenomenal de escrever! Já agora, no meu blog, Over my Dead Body, antigo In the Mourning, tens lá um selo para ti! :D Espero que gostes! um beijinho! :*
Hayley Nya*: Isto são muitos mimos para uma só pessoa. :D
haha Se não merecesses eu não to oferecia! :D
Tu já sabes que eu gosto do que escreves mas não gosto de deixar comentários só como "gosto" ou coisas do género, parecem-me tão vagos xD
Por acaso, isto é algum projeto? Como referiste um nome fiquei curiosa xD
Hayley Nya*: Bem, tu obrigas-me mesmo a agradecer, com modéstias à parte. Obrigada. :)
Victória J. Esseker: Eu também não gosto muito de comentários assim, parecem-me palha. Além disso, quando me dizem, por exemplo, só "gosto" eu fico naquela "ok. e agora?". É que quando o fazem não estão necessariamente a dizer que escrevo bem, mas sim apenas a expor as suas preferências...
Não, pelo menos neste momento não tenho essa intenção... eu tenho dificuldade em fazer projetos grandes, acabo por me aborrecer. Gosto mais de fazer muitas coisas curtas e intensas.
Cármen: Ora nem mais, e muitas vezes esses comments são só para divulgar o proprio blog da pessoa. O que irrita porque uma pessoa tem um blog porque gosta e não por causa do numero dos seguidores, ou pelo menos é assim que eu penso.
Victória J. Esseker: Eu não me importo que divulguem os seus blogues, mas também não adiro a fama forçada.
Incrível sua sensibilidade e habilidade em escrever lindamente bem! Realmente quando leio alguma postagem sua, consigo viajar e parece que estou dentro da sua narrativa! Parabéns!!!
Lorena: Ora, muito obrigada... Assim até fico sem jeito. :D
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