Como reparar algo que se quebra dentro de nós? Como lavrar um futuro que depende de um agora fragmentado? Como... não ter vergonha de, repentinamente, uma partícula em mim ter desintegrado tudo o que sabia? É como querer segurar areia seca, agora indiferente ao meu esforço. Corro, para onde? Quem me irá amparar quando eu chegar aonde não sei que vou, aonde não quero ir? Eu não quero ir. Mas não sei ficar.
Quem sou eu, que nenhum lago limpa? E, afinal, o que sujou? Sujei? Sujaram-me? Poderia ter-me tê-lo evitado, sem me evitar a mim?
E, afinal, o que se desintegrou, de que matéria é feito? Que é feito de mim?
Fico-me sempre assim, não ficando; querendo, não desejando. E quando desejo, não quero, não me aguento.
Quem é aquela que aquilo fez? Onde está a dignidade dessa pessoa, que eu não poderia ter sido? Como amei tanto, se de facto morreu? E agora, sei amar? Com certeza que não, se nem a mim o faço. A mim muito menos. Porque não me conheço. Só me represento, fundamentada em memórias de mim própria.
E se for fiel, perderei tudo? Ou não quererei nada? E de que importam as perdas e os ganhos, quando nada sinto, de tanto sentir? Importam, pois.
A solidão chama-me, uma vez mais. Serei corajosa?