Em seguimento de Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (II).
Arrumava os livros dentro da mala quando suspirou, tentando libertar o sufoco de emoções que o envolviam:
- Tu dás-me cabo do juízo, rapariga! - disse, com um sorriso jovial na cara, na esperança de que aquele dilema que o atormentava se fosse embora e de que ela não o interrogasse mais, chegando-lhe aquelas palavras para que ela não persistisse em martelar as suas têmporas com todo aquele sentimento que ele desejava mas não queria.
Ela não compreendia. Não conseguia compreender. Ele ora se mostrava desejoso de reconcilio, ora se mostrava receoso do que o esperava - mas não dispunha de um receio de quem está amedrontado e, no fundo, deseja que lhe peguem na mão e mostrem que o caminho é seguro, não: ele dispunha um receio de quem reprime a muito custo e muito deliberadamente as suas emoções, de quem pretende findar aquilo. No entardecer daquele sol quente de verão, ela não compreendia porquê tanta oscilação. Amor impossível? Não, não era. Nenhum amor era impossível, apenas mais ou menos difícil.
Olhou para o horizonte, o sobrolho franzido, o rosto tenso carregado de um orgulho que a ele lhe lembrava um herói a enfrentar psicologicamente um combate que tem pela frente, qual William Wallace; e, embora fosse o seu guerreirismo uma das características que mais o requintassem, naquele momento a sua expressão era visivelmente preocupada, por saber que aquela força era uma defesa contra o provável sofrimento de que ele era responsável. E, numa vontade de a abraçar e lhe pedir perdão, viu-a principiar um adeus:
- Já se faz tarde - desculpou-se, elevando o braço esquerdo ao nível do peito para ver as horas. A sua expressão seguinte, no entanto, foi a de gesticular as sobrancelhas com ar sóbrio e inclinar a cabeça, como quem reconhece um problema a resolver sem saber bem como: - E nisto já perdi o transporte para casa.
- Bem... eu até te levava, mas eu não conheço esta zona aqui...
- Pois, eu sei.
- ...A menos que tu me saibas indicar o caminho.
- Não, deixe estar - respondeu, determinada a pôr um ponto final naquela história. - Eu desenrasco-me.
Continuação em 1. Carta ao/à teu/tua melhor amigo/amiga (IV).
2 comentários:
Linda história. Adorei o fim! :D
"No entardecer daquele sol quente de verão, ela não compreendia porquê tanta oscilação. Amor impossível? Não, não era. Nenhum amor era impossível, apenas mais ou menos difícil."
Tenho que te dizer, esta parte foi das melhores que já li ultimamente! Adoro a tua escrita. :D
I am the Mastermind: Presumo, então, que tenhas gostado da prenda. :D
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