quinta-feira, 13 de outubro de 2011

"Mais do que maquinaria, nós precisamos de humanidade."



-- O ditador de Tomania, o conquistador de Osterlich, o futuro imperador do mundo!

-- O senhor tem de falar.
-- Eu não consigo!
-- O senhor tem. É a nossa única esperança.

-- Perdoem-me, mas eu não quero ser um imperador. Esse não é o meu ofício.
«Eu não quero governar ou conquistar quem quer que seja. Eu gostaria de ajudar todos se possível: judeus, não judeus, homens negros e brancos. Todos nós queremos ajudar-nos uns aos outros. O ser humano é assim: nós queremos viver da felicidade dos outros, não da angústia dos outros. Não nos queremos odiar e desprezar uns aos outros.
«Neste mundo há espaço para todos e a boa Terra é rica e pode alimentar todas as pessoas. O estilo de vida poderia ser livre e lindo, mas nós perdemo-nos no caminho. A ganância envenenou as almas dos homens, construiu no mundo uma barreira de ódio, guiou-nos para o caminho da angústia e do derramamento de sangue.
«Desenvolvemos a velocidade, mas prendemo-nos a nós próprios. A maquinaria que nos dá abundância deixou-nos na necessidade. O nosso conhecimento tornou-nos cínicos, a nossa inteligência tornou-nos duros e cruéis. Pensamos demasiado e sentimos muito pouco. Mais do que maquinaria, nós precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, nós precisamos de carinho e bondade. Sem essas qualidades a vida será violenta e tudo será perdido.
«O avião e a rádio aproximou-nos, mas a natureza destas invenções grita em desespero pela bondade do Homem -- grita pela irmandade universal e a unidade de todos nós -- mesmo agora, que a minha voz está a alcançar milhões no mundo, milhões de homens desesperados, mulheres e crianças pequenas, vítimas de um sistema que faz os homens torturar e aprisionar pessoas inocentes.
«Para aqueles que me conseguem ouvir, eu digo: não desesperem! A miséria que está entre nós é a passagem da ganância, a amargura dos homens que receiam a forma do progresso humano. O ódio dos homens passará e os ditadores morrerão -- e o poder que eles retiraram às pessoas voltará para as pessoas -- e enquanto os homens morrem, a liberdade nunca perecerá.
«Soldados, não dêem as vossas almas a brutos: homens que vos desprezam e vos escravizam; que regem as vossas vidas e vos dizem o que fazer, o que pensar, o que sentir; que vos exercitam, vos alimentam mal, vos tratam como rebanho, vos usam como forragem de canhão! Não se entreguem a estes homens artificiais -- homens-máquina, com mentes-máquina e corações-máquina! Vocês não são máquinas! Vocês não são rebanho! Vocês são homens! Vocês têm o amor da humanidade nos vossos corações. Vocês não odeiam: só os que não são amados odeiam -- os não amados e os artificiais. Soldados, não lutem pela escravidão: lutem pela liberdade!
«No décimo sétimo capítulo de S. Lucas está escrito: o reino de Deus está dentro dos homens -- não de um homem, nem de um grupo de homens, mas em todos os homens: vocês! Vocês, o povo, têm o poder -- o poder de criar máquinas, o poder de criar felicidade! Vocês, o povo, têm o poder de fazer esta vida livre e linda, de fazer desta vida uma aventura maravilhosa! Então, em nome da democracia, vamos usar esse poder, vamos todos unir-nos! Vamos lutar por um novo mundo -- um mundo decente, que vai dar aos homens uma oportunidade de trabalhar, que vai dar aos jovens um futuro e aos idosos uma segurança! Prometendo estas coisas, os brutos alcançaram o poder, mas eles mentiram: eles nunca cumpriram a sua promessa, eles nunca o farão! Os ditadores libertam-se a si próprios, mas escravizam as pessoas! Agora vamos lutar por alcançar essa promessa, vamos lutar para libertar o mundo, para acabar com as barreiras nacionais, para acabar com a ganância, com o ódio e a intolerância! Vamos lutar por um mundo de razão -- um mundo onde a ciência e o progresso nos levarão à felicidade de todos!
«Soldados, em nome da democracia, vamos todos unir-nos!
O Grande Ditador, Charles Chaplin, 1940

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